segunda-feira, outubro 24, 2005
O PENSAMENTO NOTURNO E O PROGRAMA DE TV
Esse é um texto que deveria ser postado há pelo menos 3 semanas, mas já que havia perdido a segunda parte dele, tive que tomar inspiração pra reescrevê-lo, e por isso q levou tempo. Se a inspiração não vem, não adianta teimar...
Esse sábado à noite, sozinho na minha cama antes de dormir, fiquei pensativo de uma forma que não estive antes. Pensei mais a fundo sobre a perda da minha perna e as futuras implicações. Pode parecer estranho, mas parece que eu não havia pensado nisso por simples e pura falta de tempo. Digo isso porque desde o meu acidente, minha mente manteve-se ocupada sempre com algo: no início a regra foi "pensar em tudo, menos nisso"; logo depois passei a pensar em como sair do Miguel Couto e entrar no HTO. Mais recentemente fiquei naquela tensão e angústia pré-operatória que todos vocês já devem ter idéia... Passado o susto e já descansado mentalmente, sobrou pra essa noite de sábado eu começar a refletir com mais cuidado sobre meus futuros passos nesse mundo.
Fiquei naquele momento na crueldade que é estar fadado a passar o resto dos meus dias sem poder sentir de forma lógica meu joelho direito ao me ajoelhar e apoiar nele, minha canela ao tomar uma porrada qualquer, meu pé mesmo, ao sentir o gelado fresco das águas de um rio ou a sensação boa de pisar num tapete gostoso...
Muito cruel pra mim pensar nessa eternidade, ainda mais eu que sempre tive aversão à essa sensação de perpetuidade. Costumo dizer que "o pra sempre é muito tempo", e por isso não sei se estou preparado pra viver sob tal sina. Fiquei calculando quanto tempo deve levar em média para a minha morte, pra eu finalmente me reencontrar com a minha perna e poder sentí-la novamente. Me baseando numa média otimista de 75 anos, conclui que ainda devem levar uns 50 anos pra acontecer esse grande reencontro, simplesmente O DOBRO do meu tempo aqui na Terra... Será que vou agüentar tudo isso? Achei tempo demais.
Passei então a pensar em alguma alternativa pra resolver, mesmo que paliativamente, esse problema em vida, e não esperar a morte pra então, sentir a tão desejada liberdade do corpo novamente.
Fiquei pensando no progresso da ciência para poder pensar num melhor amanhã. No que eu mais aposto minhas fichas no momento são as células-tronco, mas seu conhecimento ainda está muito inicial, portanto creio que ainda vá levar uma década ou duas pra podermos ver um real alcance do poder dessas células. Me lembrei também da lagartixa, assim como outros répteis que têm o poder de regenerar partes perdidas... bem que podiam estudar mais a fundo como e por quêacontece esse fenômeno...
E assim adormeci, na esperança de que o futuro me traga uma boa notícia...
...
Domingo à noite, vendo o Fantástico enquanto espero Fernanda e Ana aparecerem aqui, vejo uma matéria bem intrigante sobre um transplante de rosto que eles vão tentar fazer em breve, e nessa reportagem eles abordaram uma possibilidade de rejeição psicológica da parte pelo transplantado. Nessa hora eles mostraram uma historia que ocorreu há mais ou menos um ano, mas que eu não havia me lembrado: já houve uma experiência bem sucedida em implantar uma parte de antebraço em um homem amputado. O curioso foi que, mesmo essa experiência tendo sido um sucesso, o dono da mão nova não gostou dela a ponto de pedir para amputá-la e deixar como estava antes... Louco? Não... cada um tem suas razões e que fogem até mesmo a Razão. A começar que ao ver essa mão transplantada já notei que era mais clara que o resto do corpo, depois, pensem vocês, a mão veio de um cadáver, mesmo sendo para o bem dele, ele também tem o direito de sentir uma certa repulsa. Aliem a isso o fato de o tamanho dos dedos da nova mão serem diferentes...estranho, né? Mas acontece. Apesar de não ter havido rejeição biológica, houve rejeição psicológica, o que pode ser ainda mais grave...
Com a chegada de minhas amigas, começamos a divagar sobre tudo isso, recorrendo às possibilidades das células tronco e dos transplantes. O mais intrigante sem dúvida foi a possibilidade dos transplantes, já que deveria ser uma série de sortes consecutivas... A começar por vir a falecer uma pessoa (nossa, pega até mal considerar o óbito de uma pessoa sorte, mas eu espero que vocês tenham entendido o sentido) que tenha a mesma estatura (portanto o mesmo tamanho de perna), o mesmo tom de pele, a mesma compleição de pêlos e também o mesmo número de pé. Ou haveria eu de, a partir de então, comprar um tênis esquerdo número 44 e um direito tamanho 40??? Depois dessa enorme coincidência, ainda haveria de meu corpo superar qualquer tipo de rejeição e então entrar em harmonia a parte de vasos sanguíneos, óssea, muscular e nervosa. Muita sorte acumulada? Sem duvida, mas o que tiver que ser SERÁ!
Fui dormir um pouco mais esperançoso que no dia anterior, imaginando algo mais concreto que apenas a boa intenção dos pesquisadores. Se já chegamos à esse ponto, creio que, apesar de não ainda tão próximos da solução, ao menos estamos na direção certa.
Postado por
Antonio Bordallo
às 6:15 PM
0 já escreveram
