aproveitando a segunda chance

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quarta-feira, novembro 29, 2006


A Debandada dos Parafusos


Essa crônica, apesar de não tão bem escrita, acredito ser uma das mais importantes e sem dúvida mais esperadas por muitas pessoas. Contarei nela como ocorreu toda história em torno da aguardada retirada definitiva do fixador da minha perna.

Noite de quinta-feira. Começo a olhar pro fixador com olhos de saudade, sabendo que lhe restam poucas horas ainda como um corpo estranho em meu corpo, e confesso que já não faço idéia de como vou sentir minha perna sem nenhum parafuso depois de tanto tempo. Como provisão a alguma eventual ausência de anestesia, começo a preparar uma solução alternativa e vou dormir...

Desperto às 6 horas, talvez pra chegar logo esse último dia com fixador, ou simplesmente pra não me atrasar e assim ser um dos primeiros a ser atendidos pelo médico. Minha amiga Kiki me pega de taxi aqui na porta do prédio, justo pra não perdermos tempo. Entro na sala do médico e vou logo contando que há uma semana eu levei uma queda, que torceu minha perna e prontamente ele me deu um encaminhamento urgente ao Raio-X, o problema é que o urgente no setor de raio-X leva pelo menos 1 hora, senão mais...
Chegada a minha vez, tirei as "chapas" necessárias, mas nem pude as ver, e muito menos tirar foto, como de praxe, pois já tinha levado tanto tempo que o médico foi pessoalmente lá no setor pra pegar logo o resultado e dar um aval definitivo: minha tíbia não sofrera nenhum abalo e portanto CHEGOU A HORA DE RETIRAR OS PINOS!

Nessa hora eu gelei. Seria um espaço de tempo muito curto entre a notícia que ia ser retirado e a real retirada dos pinos... eu precisava de um tempo pra digerir isso, mas até mesmo a distancia entre o setor de raio X e o da retirada dos pinos me atrapalhava, pois distavam menos de 20 metros... A enfermeira dizendo que o médico já tava chegando... perguntei-a se seria com anestesia que ele faria o procedimento e a resposta foi simplesmente um NÃO. Aí sim que complicou tudo de vez...não me sobrou outra alternativa senão dizer que precisava antes ir para o banheiro. Saí voado prum banheiro adaptado que tem próximo ao setor de RX, mas pra minha surpresa, apesar do banheiro ser feito pra cadeirantes, era permitido o uso apenas a FUNCIONARIOS cadeirantes... que até hoje na real eu so vi um...enfim. Corri pra outro há uns 40 metros, e depois de um xixizim básico, saquei da minha mochila uma daquelas latinhas onde alcóolatra leva whisky, que no momento estava carregada de tequila e entornei uns 5 ou 6 goles non stop, digno daqueles caras que enxugam mesmo... Não sei se foi por causa da bebida, mas já saí do toilete com mais coragem, apesar de um tanto corrido. Cheguei no ambulatório e já estava uma junta de médicos no box, além de algumas enfermeiras e minha amiga. Só deu tempo mesmo de subir no leito e então apareceu uma médica que eu nunca tinha visto na vida (bonitinha até, apesar do jeito de R1...) com uma daquelas chaves de bicicleta e era então iniciado o serviço...

Minha apreensão ainda era grande, o bastante pra eu determinar a ordem dos parafusos que ela ia retirar... e assim ela foi retirando, um por um... no princípio a força pra tirar o parafuso da inércia de quase um ano gerava uma certa dor, mas logo depois passava e saía na boa... os parafusos na região que ainda não tenho sensibilidade nem chegaram a doer tanto, mas então retirados 7 parafusos, chegava a hora de retirar o que eu havia deixado por último, justamente por ser o mais doloroso, pois esta vinha com uma lâmina que andava cortando minha pele já fazia um bom tempo... contraí todos os músculos, virei a cara pra outro lado e fechei os olhos....

...

...digo pra vocês que doeu um tanto sim, mas foi 20% do que eu estava esperando... não sei se ia ser assim mesmo, se a contração dos meus músculos que ajudou ou se houve generosa contribuição da tequila nessa anestesia psicológica, só se que foi assim. E vou logo avisando que a tequila foi apenas um gesto de desespero de quem não agüenta mais sentir dor. Não quero ver gente enchendo a cara antes de ir pro médico não, viu? Na real eu imitei algo q li numa notícia de jornal há muito tempo, que uma mulher fez um parto normal sozinha em casa, depois de ter tomado uma garrafa inteira de cachaça... cortou o cordão umbilical e caiu desmaiada de tão bêbada...

Depois de tal procedimento senti que minha perna doía um tanto ao mexer, isso porque ela ficou tanto tempo acostumada a mexer com um auxilio de um "osso externo" e por isso ficou meio preguiçosa, frágil mesmo...

Mais tarde no consultório do médico (a essa hora minhas faculdades cognitivas estavam realmente debilitadas...), o doutor me contou que o osso estava consolidado sim,mas a 50% e que por isso eu deveria colocar apenas meia-carga na perna, ou seja, não podia jogar todo o peso do corpo nela, pra treinar com a prótese. Para isso então seria necessária a encomenda de uma órtese (um tipo de armação externa que dá suporte ao osso) que suportaria esses 50% de carga restantes... Enquanto eu não conseguir esse aparato, eu não posso voltar a treinar o uso da prótese. Em compensação eu já fui encaminhado para o setor de microcirurgia, que começará a cuidar da reconstrução estética da perna, porque ela está bem da feinha...

Bom, sobre o meu estado etílico em ambiente hospitalar, digo que não dei muita bandeira não, apesar de, quando passados uns 20 minutinhos do "penta-gole" eu já sentia a minha cadeira de rodas bem mais pesada, me sentia meio lerdo, mais alegre e tinha que fazer um esforço muito grande pra não me perder enquanto tentava entender o que o médico dizia, ou seja, um péssimo exemplo...

Voltei pra casa e,já que ainda era muito cedo, deixei pra comemorar mais à noite esse outro grande passo em direção à minha completa recuperação. Comemorei com Prosecco, claro... mas vou logo avisando que foi o terceiro e último da série, gente... senão vocês vão começar a achar que eu tô com grana,né? hahahah...

