aproveitando a segunda chance

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domingo, setembro 24, 2006


Apareci no Jornal


Um grande amigo meu, Eduardo Evangelho. trabalha como estagiario de Jornalismo no jornal Povo do Rio e se interessou sobre minha história pra exemplificar o problema das ciclovias aqui na cidade. Há algumas semanas ele veio aqui com a namorada e então fizeram uma entrevista comigo, pra entender melhor sobre o ponto de vista de um ciclista freqüente na cidade, e também sobre as causas e consequências do meu acidente. Hoje saiu no jornal a matéria resultante de tal papo. Vejam abaixo (aconselho a clicarem na imagem e ler numa página a parte, dado o tamanho das letras) :


Agradeço a meu amigo Eduardo pelo interesse no que eu tenho a dizer...
=)


PS: confesso que ao ver essa foto, que ele pegou nos arquivos da anos atrás,do meu blog, me deu uma vontade louca de pegar minha bike e sair por aí, rumando pra essa mesma area da Urca (de onde tirei a foto)...como se nada tivesse acontecido, como se fosse uma coisa fácil... impressionante como nem sempre o que a gente sente o corpo consegue fazer...
=/

Mas confesso, foi uma vontade muito gostosa... e que pretendo sim ter o prazer de voltar a fazer isso um dia...e espero não ser um dia tão distante de hoje.
 

Postado por Antonio Bordallo às 11:52 AM

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sábado, setembro 16, 2006


O menor dos caminhos, o maior dos desafios, e a maior das alegrias


Acordei esse sábado querendo um desafio novo. Minha vida está sendo uma seqüência de desafios propostos e em seguida superados. A ida pra praça XI pra fazer o curso de silk-screen já não é mais considerado um desafio pra mim, é uma rotina que eu já faço quase que automaticamente, e por isso já nem tem mais tanta graça, e por isso eu só fico confabulando que outro desafio eu posso me propor para ter o gostinho de superar... ir mais distante, fazer algo mais difícil, fazer o inesperado para os outros, isso tem um gostinho bem único. Não exatamente por ser o primeiro a fazer tal coisa, mas sim por ser a primeira vez que você faz algo que nem você acreditava ser capaz de fazer antes.

Ontem à noite fui na social de aniversário de uma amiga, em Botafogo, e a cara de surpresa e alegria daquelas pessoas ao me ver aparecendo por lá foi o combustível ideal pra eu me propor outro desafio. Acordei hoje e pensei : "hummmm... minha moral tá alta...o que eu posso inventar de fazer hoje que eu nunca tinha feito antes?". Era uma manhã calma, um sábado acinzentado e com um certo vento. Resolvi então pegar esse vento na sala e sem cadeira de rodas!

Puxei o andador e fui me apoiando na minha perna. Arrastava um pouco o andador, e dava um passo, movia um pouco pro lado e mudava um pouco a direção, e assim fui me distanciando da segurança da minha cama e encarando os perigos do caminho sem garantias se eu cair pra trás, mas minha confiança era grande, e qualquer coisa eu podia me apoiar um pouco com o coto e a própria perna, dando um descanso pro braço.

Um momento especial foi quando eu passei pela porta do meu quarto. Fui invadido pelo clarão da luz, potencializada pelo branco do corredor. Aquele ponto de vista, de ver o corredor de cima, há muito tempo mesmo que eu não via, por isso foi difícil eu deixar passar isso como fato comum e comecei a chorar... um choro de superação, um choro de quem quis e fez, e que estava lá, testemunhando sozinho, mais um passo de sua vitória.

Aquilo me deu mais energia pra continuar caminhando, e já estava quase na metade do caminho, retornar daria quase a mesma distância e nenhuma glória, me restou seguir pra onde o nariz apontava. Ia seguindo já sentindo algumas dores no braço por fazer tanto esforço. Mudar de direção, jogar o andador pra frente, eram coisas que exigiam muito da minha força pois eu tava era colocando quase todo meu peso apoiado nos dois braços,compartilhado às vezes com minha perna, mas eu sabia que aquela dor ia passar, mas a minha satisfação ao final ia perdurar por muito tempo.

