aproveitando a segunda chance

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quarta-feira, agosto 30, 2006


A prova do ENEM e outras reflexões


Havia chegado o dia. Esse ano eu não pude tentar uma bolsa de estudos através do Pro-Uni (programa do governo que libera bolsas de estudo para a população carente em geral) porque só era possível se eu tivesse feito o exame do Enem. Como “na minha época” tal exame não tinha tanta importância e pra ter feito o teste do ano passado eu teria que ter me inscrito em abril (ou seja, antes do meu acidente), só me restou me programar pra fazê-lo esse ano mesmo...

O prova então foi marcada pra esse último domingo no campus da Universidade Santa Ursula, entre Botafogo e Laranjeiras.As complicações já se instalavam desde o início, pois meu psicólogo, que conhece o local, havia me dito que tal prédio que eles haviam determinado pra eu fazer a prova não tinha acesso tão fácil, talvez num lado não aparente. Liguei pra lá dias antes e avisaram que a universidade não podia fazer nada, que eu reclamasse com o Enem. Enfim, na altura do campeonato era mais fácil eles me deixarem fazer a prova ao ar livre do que mudar o local da mesma...

Acordei cedo. Umas 7 horas já estava de pé. Não sei se era tensão ou vontade de me livrar logo desse problema de provas. Nunca gostei de provas, pois o nervosismo de ter que provar todo meu conteúdo acerca de um assunto tem que ser determinado com hora marcada sempre alterava o resultado final, e sem considerar as “condições de temperatura e pressão”... resultado : em todas provas acabo mostrando menos o que sei. Mesmo assim deixei de lado a angústia e concluí mais um simulado do Enem doas que andei fazendo por conta própria e conseguia uma media de acertos entre 75 e 86%... bom ,mas podia ser melhor.

Segui pra prova de táxi e logo na entrada dois grandes desafios: abrir caminho de carro entre a multidão de outros estudantes e fazer isso numa ladeira íngreme contando que o carro é de motor 1.0 e à gás... A multidão olhava pra dentro do carro e achava que eu era VIP por estar indo de carro. Antes fosse...

Subimos até o final do prédio e não vimos lugar plano suficiente pra embarcar. Tempos depois vimos que a única forma era uma entradinha que tinha no meio da rampa íngreme. Como sair do carro sem parar lá embaixo é que era o problema.

Chamamos um moço que trabalha na instituição pra ajudar, pois o lugar era muito ruim de manobrar e só daria pra chegar dando a volta no carro, numa rampa que nem freio nem braço seriam suficientes pra anular a força da gravidade sobre a cadeira de rodas. Pela primeira vez nesses tempos de cadeirante eu sentia o medo real de um possível desastre. Era só um não agüentar a força ou a cadeira escorregar, que só daria pra me catar lá embaixo, uns 100 metros a frente.

Com muita cautela o dois moços seguraram minha cadeira e foram empurrando até o lugar plano. Que medo! Pretendo não voltar mais lá nessa condição.

Uma vez no prédio, me restou chegar ao 6º andar. Considerem que em dia de prova outras centenas de pessoas pretendem o mesmo, e disponibilizando apenas quatro elevadores... Essas horas que eu tenho direito a privilégios é a que me sinto mais constrangido. Por eu ainda me enxergar como um deles me sinto com o dever de esperar a vez no elevador como outro qualquer, mas sempre vem alguém e me coloca logo no elevador!

Chegando na sala da prova, uma sensação nova. Pela primeira vez depois do acidente eu me vejo numa sala de aula. Um ambiente como o de um trabalho, de convivência quase que diária, sem necessariamente gostar das pessoas ao redor. Um simulacro da vida cotidiana que há muito eu não vivia. Claro que era apenas pra aquele dia de prova, mas pra mim já era um bom “trailer” do que pode acontecer num futuro breve. E eu tinha que ver como que eu reagiria, a ficar até 5 horas no mesmo lugar...