Grandes dias merecem grandes comemorações. Que venham os próximos...e que venham LOGO!
=D

agora, algumas fotos...

a hora da retirada dos parafusos... já sem o fixador-mestre, que a tal mão está segurando. Detalhe para a minha perninha mecanica bem comportada logo ao lado...

trabalho já feito, mercadoria embalada...


seria esse sorriso de felicidade ou de estado etílico?


momentos depois, mais recomposto e fazendo pose... so pra tentar provar que não é um ébrio-paciente

---

PS: Chega a noite e vou pra cama. Deitado, sinto que não tem mais aquelas brocas grossas onde eu apoiava minha perna pra ela deitar retinha...por um instante senti saudade delas pois agora minha perna ficaria meio entortada...senti saudades sim, mas só até o momento em que peguei um travesseiro alto e o fiz como, não os parafusos, mas minha perna direita mesmo... Posted by Picasa
 

Postado por Antonio Bordallo às 5:23 PM

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terça-feira, novembro 28, 2006


Tem coisas que só acontecem com o Antônio...


Quinta-feira. Acordo às 6 da matina pra não correr o risco de me atrasar. Vou num seminário de Moda no Senai-Cetiqt, que fica no Riachuelo, e por isso combinei com uma amiga de encontrá-la na Central do Brasil pra irmos juntos da táxi pra lá, já que ambos desconhecem o caminho... Tudo vai correndo bastante pontual e correto, sem correrias, o que , no fundo, me faz começar a desconfiar...

Pego o Metrô na hora certa, salto na Central com tempo de sobra (ainda nem eram 8 horas...) e então pego a escada rolante final para chegar na rua... só que dessa escada eu não passei.

Tento mover a cadeira, mas ela não sai do lugar. Não entendo por que e continuo tentando, as pessoas da rua já entendiam e foram logo chamar os seguranças, mas eu não entendia. A rua tava lá na minha frente, porque que eu não conseguia ir adiante? Olho pra trás e nenhuma pessoa reclamando de eu estar empatando a saída, e nisso noto que a escada estava parada, sem girar. Tento entender melhor o porque e finalmente constato que as rodinhas da frente da cadeira foram mastigadas pelo final da escada rolante, que tem aqueles garfos agudos...

Começo a me desesperar. "E o seminário, pô! Justo no dia do seminário..." e pra piorar, nesse momento toca o celular. Era justo minha amiga, que já estava passando por lá de táxi, mas lhe disse que por um imprevisto de última hora (e que imprevisto,hein?) não ia poder encontrar com ela. E assim se foi a minha carona...se conseguir algum conserto de rodas naquela hora já era difícil, imagina agora ainda por cima chegar num local que nem fazia idéia de como chegar???

Voltando para o local do incidente, prontamente chegaram uns 3 ou 4 seguranças pra prestar algum tipo de apoio. Constatando que os pneus das duas rodinhas frontais agarraram de jeito mesmo na escada rolante, só restou mesmo eles trazerem uma cadeira de rodas que eles têm guardada pra qualquer eventualidade. Depois de me transferir pra ela, tentaram mais uma vez retirá-la, mas as rodas estavam agarradas mesmo. Nesse meio-tempo chegam mais seguranças, o chefe dos seguranças,dois mecânicos e uma assistente social do metrô, todos pra prestar algum tipo de apoio. Os seguranças, junto com seu chefe, concluíram que não tinha mais jeito de recuperar aquela roda e decidiram então tirar a roda na base da força mesmo. Os mecânicos, depois de uma certa dificuldade, conseguiram "desengasgar" a escada rolante, retirando um grande pedaço de roda que a máquina engoliu, junto com 3 dentes do garfo que quebraram... Já a assistente social fez o trabalho mais prático com a parte mais prejudicada (essa que vos escreve): contei-lhe tudo o que acontecera, e quais os motivos de meu desespero e prontamente bolamos um trajeto para resolver os problemas um por um. De primeira liguei para algumas lojas que vendem e consertam cadeiras de rodas, mas ainda eram 8 e meia da matina, e por isso nem abertas estavam... Decidimos então ir direto sem saber se eles faziam tal serviço, com o intuito de eu não perder muito do seminário, que começaria às nove. Por sorte alguma pessoa desse staff todinho que estava comigo se lembrou de uma loja de cadeira de rodas que fica justamente no Riachuelo, e então a partir desse momento a operação "Antonio no congresso de Moda" já tomava forma...

Fiquei esperando junto com a assistente social e alguns seguranças pela chegada da viatura do Metrô, que nos levaria aos locais pretendidos. Esperamos mais meia hora até que a mesma aparecesse, uma S10 com bastante presença. Seguimos o caminho da Leopoldina, São Cristóvão , até que chegamos na tal loja. Nem precisei sair do carro: eles mesmos pegaram a cadeira, levaram lá pra dentro e em uns 20 minutos já estava de volta a roda novinha, limpinha. Perguntei quanto custou e eles disseram que nem era pra se preocupar com isso, era só assinar uns papeis que já estava pago pelo Metrô... de lá então o desafio foi encontrar o local do evento...passamos mais ou menos uns 15 minutos indo prum lado, errando o caminho, indo pra outro...chegamos até numa rua sem saída, lá pras bandas de Triagem, mas no final encontramos e posso dizer que minha entrada foi até um tanto que triunfal, já que eles (no caso o motorista Ataliba e a assistente social Shirley) não me deixaram na entrada do campus do Senai Cetiqt, mas na entrada do prédio onde rolava as primeiras palestras, que devia ser uns 500 metros mais adentro. Imaginem então o que não deve ter chamado de atenção uma daquelas caminhonetes S10 do Metrô estacionando lá só pra me deixar no local que eu queria. Nunca o Metrô do Rio deixou um passageiro tão próximo de seu destino...