Fui adentrando a sala e logo sentia a brisa que vinha de uma pequena fresta na janela. Era o que eu precisava pra refrescar um pouco aquele momento, e também um estímulo para me aproximar daquela área, poder abrir a janela e me refrescar por inteiro. Fui me aproximando cada vez com mais vontade, mas os braços já não estavam mais agüentando tanto e por isso tive que fazer pausas pra descanso mais freqüentes, a cada dois passos até, mas sabia que eu ia, cedo ou tarde, chegar no meu ponto final.

Três metrinhos mais à frente e muito esforço a mais, finalmente chegava eu à beira da janela. Abro rapidamente ela toda e subitamente aquele vento todo me refresca como se fosse a grande recompensa por todo aquele esforço, eu finalmente podia voltar a olhar pra janela da altura que eu sempre olhava. O Cristo lá no Corcovado estava encoberto pelas nuvens, mas parecia que ele estava era deixando aquele minutinho de glória pra eu brilhar no lugar dele.

Olhei pra baixo, e numa dessas coincidências inexplicáveis, vejo passar pela rua o ônibus 435 ( pra quem não sabe, foi um ônibus dessa linha que me pegou, e desde então eu encaro qualquer ônibus com essa numeração como a personificação do meu algoz). Pareceu estranho demais aquela cena, até porque do 10° andar não dá pra ver o numero na frente do ônibus, mas só pode ter sido ele mesmo, que na minha mente testemunhava a cena e me olhava com jeito de "caramba, não esperava ter ver por aqui,hein?". Pois bem, senhor Ônibus, você me derrubou feia e covardemente, mas eu tô aqui de volta e de pé, VOCÊ NÃO ME VENCEU.

Nesse momento, depois de um vento tão forte que derrubou um vaso de flores que tava na mesa, surge minha mãe. Totalmente surpresa ao ver que eu estava perto da janela e não havia nem sinal de cadeira de rodas por perto... Me abraçou e me beijou (outra grande recompensa) e me disse que estava justamente agradecendo a Deus por toda coragem e força de vontade que eu vinha apresentando ultimamente, então imagina que surpresa maior ela teve de, logo depois disso, ver outra invenção da parte do Antonio rumo a sua reabilitação? Interessante também foi descobrir que, durante esse tempo todo que eu estava me esforçando pra realizar outro grande feito, minha mãe estava naquele mesmo momento, sem saber o que estava acontecendo, rezando por mim.

Nessas horas que eu agradeço bastante o fato de não ter desistido dessa vida logo após o meu acidente. Eu simplesmente não sentiria nada desse carinho e estimulo dos amigos, da força enorme que minha mãe sempre teve mas nunca tinha me mostrado, e nem sentiria esse gostinho especial que é o de realizar coisas simples, mas que eu poderia nunca mais ter a chance de fazê-las. Descobri que a força que eu tenho dentro de mim é muito maior do que a que eu aparentava por fora. Dentro desse corpo que um dia foi bem musculoso, havia uma força de vontade mais forte que sua própria embalagem, capaz de ir longe, carregando esse corpo mesmo que ele esteja com seus músculos enfraquecidos, atrofiados, ou simplesmente descontinuados.
 

Postado por Antonio Bordallo às 6:29 AM

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quarta-feira, setembro 13, 2006


Caí


Tinha confessado a mim mesmo ontem, que nessa saída q eu ia dar eu não escreveria nada sobre, até por que já estava sentindo que tava sendo um deslumbramento atrás do outro,e quando isso também vira rotina, perde a bastante a graça, mas parece que só pra me sacanear, o destino resolveu aprontar uma comigo e eu não tive como deixar de compartilhar isso com vocês.

Ontem parecia o dia mais normal da minha vida desde minha fase de dias anormais: acordei cedo, fui pro dermatologista (pra ver direito como pegar sol e não ficar com manchas escuras nas cicatrizes pro resto da vida), depois pro dentista e de lá, passei em 3 farmácias de manipulação a pesquisar preços, luxo que eu resolvi me dar por sentir que agora eu posso sim me locomover e escolher o melhor preço e não comprar na primeira opção mais perto.

Me avisaram, e de certa forma eu já sentia, que meu pneu estava arriado. Fazia um esforço bem maior e me cansava mais fácil. Talvez tenha arriado porque ultimamente eu ando realmente “gastando” pneu por aí, e então depois de fazer meus afazeres, rumei em direção à praia para calibrar os pneus, já que em Copacabana só tem posto de gasolina por lá mesmo.