Resultado: cheguei umas 11 e meia no evento, que até então, segundo minha amiga, não tinha perdido muito não... Sobre o tal evento eu não tenho muito o que dizer não, até porque o mais emocionante já tinha acontecido bem mais cedo...
=D

Tô reparando que as quintas-feiras não têm sido muito boas comigo... minha sorte é que na seqüência chegam as sextas-feiras e essas compensam legal...
=)

Abaixo, a crônica em imagens...



a cadeira, parada na escada rolante...


detalhe da roda ainda agarrada pela escada gulosa



parte da roda que foi engolida pela escada rolante, juntamente com os 3 dentes do garfo da mesma escada, q foi quebrada...



eu, já no Senai Cetiqt, recuperado e sorridente,heheheh... Posted by Picasa
 

Postado por Antonio Bordallo às 11:54 AM

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domingo, novembro 26, 2006


Os dias seguintes


Como era de se esperar, os dias após os grandes passos dados foram realmente sui generis. No sábado logo, depois de recuperado de uma certa ressaca, foi hora de editar o video do youtube e relatar aqui no blog como foi tudo (o que vocês podem conferir no post abaixo). Apesar de ter sido a trabalho de um dia todo, posso dizer que valeu muito a pena,pois a reação foi imediata: vários e-mails, pessoas me escrevendo no msn dizendo o quanto emocionadas e empolgadas estavam ao ver aquelas imagens... e realmente esse foi o objetivo: dar um presente a todos os que torceram, rezaram por mim.

À medida que o tempo passava, o numero de pessoas que já viram o vídeo aumentava galopantemente, pois as pessoas gostavam e passavam o link pra outras, que também gostavam e divulgavam ainda mais... com isso, recebi comentários e elogios ate de gente da Alemanha, que eu nunca ouvi falar... fora que em menos de 3 dias o número de espectadores quebrou a barreira dos 1000! Em verdade não me envaideço com o fato de muitos tomarem conhecimento, mesmo que por alto, da minha história, o que me gratifica mesmo é o simples fato de espalhar uma boa noticia.(Nota da Edição : até o fechamento desse post, às 13:30 do dia 26 de novembro, o numero de views do vídeo no Youtube chegava a 2.010)

Sobre a história da prótese, o segundo passo seria então trazê-la pra casa. Havia muitas chances de isso acontecer na próxima quarta-feira, mas dependia somente do aval da fisiatra. Por um momento eu me senti como aquela mãe que dá a luz ao filho, porém tem alta antes dele, que fica internado em incubadora ou sob outros cuidados... você fica contando as horas pra revê-lo, e finalmente levá-lo pra casa... foi assim que me sentia nesses dias.

Chegado finalmente quarta feira, me preparei pra, se eu tiver sorte,trazer pra casa minha perninha. Antes de passar no hospital eu teria que fazer algumas coisas no centro e de lá seguir pro HTO. Estava um sol de rachar e isso promoveu minha primeira real queimadura de sol desde meu acidente. Meus ombros vermelhos ainda denunciavam um "bronzeado de fazendeiro", que é aquele que marca justo o desenho da camiseta no seu ombro....ninguém merece! Seguindo pro hospital quase me falta braço, pois eu já estava há pelo menos 3 horas movendo minha cadeira pra lá e pra cá naquele sol e então, depois de ter me perdido pelo menos por 2 vezes, cheguei ao meu destino final.

Depois de esperar um tempo, o protesista me levou pra sala de fisioterapia e enquanto não me colocava a prótese, fiquei fazendo algumas fotos como essas abaixo...







Depois de colocada a prótese, tive que ficar esperando a fisiatra ir me ver pra saber com que desenvoltura eu a usava, e esse sim era o fator que determinaria ou não a ida da minha perninha nova pra casa. Pra minha sorte, meu desempenho estava ainda melhor do que da primeira vez, com bem menos dores e não mais naquela tensão e emoção de primeira vez... Naquela hora eu queria era saber da versatilidade dessa nova perna, então fiquei simulando alongamentos, agachamentos, tudo pra estudar melhor minhas possibilidades... cheguei a pegar uma muleta pra ver se eu já podia me aventurar a usá-la, mas graças a meus reflexos ainda rápidos eu não descobri da pior forma que ainda não estou pronto pra isso...

Já completava quase 20 minutos de brincadeira solo naquela barra paralela, quando então chega a fisiatra e diante de um Antonio quase simulando dar um salto, constatou que eu podia sim levar meu "filhinho" pra casa...não sem antes mandar eu tomar cuidado, de treinar mais quando os fisioterapeutas estiverem por perto e et cetera...

Que felicidade aquilo tudo! Me sentia como uma mãe que levaria pela primeira vez seu filho pra casa... dias antes mesmo eu andava pensando nessa perna que tinha sido amputada, como se fosse um ente real, uma pessoa muito querida que tivesse morrido, e que agora eu estaria encontrando um substituto pra ela.

Seguindo rumo à minha casa,e ainda com a prótese, peguei um táxi na saída do hospital e fui logo ligando pra minha mãe, que se ela quisesse me receber na portaria teria uma surpresa boa...
e assim foi. Pela primeira vez ela me via ao vivo usando aquela perna e seus olhos já denunciavam toda a felicidade que ela sentia sem precisar falar nada...eu poucos minutos ela me veria novamente acima da altura dela...
=)

Chegamos em casa e então, depois de um leve descanso, fomos logo pegar o andador pra minha mãe e minha sobrinha me verem naquela nova forma, mais semelhante à original. Uma vez estando em pé no andador, a primeira reação foi justo de abraçar minha mãe, dessa vez ,com ela mais baixa que eu, cena que não se repetia há pelo menos um ano e meio...e lá estava. Mais um passo a frente. Como não podia ser diferente, mais uma vez um grande feito foi comemorado com Prosecco, que dessa vez me deixou mais alterado, até porque comemorei junto com minha mãe, que bebe muito pouco, e minha sobrinha, que não bebe... foi mais um pileque daqueles merecidos... e se for pra comemorar mais grandes feitos como esse, pode preparar os gorós... e os Engov's pra depois também....
=)

Abaixo, mais fotos…




Pra que ainda não foi apresentado, minha nova perninha... de frente e de perfil... com direito a minha apariçao refletida no espelho...


Eu já em pé... e tirando foto, como sempre...




Minha perninha voltando pra casa comigo...dentro do taxi


Eu e minha mamãe, finalmente juntos e em pé.


Eu e minha sobrinha, Dona Emanuelle...


Eu, já bebado...chorando ao ouvir "wind of change" do Scorpions, e lembrando de toda minha jornada até aqui... to vivão,galera... vamo viver...