Eu já sentia um certo cansaço fora do comum, pois sentia muito desgaste físico em tão razoável distância percorrida, além de sentir que algumas partes da minha mão, de tantos calos, estavam bastante vermelhas e quase rompendo a pele. Apesar de cansativo, não reclamava tanto do esforço físico, pois, mal ou bem, era a minha “malhação diária”. Acontece que quase na esquina da rua Hilário de Gouveia com a Avenida Copacabana, acontece algo súbito que eu sempre temia que um dia viesse a acontecer. Estava andando numa velocidade razoável quando de repente...BLUPT!
Minha cadeira trava no chão, mas meu corpo não. Fui jogado pra frente sem nada e caí sentado, bem em frente a minha cadeira! Na pratica eu não sofri nenhum arranhão sério, mas com o susto, e talvez como alguma forma de reação, os músculos do meu coto se contraíram de uma forma que senti uma cãibra daquelas que você não deseja nem pro seu inimigo. Já tinha sofrido cãibras piores com o mesmo músculo, mas não num contexto tão ruim como esse. Imaginem a cena: um cara que anda de cadeira de rodas estatelado na calçada sentido dores que ninguém entendia, já que não aparentava ter nenhum arranhão e nem osso quebrado. Minha dor no coto foi muito grande, mas ela num espaço de 1 minuto até que passou, o que doía mais e tá difícil de passar até agora foi a dor da indignação, da vergonha de ter outras pessoas presenciando aquilo, a sensação que eu não era um ser bem vindo naquelas calçadas, mesmo essas sendo a da minha própria vizinhança: essa foi a dor que doeu mais. Não queria que presenciassem mais uma cena de derrota além dessa, e por isso, encolhi minha cabeça em direção ao peito, coloquei as mãos sobre a face e chorei um pouco. Era um choro honesto, de quem não queria aceitar tudo o que estava acontecendo lá. Foi um choro infantil , breve, mas honesto. Eu precisava ter um segundinho comigo somente, mesmo com uma multidão de gente querendo ajudar já me rodeando... O que me espantou também foi o quanto súbito essa coisa aconteceu: eu estava tranqüiliinho num momento e em frações de segundo já estava num estado completamente diferente. Isso me fez lembrar muito o meu acidente de bicicleta, pois a mudança de estado foi na mesma velocidade. Eu pude compreender melhor que nossa vida pode sim mudar numa velocidade impressionante. Com a dor já ausente, e sem nenhum arranhão, me restou voltar à cadeira e, pra mostrar aos outros que eu estava bem, voltei pra ela sozinho, sem precisar de ajuda alguma. Agradeci ao “público” não somente por presenciarem o espetáculo de um homem em seus piores momentos, mas principalmente por serem todos bastante solícitos, querendo me ajudar, ligar pra minha mãe, oferecer copo d’água gelada e et cetera... carioca quando resolve ajudar é simplesmente um amor de pessoa...brasileiros em geral, justiça seja feita. De volta ao “cockpit”, segui lento, cabisbaixo até o outro lado da esquina. Lá eu parei sob a sombra de um outdoor, numa área sem movimento e comecei a pensar sobre aquele episódio, digerir melhor o que tinha acontecido comigo... não era tão fácil aceitar aquilo tudo.

Depois de já recuperado, consegui finalmente entender como e porque o acidente ocorreu: nas calçadas projetadas pelo projeto Rio Cidade, apesar de sempre bem lisas, existe um sulco, um pequeno canal que é da largura da rodinha da frente da cadeira de rodas. Normalmente esse sulco não é muito profundo e então nem se fazia muito perceber, só que nesse segmento que eu estava seguindo esse era profundo sim e pior, no final dele não existia uma transição para o nível do resto da calçada, era um “paredão” mesmo, e por isso que a rodinha entrou nesse sulco repentinamente e depois foi travada bruscamente, e pra uma rodinha pequena dessas conseguir não somente ser travada por esse sulco como também frear a cadeira toda, imaginem o tamanho do tal sulco...

Algo que eu devo relatar pra vocês também é uma incoerência total que observei por esses estabelecimentos de Copacabana. Como sabemos, Copacabana tem uma enorme população da terceira idade e, por isso mesmo, dispomos de uma infinidade de drogarias e farmácias de manipulação, tanto que em um quarteirão conseguimos encontrar até três ou quatro delas. E às vezes a distância entre filiais da mesma rede de drogarias chega a ser de apenas uma quadra. A incoerência então ocorre no fato de que a maioria desses estabelecimentos não dispõem de rampas pra acessá-los e por isso é sempre um grande transtorno pra entrar neles. Ontem eu fui em três farmácias de manipulação e em três drogarias. Dos seis estabelecimentos apenas UMA drogaria tinha rampa, ou seja , de todas a farmácias de manipulação, nenhuma tinha acesso facilitado e mais da metade das drogarias idem. Só sei que na última drogaria que eu tentei entrar, chegou uma a hora que eu até desisti e dei meia-volta. Já tava indignado demais naquele dia pra ainda ter que sofrer mais aquilo. Acabou então que uns três ou quatro funcionários da farmácia acabaram vindo rapidamente, me pegando na rua e me pondo dentro do estabelecimento. Quando viram que iam perder o cliente foram correndo tentar resolver...isso que é chato. Acabou que nem comprei nada lá não e segui meu caminho. Na volta, uma das moças ainda chegou a falar pra mim e pros outros ouvirem: “ Não tem que desistir das coisas não...”. Tá, eu concordo com ela, mas ficar insistindo quando tudo parece te dizer que você não é bem vindo, simplesmente CANSA.

=/
 

Postado por Antonio Bordallo às 6:53 AM

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domingo, setembro 10, 2006


Fora do Rio!


Apesar de amar minha cidade, uma coisa que era imprescindível à minha vida era o fato de viajar sempre que possível. Era uma coisa que fazia parte da minha vida de tal forma que, se faltasse, acho que me seria receitado "sob prescrição médica"... é um fator meio que necessário para o Antonio continuar tendo alegria de viver, tanto que, como já escrevi antes, depois de uma fase grande de "abstinência de viagens", acabei tendo inúmeros sonhos de que eu estava em outra cidade. Talvez isso que as pessoas gostam no Antonio só existe por causa dessas viagens que, de certa forma, me alimentam de algo, seja de conhecimento, seja dessa vontade de continuar vivendo.

Escrevi tudo isso acima pra contar que finalmente, depois de quase 1 ano e meio, eu dei as caras fora da Cidade Maravilhosa! E não houve melhor destino que Niterói, uma cidade bonita, onde tenho bons amigos e que fatalmente me lembrava dos bons tempos trabalhando com guia turístico, onde eu chegava a ir até 3 vezes por semana, levando os turistas pra apreciarem não somente o Museu de Arte Contemporânea(conhecido como MAC) e a vista do Rio,mas também um lugar bonito e calmo, não tão distante assim da movimentação metropolitana da antiga capital federal.

Tomei essa decisão com meu amigo Chris, que veio mais uma vez ao Rio e, vendo que minha condição e ânimo pra sair estão favoráveis, resolveu retribuir o mesmo passeio que eu tinha lhe oferecido há alguns anos, na primeira vez que ele veio ao Rio.
Tomamos um táxi direto pra o MAC e logo na ponte eu voltava a sentir aquela sensação agradável de estar me distanciando, mesmo que somente por algum momento, da minha cidade natal. Aquela promessa de sentir novos ares, a sensação de volta num passado não tão distante, mas muito diferente desse atual, me proporcionava umas revitalização no espírito, como se minha alma estivesse tomando um banho fresco e em decorrência disso eu saísse totalmente energizado, com pique de sobra pra encarar qualquer obstáculo no meu caminho. Uma pessoa indo em direção ao "de volta ao normal", porém muito mais forte e preparado do que era antes.

Já no MAC, uma volta ao passado. Aquela movimentação de pessoas apreciando as curvas do museu, pessoas tirando fotos de tudo que é angulo e a vista que de cada ponto tem algo de único. MARAVILHOSO! Eu era o único de cadeira de rodas por lá, mas me sentia também o único a olhar praquilo tudo com um olhar especial, de quem por muito pouco não voltaria a apreciar mais aquilo, mas estava lá pra comprovar que com muita persistência tudo era possível.