=)

 

Postado por Antonio Bordallo às 7:40 AM

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sábado, novembro 18, 2006


POST ESPECIAL - ANDEI!


Gente, demorou mas chegou. Depois de mais de um ano e meio esperando por esse dia, finalmente ele chegou... Confesso que fiquei meio triste e abalado na noite anterior, pois tinha torcido o pé justo na véspera, e achei aquilo muita lei de Murphy... Depois de uma boa conversa com uma amiga por telefone, resolvi tomar a atitude de exigir um novo destino pra mim no dia seguinte. Em vez de apenas torces pra dor no pé não perdurar, resolvi tomar todos os remédios que eu tinha conta dor...devo ter tomado uns 4, e fui dormir logo cedo.

Acordei no dia seguinte e a primeira coisa que fiz foi tentar ficar em pé no andador. Ainda doeu um pouquinho ,mas 80% menos em comparação com a dor do dia anterior. Diante desse quadro, que não considerei insuportável, decidi arriscar ir assim mesmo pro hospital pra ter meu primeiro encontro com minha primeira prótese.

Minha amiga Kiki Gurjão resolveu me acompanhar nesse episódio, já que minha mãe não poderia. Chegamos lá na hora certa e depois de uns 15 minutos finalmente fomos chamados. O primeiro desafio foi colocar o pé no tênis. Era a primeira vez desde o acidente que eu colocava um tênis, e de fato não sabia como que meu pé ia reagir, devido a tanto tempo atrofiado, e realmente foi difícil. Mesmo com meu pé menos curvado do que antes e com o tênis com os cadarços s bem desatados, meu dedão do pé curvava e não conseguiam desdobrar e entrar no sapato...só sei que levei um 5 minutos pelo menos pra calçar tal calçado, e não sem muita dor....
Passado o problema do pé, era hora de ver como que seria o coto e a prótese. Bem, colocaram meu coto num saco laranja com uma cordinha e colocaram-no no encaixe da perna mecânica. De lá então puxaram tal saquinho laranja por um buraco no encaixe,porém mais abaixo, formando assim um vácuo por sucção. Apartir daí é melhor vocês enxergarem mesmo em vídeo.


A movimentar as pernas foi um ato que, apesar de histórico, foi muito dolorido. No primeiro passo com a prótese, notei que ela era mais pesada do que eu imaginava, e a tal sucção não permitia mexer muito o músculo que levanta a perna, daí a dor ao levantar a prótese pela primeira vez. Mal sabia eu que pra dar o primeiro passo com a perna cheia de fixador fosse ainda pior. Só sei que foi um dos maiores esforços que eu já fiz nos últimos anos....foi muito gratificante, realizei um grande sonho, mas mesmo assim a dor foi enorme....nota-se pelos meus urros de dor...

Depois de um tempo, as coisas forma fluindo mais normalmente...já dava passos com mais precisão , já consiga até me apoiar no coto, dispensando assim o uso das barras. O mais surpreendente de tudo foi o encaixe perfeito do coto no encaixe na perna. Eu pensava que precisaria de várias provas pra ajustar o encaixe,mas posso dizer que o Seu Nabor (moço responsável por fazer os encaixes da prótese) fez seu trabalho com perfeição e precisão . Depois de um tempo, eu ainda pedi pra ficar mais um tempinho com a prótese, andando pra lá e pra cá na extensão das barras paralelas...matando a saudade de ver o mundo sobre meu ponto de vista de 1,83 cms... Nossa, gente, muito bom voltar a ter essa sensação! Depois de uns 10 minutos a mais curtindo o mundo como bípede, voltei a minha rotinha chatinha de cadeira de rodas... e depois dessa experiência maravilhosa foi tão difícil aceitar o fato de voltar a andar de cadeira de rodas... eu sei que ainda é muito necessário, mas é tão mais gostoso andar de prótese...
Bem, depois de tudo isso saímos dos hospital, eu e Kiki, que gravou tais imagens e tirou algumas fotos, e parei logo num bar pra comemorar com Coca-Cola e ligar pra minha mãe... ao saber por telefone que tudo deu certo, a D.Cristina danou de chorar... pensando bem até foi bom ela não ter vindo, hehehe...muito emoção pra velha..
=)
Eu nem pude me deixar tomar pela emoção na hora, porque qualquer reaçãozinha emotiva que eu pudesse ter podia me fazer desfocar do objetivo real e pra eu me estatelar no chão seria um passo, ou melhor, nem um passo, heheheh....

Depois disso seguimos pra minha casa e comemoramos junto com minha mãe, minha sobrinha e tia Rosa, com pizza e regado a espumante português da marca Peitudo (que eu ia gostar ainda mais se fosse PeitudA...), que conseguiu me deixar de bode legal, aproveitando finalmente a graça que recaiu sobre mim...
=D

Mais uma etapa vencida, agora é esperar até sexta que vem, que vou retirar esses 8 parafusos que ainda restam aqui...
EU QUERO É MAIS!

Algumas fotinhos pra posteridade:


Eu na chegada do Hospital, bastante animado



Meu ponto de vista, olhando pros meus dois joelhinhos, um de carne e osso e o outro da minha parte Cyborg



Fazendo alongamento... =)





Eu, finalmente, de pé e sem segurar nas barras!




Eu e minha amiga Kiki, que anda me agüentando no momento e testemunhou um dos melhores momentos da minha existência.




Eu o sr.Nabor, que cuida das próteses




Eu, já em casa, momentos antes de estourar o peitudo...
=)




Momentos depois, me achando braçudo (culpa do Peitudo) e que nada me derrubava ...só o Peitudo mesmo...hahahah...



Mais uma fotinho em pé... é muito bom rever isso!!!


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Postado por Antonio Bordallo às 9:34 AM

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quinta-feira, novembro 16, 2006


Caí - parte 2 (e não foi somente isso...)


Acho que as circunstâncias ultimamente não estão dando muito mole pra mim... depois de todas essas coisas que venho relatando por aqui, ainda me acontece hoje outra ainda pior.

Para satisfação do “poder negativo”, finalmente hoje eu caí. Devido aos acontecimentos que passei na semana passada, sinto que tal força já tava querendo há tempos me jogar pra baixo mas eu, de teimoso, sempre evitava de uma forma ou outra, mas dessa vez nem deu tempo...