Na área externa do museu havia uma obra de arte interativa, onde você podia adicionar tipos variados de fios à uma trama que parecia uma teia colorida. Eu e Chris então fizemos nossa contribuição À confecção da tal obra de arte, enquanto esperávamos Luli (nossa amiga local),com seu namorado e Bruna. Os três então nos levaram para uma chopperia na praia de São Francisco e ficamos por lá apreciando os ares de Niterói, a vista e a companhia. De lá rumamos pruma loja de sorvete a quilo (coisa que também há muito não fazia) e de lá então Luli resolveu fazer o caminho inverso: acompanhar-nos na volta pro Rio pra então continuarmos aproveitando a noite mais perto de nossas casas. Já era quase 23hs quando pegamos a ponte Rio-Niterói de volta (que então deveria se chamar ponte "Niterói-Rio") e rumamos pro The Irish Pub, o único pub que eu me lembrava não ser apertado e não ter proibitivos lances de escada.Antes ainda dei uma parada em casa pra trocar a camiseta por algo mais de acordo com a temperatura que estava fazendo, e então acabei indo justamente com a camisa da cerveja Guiness, e chegando lá não deu outra: meu pedido foi um pint de Guiness!

(Nota:Pra quem não conhece, um pint é uma medida de volume equivalente a 568ml que é justo o tamanho do copo tradicional de cerveja. Guiness é a marca da cerveja mais tradicional da Irlanda(de onde surgiu a idéia do Guiness Book o livro dos recordes).Uma cerveja escura, feita de grãos torrados, muito encorpada e amarga como o café, porém bastante refrescante e revigorante. Não tomava essa cerveja há muito tempo, e por isso esse foi outro grande momento desse dia.
Passada a sessão pub, agora era a vez de voltar pra casa. Já era 1 da madruga e acabou sobrando pra o sr.Chris e sua clavícula em desvantagem a tarefa de me "içar" pelos 8 degraus da minha portaria pra eu chegar inteiro em casa.

Passeio fora do Rio e ainda curtindo uma vida noturna com os amigos...mais um grande e memorável dia (e noite)!

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Postado por Antonio Bordallo às 3:37 PM

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Dìários de cadeira de rodas


Meus dias têm passado e cada vez mais encaro desafios de andar pelas ruas mal projetadas. Mal ou bem acabo conseguindo superá-los e tendo boas histórias pra contar. Talvez a coisa que me faz sentir menos diminuído na rua ao andar de cadeira de rodas é o fato de como eu encaro a mesma. Eu nunca me sinto usando um veículo para pessoas incapacitadas de alguma forma, mas sim como um tipo mais "preguiçoso" de skate ou bicicleta. É uma pena a cadeira sempre denotar alguma inabilidade, pois nem todos que dela necessitam se sentem como tal. Alguns, como eu, muito pelo contrario. Digo isso por causa de um filme documentário chamado Murderball, que fala sobre o rugby em cadeira de rodas, que apesar de ser um esporte para pessoas com lesão medular, seus praticantes não se mostram nada "frágeis"... só vocês vendo mesmo pra entender... e desde que esse conceito foi agregado á minha conduta, passei a me queixar menos da minha perna e exaltar mais a força de meus braços. Mãos (e braços) à obra!

É uma pena que só testemunhem minha real desenvoltura ao correr na rua quem não ande comigo, já que quando ando acompanhado ,por questão de educação, eu acabe andando num passo mais civilizado, por que pra mim não existe muita diferença entre minha cadeira e um skate ao andar na rua... vou num passo acelerado, driblando as pessoas em velocidade numa habilidade que acredito que tenham poucos, e em situações mais cascudas, até chego a fazer um certo sprint num acostamento de pista quando muito necessário. É claro que não faço tudo isso na loucura, é tudo risco calculado e com a cautela de quem já sofreu as conseqüências da imprudência de terceiros no transito... como dizem, “quem tem, tem medo”. E quem não tem (uma perna) tem mais medo ainda...