Hoje de manhã, já atrasado pra aula de serigrafia, salto na estação Praça XI e sigo uma via crucis que até já fiquei acostumado em seguir toda quinta. Cruzo o segundo sinal, onde há rampas de acesso, mas essas, meio que pré-moldadas sem levar a mínima consideração do local onde seria colocada, tinha um degrauzinho mínimo de uns 4 ou 5cms... pois bem, foi o bastante pra travar minha cadeira a ponto dela ser jogada com tudo pra frente. Como reação normal coloquei o a perna na frente com objetivo de travar a queda, como já fiz algumas vezes, mas dessa não foi suficiente. Meu pé,que ainda não tá 100% de reflexo, acabou se entortando e além das dores da batida da minha perna e meu corpo no chão, ainda sofri um entorse.
=(

Naquela hora sim a dor estava grande.Não conseguia pensar em mais nada além de me contorcer de dor, e minha cadeira continuava na pista, e o sinal já estava pra fechar de novo. Vale dizer que esse local é uma região completamente deserta, portanto não era como Copacabana, que em 2 segundos já aparece alguém. Apesar de ser umas 9 horas, o sol já tava a pino e misturado com aquela região deserta já me fez lembrar da minha queda mais grave, em maio de 2005... Nisso então 2 caras saem de um carro que tava parado no sinal. Perguntaram-me se eu precisava de ajuda e então, ao constatar que nada havia quebrado e nem saído sangue, me ajudaram então a voltar pra cadeira. Sem muito a se fazer por hora, continuei meu caminho para o curso.



Com a perna ainda doendo, e me meu orgulho também, cheguei no curso e logo na entrada pedi um pouco de gelo pra passar no pé, que ainda tava latejando. Me prometeram que iam ver onde conseguia (pois lá não tinha nem kit de primeiros socorros, mesmo a maioria dos freqüentadores sendo velhinhos...), mas passou a aula todinha e nada de gelo e nem satisfação deles, e então segui de volta pra casa da mesma forma que cheguei.

Achando pouco meu problema, ainda me ocorre de ter que levar pra casa dessa vez umas telas e chapas de compensado que além de grandes, tornaram a cadeira ainda mais pesada, somado ao tanto de coisa que também tive que trazer nela, e pra adicionar mais "mistérios dolorosos" à minha via crucis, passando pela rua do Sambódromo a amarração das tais chapas e molduras se desprende e então tive que rearrumar tudo aquilo sozinho, e sob um sol ainda mais forte do que de manha cedo... depois de resolvido tive ainda que andar bem lentinho, sob pena de se desprender tudo de novo... pra compensar tudo isso até agora , só me restou então comprar uma Skol bem gelada na frente do metrô e curtir a viagem dentro do vagão muito bem acompanhado duma cerveja gelada (isso não foi uma propaganda, apenas um momento catártico).


Chegando em Copacabana, acreditava que meu calvário tinha chegado a um ponto final. Ingenuidade pura: já que estou morando há pouco tempo nesse apartamento atual, ainda não tenho uma chave própria, e na real nem andava precisando tanto...até hoje, que justo na hora que eu volto, minha mãe não está e eu to aqui na preso na portaria do prédio pra passar ao tempo, relatando pra vocês todas as merdas que me aconteceram nesse dia...e olha que ainda não é nem 2 da tarde...

E pensar que toda essa jornada começou justo às 4 da madrugada, quando eu perdi minha noite de sono pra ver a seleção feminina de vôlei jogar a final do mundial...E PERDER!
=/


Bom, gente. Das primeiras vezes eu até me contive, em consideração a vocês, mas depois de toda essa seqüência de infortúnios, só tenho uma coisa a concluir sobre tudo isso: PUTAQUIUSPARIU, QUE DIAZINHO FUDIDO, HEIN?
=s

 

Postado por Antonio Bordallo às 12:05 PM

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terça-feira, novembro 14, 2006


De volta ao local do crime... em sonho


Com a proximidade do início do processo de "substituição" da minha perna, esta está passando a se manifestar no meu inconsciente. Já não bastasse pela segunda noite consecutiva eu senti-la como se ainda estivesse comigo, dessa vez chego a sonhar com a minha possível volta ao local do acidente...

Já vou logo avisando que o suposto local que meu sonho me levou não era de fato o local que foi, mas minha mente me indicava no sonho que foi lá sim que a história da minha perna direita terminou. A localização era a mesma, apenas o aspecto que não era. No lugar original, ao redor , apesar de haver uma pequena comunidade, o predominante é a presença de um cemitério, setores de velório e lugar pra venda de flores (que lugarzinho pra se acidentar, não?), mas no meu sonho o lugar tinha aspecto de uma entrada de favela comum, com área de lazer, crianças correndo e birosca. Lembro-me de estar acompanhado de alguém (é ruim de eu ir pra lá sozinho...), mas esse eu não reconhecia... e de fato não era de extrema relevância no final das contas.

Lembro-me de que a cada vez que me aproximava, mais sentia uma peso no corpo e na mente, da mesma forma que sinto quando passo ao largo daquele túnel na vida real, quando estou já em Botafogo. A diferença é que dessa vez eu encarava esse peso, como se aumentasse gradativamente o peso de algum aparelho de ginástica e eu fosse aceitando, sem medo... cada passo que eu dava me fazia pensar em algo relativo a minha perna, como o fato daquelas crianças, que estavam lá correndo e brincando, pudessem ter me visto naquele dia no estado em que o ônibus me deixou, imaginei as pessoas que me socorreram... aquilo me deixava cada vez mais tonto e de um certo modo, envergonhado, mas era impossível não ir pensando em mais e mais possibilidades relativas a minha perna. Cheguei a pensar que minha perna continuava conservada no freezer do tal botequim, que na vida real nem existe. Sentia, então, a presença da minha perna ainda naquele local, como se ela estivesse me reencontrando lá, cheia de saudade, e querendo ou não, ela ia entrar à força no meu pensamento.

Bom, esse foi mais um encontro com minha perna direita.

A tal visita da perna estava me fazendo mais mal do que bem, mas por um lado eu sentia um tanto necessária, porque como no passado eu não somente conhecia como também ia pra tudo quanto é canto aqui no Rio de Janeiro (ofício de guia turístico) ainda sinto como uma lacuna o fato de um local tão perto da minha casa ser como uma zona proibida, que olhar e pensar nela me fizesse mal e passar por ela se tornara algo praticamente impensável.

Assim então desperto do sono e passo a pensar ainda mais em que mensagem tal sonho queria me passar...
=/
 

Postado por Antonio Bordallo às 4:02 PM

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Uma visita especial


Como vocês já devem estar informados, ao menos se andam lendo esse blog, essas duas semanas agora estão programadas pra acontecer grandes marcos nessa minha jornada de recuperação. Na sexta-feira dessa semana eu vou finalmente fazer a primeira prova da prótese que vou começar a andar, ou seja, DAREI MEU PRIMEIRO PASSO DE VERDADE depois de mais de um ano e meio! E na outra sexta-feira o ortopedista vai finalmente tirar esses parafusos que estão enfiados na minha tíbia desde maio de 2005, ou seja, essas próximas sextas-feiras prometem grandes emoções...quem viver verá.

Pra ir esquentando o início dessas semanas que grandes coisas vão acontecer, uma coisa especial me aconteceu. Domingo à noite, breu total no meu quarto. Já deitado na cama, embaixo do cobertor, naquele período que a gente apenas espera o sono chegar... começo a sentir algo que há muito não sentia. Com um misto de concentração e sentimento de plenitude, minha mente consegue reconstruir a imagem sensorial da minha perna. Sinto minha coxa completa, da forma forte e firme como era antes. Sinto a prolongação da perna, a presença do meu peito do pé e calcanhar. Não consigo mexer meus dedinhos rápida e vigorosamente, mas sinto exercer algum controle mental sobre eles. Foi algo único. Na escuridão, onde não conseguimos definir visualmente o que existe e o que não existe, a perna mal ou bem está lá. Na minha mente, é claro, mas a senti da mesma forma de antes. De repente era até possível mesmo sentir a dor de uma espetada, se tivesse um alfinete por perto e realmente quisesse senti-lo. Foi um sentimento único. Foi o mesmo gosto de rever um amigo que há anos não vemos, matar as saudades, mas esse foi ainda mais importante, esse fazia parte de mim e eu o sentia literalmente como uma parte minha. Fiquei feliz.
=D

Foi um alento bem merecido, depois de dias tão duros, como os anteriormente relatados. Na seqüência desse bom sentimento acabei fazendo mais uma daquelas viagens que faço em sonho às vezes. Dessa vez eu fui pro interior da China, perto de um calmo riacho... nada melhor do que uma viagem pra se comemorar algo, né?
=)
 

Postado por Antonio Bordallo às 4:01 PM

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Grandes Sextas-Feiras a caminho


Não sei se já relatei oficialmente isso aqui no blog, mas as duas sextas-feiras que estão à caminho serão dias muitos especiais e marcantes nessa trajetória de recuperação que vocês todos acompanham aqui por esse blog. Essa primeira sexta-feira, dia 17 , irei ao HTO pra usar, pela primeira vez, o primeiro modelo de prótese que o hospital vai me fornecer. Esse primeiro modelo será bem básico, designado apenas pra eu andar em casa e ir aprendendo a andar, pegar a manha de andar com prótese. Logo que eu ficar craque eles vão encomendar uma prótese melhor e assim eu vou evoluindo aos poucos, não sem bastante sacrifício, que vou logo prevendo que vou ter que passar... Não sei quantas provas serão necessárias até eu poder de fato levar minha nova perninha pra casa e brincar de passear na sala, mas espero que seja o mínimo possível, pois a ansiedade (e o medo, a incerteza...) é grande.

Na outra sexta-feira então, ocorrerá outro acontecimento que sei que muitos também estão esperando muito tempo pra acontecer: a retirada dos pinos da minha perna... Finalmente vou me livrar desses corpos estranhos e inconvenientes....tá bem que são úteis, concordo, mas o quanto que já passei de complicação por causa deles me confere o direito de difamá-los sem dor na consciência, até porque de dor já basta as que senti com a presença deles.

Lembro-me agora de um episódio ainda internado no Hospital Miguel Couto. Completava um mês do meu acidente e então no horário de visita, com uns amigos comentava do tempo necessário pra ficar com esse fixador na perna. Havíamos visto um raio-x há pouco e nele indicava que meu osso estava se recalcificando. Nos empolgamos com o ritmo da recuperação e especulamos então quanto tempo mais seria necessário ficar com aqueles parafusos na perna. Nisso chega um dos médicos e então perguntamos quanto tempo mais levaria pra tirarem os parafusos e me darem alta. Esperávamos que ele fosse dizer que mais uma ou duas semanas, no máximo um mês, mas imaginem vocês nossa cara de frustração quando ele disse que não seria somente isso de tempo, que levaria ainda muito tempo até aquele osso ficar firme, que não adiantaria fazer nenhuma estimativa sobre recuperação e alta naquele momento. Creio que foi o primeiro momento de grande decepção naquela internação. Eu tomava noção de que o caminho seria longo...bem mais longo do que eu pudesse imaginar... Agora pensem como eu ficaria se ele me dissesse em pleno maio de 2005 que eles iam tirar os pinos do meu pé lá pro final de novembro de 2006? Às vezes o melhor mesmo é não saber.
=s

Concluindo então o post, bons ventos a caminho... aguardem e confiem.
=)
 

Postado por Antonio Bordallo às 3:36 PM

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sábado, novembro 11, 2006


As Ruas do Centro X Antonio


Cada vez que tenho um avanço em minha recuperação, sinto que as ruas se põem mais hostis a mim, seja pela minha audácia de andar por lugares que não me esperavam passar, seja pela minha própria situação física, dado que a energia que uma pessoa gasta ao caminhar por uma quadra é de fato menor do que a eu gasto pra empurrar minha cadeira de rodas nesse mesmo trecho.
Depois daquela terça-feira infeliz que relatei na última crônica, chegou a quarta-feira, que conseguiu ser pior...