Desses dias de aventuras numa cadeira de rodas vou me lembrar com saudades das minhas corridas como grandes exemplos de, na necessidade, vale tudo pra conseguir cumprir as metas, não importa sua condição. Uma corrida apressada à estação de metrô ao som de "Il ballo del mattone" de Rita Pavone conferiu um clima de filme (daqueles bem alegres dos anos 60) à uma coisa que nem todo mundo na cena enxergava como os mesmos olhos... a corrida entre altos e baixos na rua Marquês de Abrantes, no Flamengo, me remeteu às insólitas skate sessions na rua, onde driblar os obstáculos urbanos era a verdadeira graça de tudo e, mesmo com o fôlego e energia na reserva, consegui chegar no lugar desejado no horário estipulado.

Houve também situações que tomei um certo susto, mas não foi nada tão grave, apenas um cálculo mal feito. Certa vez na semana retrasada, saltei na estação Praça XI do metrô pra seguir em direção do curso de silk screen. Para tomar um taxi até o local do curso, é necessário eu andar um trecho de meio quarteirão ate a rua principal. Nesse pequeno caminho tinha uma área próxima dum bar que o desnível de concreto do chão fazia um degrau de uns 5 ou 6 cms. apenas. Confiando na minha habilidade rotineira de empinar a frente da cadeira por alguns instantes quando em movimento, acabou que eu cheguei nesse local numa certa velocidade, contando que na hora certa eu iria empinar a cadeira e passar em grande estilo, mas talvez por um certo nervosismo da primeira vez, eu acabei empinando a cadeira um tanto antes , e como conseqüência as rodinhas da cadeira também desceram antes, encontrando assim com a barreira física dos 6 centímetros, o que freou bruscamente minha cadeira e me jogou realmente longe,mas graças a Deus , ainda sentado, na cadeira. Foi um senhor susto, mas ainda recebi o apoio de um gari que estava justo lá naquele momento. Por um lado cheguei a agradecer haver somente uma pessoa testemunhando aquele mico. Não sei o que as pessoas pensariam de ver um maluco de cadeira de rodas correndo alguns leves riscos assim deliberadamente.

Prefiro acreditar que tudo isso é apenas um deslumbramento, uma vontade de descarregar essa vitalidade que ficou por tanto tempo presa, sem poder ser colocada pra fora. Da mesma forma que uma marca de sabão diz que “se sujar faz bem”, eu digo que “levar pequenos e leves sustos também faz bem”, talvez isso comprove que você está cada vez mais vivo. Se viver é correr riscos, cada vez mais me sinto mais vivo.

...eu estou apenas esperando sentado pela hora de ficar em pé...

=) Posted by Picasa
 

Postado por Antonio Bordallo às 2:59 PM

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Embalos da sábado à noite


Sábado passado reconquistei outro item que faz parte da minha vidinha normal tal qual ela era antes: sair à noite. Não foi uma balada, com musica alta e dançando até o dia clarear, mas eu já posso dizer sim que fiz um programa noturno, ou seja, que saí à noite para isso, e não que saí e só cheguei à noite, como em algumas vezes.

Tudo isso aconteceu quando minha amiga Luli, de Niterói, me ligou, avisando que ia aparecer aqui em Copacabana, num rodízio de petiscos, que tem na Av.Atlântica. Confesso que não me animei muito não, e pelo simples fato de sair a noite e tal, pois me preocupava a idéia de talvez precisar ir ao banheiro e não queria ter que abreviar a diversão do pessoal para eu ter que voltar pra casa pra fazer xixi. Isso porque realmente não da muito pra contar com os banheiros de restaurantes da Av.Atlântica, uma vez que, até mesmo pelo preço do metro quadrado na tal avenida, eles não fazem banheiros tão espaçosos a ponto de dar pra passar uma cadeira de rodas...

Confiando na capacidade de me segurar e levando em conta que a companhia valeria a pena, resolvi encarar essa novo desafio. Luli chegou pra me buscar a umas 9 e meia junto da Bruna, que só depois eu descobri que já era minha “amiga de fotolog” e eu não associava (/vehuel). Seguimos pra o tal restaurante e ao chegar lá, sentimos o drama de uma fila enorme de pessoas com o mesmo objetivo que o nosso. A procura era tanta que a fila do restaurante (que oferece rodízio de petiscos a 10 reais, a nova moda entre os restaurantes daqui) chegava quase na av.Copacabana (o outro lado da quadra). Dessa vez tive que me aproveitar da minha condição em nome do meu conforto e das que estavam comigo. Fui irrompendo por entre a multidão e pedi ao maître que me adiantasse o lado. Somente quando o gerente apareceu que realmente foi me concedido tal direito e então depois de uns 15 minutos esperando chegou nossa vez de aproveitar o rodízio.