Minha aventura começa no centro da cidade, no prédio da Faculdade Candido Mendes (r.da assembléia 10), que pra chegar ao 22º. andar teve que ser armado todo um esquema complexo (parece que eles nunca esperavam alguém de cadeira de rodas naquele prédio...). Tive que dar a volta no prédio e entrar pelos fundos, depois tive que esperar um elevador de carga me pegar, mas isso tudo foi agilizado por um segurança que dava comandos através de um walkie-talkie para algum operador de dentro do elevador. Pensei: “Não seria mais prático apertar o botão do elevador apenas?”... enfim... com essa brincadeira perdi quase 10 minutos esperando... Na saída do prédio a coisa foi um pouco pior... esperei pelo mesmo elevador no local dele, mas depois de mais quase 10 minutos sem nenhum sinal resolvi pegar um elevador de gente, que era o que sempre aparecia e que todos pegavam...pra quê? Entrei num andar e fui delicadamente convidado a sair no andar logo abaixo, sob alegação que tal veículo não parava no térreo, somente no subsolo, e por isso não serviria pra mim... aconselhando então eu voltar a esperar aquele velho elevador de carga , segui de volta a meu posto...passados mais 10 minutos, me cansei de novo e insisti em ao menos chegar no tal subsolo pra então ser lembrado pelos ascensoristas... Ao entrar, o ascensorista quis deter minha entrada, mas aí que ficou puto foi um outro moço que estava vendo minha dificuldade e então me empurrou ele mesmo pra dentro do elevador mesmo contra a vontade do ascensorista... só sei que esse cara ficou revoltado com o descaso a mim dispensado e então decidiu ele mesmo resolver isso. Já no subsolo tive que esperar o tal elevador de carga então chegar e finalmente cheguei ao pavimento desejado... Resultado: 3 elevadores apenas pra descer um prédio. Bom começo, não? Pois a coisa ainda ia piorar...

Finalmente na rua, segui em direção ao Camelodromo. O que eu não contava era que todas as ruas transversais daquela região que levavam a tal lugar eram de paralelepípedos, e andar de cadeira de rodas em paralelepípedos é uma tarefa um tanto arriscada... depois de ver minha mínima velocidade sobre os artefatos de pavimentação, uma moço solícito resolveu então assumir o comando da minha cadeira, me levando até a esquina daquela rua, mas minha cautela em passar por aquela rua não era à toa: apesar de ter chegado rápido, a rodinha da frente da minha cadeira não agüentou e empenou. Tive que, com muito dificuldade chegar a uma lanchonete, sair da cadeira e tentar desempená-la, ou seja, encaixar de novo a parte correspondente ao pneu, no encaixe da roda. Com a ajuda do gerente consegui então fazer tal reparo e seguir meu caminho ainda mais ressabiado...

Não durou nem 30 metros e outro obstáculo me apareceu: a calçada nessas transversais do centro da cidade são muito estreitas, não chegam nem a ter um metro e meio de largura, e justo nessa calçada alguns restaurantes entulharam uns sacos de lixo...passar por aquilo foi algo que só foi possível pois um moço que estava passando se revoltou também com a cena e resolveu agir. Pediu pra esperar e então ele foi retirando alguns sacos do meu caminho pra eu ir passando um por um, mesmo assim foi impossível não sujar minhas mão com aquele chorume ( pra quem não sabe , é esse o nome que se dá pra o líquido que escorre do lixo..), imagine que nojo! Você ter nojo de suas próprias mãos e não ter nenhum lugar pra lavá-las... talvez um minimizador da pindaíba ocorreu pelo fato desse mesmo cara que me ajudou era revendedor de perfumes e então borrifou uma de suas amostras no meu pulso... mesmo assim...
=/

Cruzando a avenida Rio Branco, passei a procurar alguma rua que estivesse ao menos asfaltada, porque mais perrengue que aquele já era demais... por sorte aquele trecho da rua da Alfândega já dispunha de calçamento adequado e então segui, mas com um porém: já que as calçadas conseguem ser ainda mais estreitas que as já mencionadas, o jeito era mesmo seguir na pista, e concorrendo com outros carros. Entre um carro e outro, eu ... e respirando o gás carbônico que nenhum outro condutor respirava... depois de corridos alguns metros, o telefone toca e improvisei um acostamento entre um carro e outro estacionado. Era da gráfica onde havia mandado fazer um fotolito avisando que daqui a pouco iam fechar a loja... Não deu nem pra pensar muito: peguei o táxi que estava logo atrás de mim e meio que no improviso, tivemos que voar pra uma área depois do Campo de Santana e então voltei pro Camelódromo... e lá que a coisa começou a ficar ainda mais séria.

Andei a procurar por um tipo de caneta nanquim recarregável, mas diziam que lá não vendia mais , que eu deveria procurar numa loja a algumas quadras de lá... já que distância não é mais empecilho pra mim (o caminho que sim), resolvi seguir pra lá...
Já na descida da rampa pra pista, uma parte dessa tinha uma poça que então contribuiu mais ainda pra sujeira que a minha mão já estava... segui então meio que ignorando o fato (porque não me restava muito a fazer naquela hora) e então eis que constato que a rua que leva à tal papelaria é um caminho todo de paralelepípedos... Tá bem que rua de paralelepípedos é bonitinha, que dá um ar de Rio antigo e tal, mas que ao menos fizessem um corredor acessível em alguma parte perto, pô! A calçada conseguia ser pior, porque além do meio fio ser mais de um palmo de altura, nem rampa pra descer tinha... Em algumas dessas subidas e descidas quem acabou me ajudando foi uma moça, já que os homens que estavam por perto simplesmente fingiram não me ver, só pra não me ajudar...cenas assim nesse dia vi mais que uma vez , muito triste isso.

Chegando na loja, qual foi minha surpresa ao saber que eles NÃO tinham o tal produto que fui lá só pra comprá-lo? Fiquei tão puto que deu vontade de pedir prum vendedor ou ao menos o infeliz que me indicou aquele lugar me empurrar todo o caminho de volta, pqp...se eu tinha dúvidas, lá eu confirmava que aquele não era meu dia...