Posso dizer que foi tudo muito bom, principalmente por causa de companhia que estava comigo. Tiramos algumas fotos (que mais abaixo mostrarei) e então pude finalmente dizer que já estou apto a programas noturnos, desde que ainda não seja nenhuma boite lotada, claro (vai chegar a hora, aguardem...).

Na volta o desafio foi como esperado. Sem porteiro pra me ajudar a subir as escadas do prédio, acabei tendo que me aproveitar da energia e disposição das duas meninas e mais minha mãe pra eu chegar ao nível do elevador e voltar finalmente pra casa. Ter amigas fortes é o que há!
Cheguei em casa com a satisfação de quem sabia que mais uma coisa, a partir daquele momento não era mais impossível...
=)

abaixo, uma foto montagem q eu fiz com a Luli, a Bruna e eu..já q não tiramos foto nós três...
PS: vale ressaltar que Luli e Bruna são exemplos a serem seguidos, portanto, me chamem sim pra alguma atividade à noite, que então veremos a viabilidade da tal empreitada. Vai ser muito bom estar de volta à ativa junto dos meus amigos de sempre e dos próximos que virão. Posted by Picasa
 

Postado por Antonio Bordallo às 2:55 PM

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Uma ótima lição


Li há algumas semanas um livro que me chamou atenção. Era um livro da serie Depoimentos (produzida pela editora da Universidade Estácio de Sá) que contava a recente trajetória de Andréa Salgado, uma professora que há alguns anos atrás sofreu um acidente onde uma lancha acabou amputando suas duas pernas. Apesar de não sofrer similar perda, sinto de certa forma algumas semelhanças entres nossas lutas, pois ainda hoje sigo em recuperação da minha perna esquerda e em decorrência disso,nem chance ainda tive de colocar uma prótese de fato.

Outro fato bastante estimulante pra eu lê-lo, foi que, a partir de contatos de contatos entre eu e a autora, consegui um exemplar dela autografado e com dedicatória! Isso me fez sentir ótimo, pois de alguma forma ela sabia que eu estava passando por uma fase difícil como a dela,e de alguma forma quis me ajudar me apresentando o seu próprio exemplo, então a empatia com a figura dela começou logo aí...
=)No livro ela conta de forma muito clara sua vida como era antes, como foi o acidente, sua recuperação e toda sua trajetória até a volta a andar com prótese, que não foi nada fácil. Esse livro teve bastante utilidade pra mim, não somente pela lição de vida, mas também por me permitir conhecer mais desse árduo caminho até voltar a andar, pois apesar dessa ser uma realidade bem próxima a mim, tudo era bastante desconhecido, pois os médicos não adiantam muito o que vão fazer contigo. Eu sabia que eu podia voltar sim a andar, mas eu não fazia idéia por quais processos eu teria que passar até isso acontecer. Foi uma senhora lição pra mim e aconselho a leitura não somente à pessoas amputadas que querem conhecer seus próximos passos até a completa reabilitação, mas também às outras que não passam por problemas dessa proporção, mas acabam sempre encontrando motivos pra não estarem felizes com a própria vida.

Problemas ao longo da vida, todas as pessoas, invariavelmente, têm. O único diferencial que umas pessoas têm das outras é a forma como cada um encara os seus problemas, e é isso justamente que separa as pessoas felizes das pessoas tristes.
O que sustenta nosso corpo não são nossas pernas,mas sim nossas cabeças. Sem elas em ordem, podemos ter as pernas mais fortes e bonitas, que continuaremos curvados e sem sair do lugar, observando a vida e os outros passarem por você.

Eu e Andréa, por exemplo, escolhemos passar o resto de nossos dias da forma mais feliz possível, pois pior que o fardo de passar o resto da vida sem uma ou duas pernas, é ter que passar o resto da vida TRISTE.

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Postado por Antonio Bordallo às 2:35 PM

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