Depois dessa então não me restou mais nada além de voltar pra casa. Eu que não queria inventar de fazer mais algo pra então rolar outra zebra. Porém no caminho em direção ao metrô, desço por uma rampa na r. Buenos Aires que , de tão mal projetada, acaba me jogando pra frente de uma forma que eu só não caí de cara no chão porque ousei em jogar minha perna cheia de parafusos pra frente e me apoiar nela. Creio que há meses atrás isso me causaria um problema bem mais sério do que o que rolou, mas pra minha sorte, meu osso está finalmente consolidado, e essa foi uma prova disso, apesar de num momento bem inapropriado.

Chegando ao vagão do metrô ,finalmente um momento de relaxamento, enquanto ouço uma musica (de uma banda argentina chamada Intoxicados) que me conta uma grande verdade depois de um dia duro desses :

“Cuando las cosas salen como no las espero, la vida me hace más guerrero”
(quando as coisas não saem como eu espero, a vida me faz mais guerreiro)...

É isso aí, nada mais a adicionar
=S
 

Postado por Antonio Bordallo às 11:10 AM

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terça-feira, novembro 07, 2006


Viver é foda, morrer é difícil...


Recentemente sinto passar por uma fase difícil. Apesar dos grandes avanços conquistados até agora, sinto-me um pouco com a pilha fraca, como se tivesse gasto todas minhas energias em função de todos esses avanços que tive nos últimos meses,mas já não consigo mais tirar energia alguma. Parece que já gastei energia além da reserva e não tenho conseguido acumular nova energia. As coisas parecem mais difíceis agora, e de fato elas são. Não adianta mais eu andar pela rua querendo ser aquele carinha atraente, que sempre chamava atenção de uma forma positva, agora sou o carinha estranho, que pode até ser admirado pela força de vontade, pela audácia de estar num lugar que nem foi feito pra ele estar e tampouco esperavam que eu estivesse, mas vai ser só por isso mesmo. É muito duro quando isso acontece, sinto como se tivesse trocado de corpo, pra um bem pior. De fato é pior sim, mas eu tenho certeza de que eu chamava a atenção das pessoas à primeira vista, mas essas num segundo momento acabavam gostando de mim pelo que eu tenho de conteúdo , e esses predicados continuam aqui, só que agora mais ninguém puxa papo, conversa comigo na rua, pede informação... realmente é um grande exemplo de solidão numa metrópole com mais de 5 milhões de pessoas...

Minha queixa não para por aí... Hoje em dia todo mundo reclama que a vida é dura... concordo, mas pra mim ela parece ser mais dura. Não quero fazer drama e nem reclamar que tenho uma vida miserável, mas realmente é muito duro tentar imaginar o que se quer fazer se preocupando se na tal situação vai ter acesso pra cadeira de rodas. Isso já tá me dando no saco. Digo isso porque hoje caí em plena rua porque um parafusinho mínimo da minha cadeira de rodas se quebrou e por isso tive que ser socorrido por dois idosos (os unicos que pararam pra me socorrer), tive que voltar de taxi e o porteiro teve que me empurrar cautelosamente até eu chegar na minha cama. A questão é: "o parasfuso se quebrou porque:
1)a cadeira de rodas é uma merda (já é a 4a vez que isso acontece)
2)as ruas são uma merda (pois andar nas ruas do Rio é praticamente um Off-Road urbano)
3)o Antonio é muito abusado de se atrever a andar nas ruas, ele devia é ficar em casa porque as ruas não foram feitas pra ele
4)todas respostas acima."

Tenho medo de não me adaptar a essa vida nova, de acabar jogando no lixo todo esse esforço, morrer na praia. Morrer, a propósito, é uma alternativa muito complicada também... andei pensando no que rolaria se eu me cansasse de toda essa luta, que vai me levar a um futuro incerto,porem já sabido que nunca melhor como meus dias felizes com 24 anos...
Morrer ia ser uma merda, nao especificamenre pra mim, mas pra esses poucos que ainda me rodeiam e insistem, acreditam que eu posso superar isso. Sei que frustraria muita gente, mesmo aqueles que nem acompanham mais a minha evolução, que talvez cansaram de esperar um Antonio que
"já no proximo mês vai estar melhor e poderá sair com a gente"...nao os culpo, se eles se cansaram de esperar, que dirá eu, que sou o cara que tá perdendo aquela rave tao esperada, que deixou de ir naquela social que geral foi e curtiu horrores, que perdeu aquele dia de sol lindo que rolou na praia ontem...porra! Se no paraíso é tão bonito como dizem ,o que caralhos eu to fazendo aqui que já não fui pra lá? Será que eu gosto de sofrer ou encontrei uma ótima forma de chamar atenção e despertar pena de quem me conhece? Na boa, se morrer fosse tão prático eu não taria nem escrevendo essas mal digitadas aqui...

Morrer agora eu acho que seria de um completo egoísmo meu... será que eu tô podendo ficar tomando tempo dos medicos e dinheiro do governo federal pra eles me tratarem e do nada eu jogar tudo isso fora? Se eu quisesse morrer mesmo, teria que tê-lo feito na hora certa. Tava lá... facinho na minha frente...era só eu dar um cochilo bem gostoso dentro da ambulância dos paramédicos...ia dormir e já ia chegar num lugar onde não perderia nenhuma festa, eu continuaria chamando a atenção de alguns e a "vida" continuava...pelo menos pra todos vocês....mas não ... parece que a gente só dá mesmo valor à vida quando estamos prestes a perdê-la. Comigo nao foi diferente, e agora, eu que aguente carregar o peso que a gravidade exerce sobre toda a minha existência...

É meio foda pensar que até morrendo a gente dá despesa... imagina só, depois de tanto gasto q já tiveram comigo, precisar comprar caixão, lugar pra enterrar, coroa de flores, velório... a aposentadoria da minha mãe não dá pra tudo isso não...pior que isso são as dívidas que eu estaria deixando. Entre parcelamentos, contas e promessas de pagamento, já somariam uma grana que o Antonio precisa estar bem vivo pra honrá-las... pensando bem, ainda me sai mais barato acordar todo dia pela manhã, mesmo que pra cada manhã que eu acorde eu ainda tenha que pagar um imposto sobre esse ar não tão limpo que respiro aqui em Copacabana...
=/
 

Postado por Antonio Bordallo às 6:32 PM

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