Logo no início houve um problema de ergonomia. Como sabemos, a cadeira pra se fazer prova tem um suporte lateral pra gente colocar a prova ou livro e escrever, mas minha cadeira não. Como então eu escreveria? A única solução disponível foi colocar uma dessas cadeiras virada de frente pra mim, mais pro lado direito. Pronto, já tinha um suporte. O único problema era que tal suporte em vez de ficar angulado de frente pra mim, ficava justo o contrario. Na prática era como se eu estivesse lendo a prova na mesma perspectiva dos textos do Star Wars, que diminuíam o quanto mais alto ficavam. Tentem ler um texto dessa forma por mais de 3 horas...

Começa a prova. Pra minha infelicidade tal prova pareceu bem mais difícil do que todos os 6 simulados que havia feito até então. Se fosse isso apenas até dava pra improvisar, mas o quadro se agravou com uma gripe ou resfriado que resolveu chegar com tudo na hora que começou a prova. Espirros, coriza, nariz entupindo... tudo o que eu não precisava naquele momento dividia agora a atenção entre cálculos e interpretações de textos e gráficos...
Outra coisa que mal ou bem contribuiu pro meu mal estar foi o fato de ter que ficar por varias horas parado, tenso no mesmo local. Resolver dar um passeio ou uma esticada maior nos músculos poderia ser penalizado com a perda da prova. Mas era sim uma situação que muito me incomodava. Por um momento eu senti que ainda não era hora pra me prestar a tamanho “esforço físico” de ficar parado, mas depois considerei que uma aula de faculdade normalmente tem uma hora e meia, além de eu poder interagir com o professor durante a aula.

Acabo a prova sentindo que esta não provou nada do meu conhecimento. Mas saio de lá ciente de que fiz o que pude, na condição que era possível no momento, e que me preocupar ou ficar triste não vai me dar mais pontos na prova. Meu desafio naquela hora era sair de lá, então tive que pedir a um encarregado que trabalha lá na universidade pra me conseguir um táxi láaaaa embaixo... quase 15 minutos depois eis que surge o veículo.
Aproveitei o ócio e tirei umas fotos como essas abaixo:




A foto do local é a parte de onde eu tinha que entrar no táxi, no meio da rampa...

Segui pra casa, mas minha vontade real era de relaxar depois de 3 semanas tensas de estudos. Resolvi então parar na sorveteria e comprar um tijolinho de sorvete, meio pistache, meio chocomenta. Se quiserem ver o Antonio feliz, me dêem sorvete!
=)

Enquanto esperava a moça da sorveteria colocar as duas maravilhas no isopor, um casal de velhinhos se dirigiu a palavra a mim perguntando se eu falava inglês. Uma vez afirmado, eles me perguntaram como foi que eu fiquei assim e então contei-lhes que foi de acidente de trânsito. Eles então me contaram que observaram muitas pessoas nesse estado assim como eu na cidade e por isso eu disse que é tudo porque algumas pessoas no Brasil dirigem muito mal. Eles então me contaram que na cidade onde moram (New York/ New Jersey) as pessoas também dirigem como loucas, mas não se vê muitas gente assim como eu na rua. Diante de tal dado, só nos restou então concluir que a diferença de uma metrópole pra outra seria justamente o fato de aqui haver impunidade e lá não. Pensemos bem: o motorista que sem mais nem menos pegou o ônibus e jogou em cima de mim, no mesmo dia voltou pra casa na boa. Nem chegou a se preocupar se ia ser preso ou não, e de fato nem vai ser. Já eu não. Nessa mesma noite fiquei entre a vida e a morte, e estou até hoje sem poder andar. Talvez esse contraste de situações ilustre melhor o que chamamos de impunidade no transito.

Depois desse enriquecedor papo, fui pra casa carregando meu “pote de ouro verde gelado”. Já eram quase 7 horas e o porteiro não estava mais lá. O boteco ao lado cheio de gente já no grau me desestimulou de pedir ajuda. Resolvi encarar as escadas me arrastando, dessa vez sem o mesmo sentimento de indignação que eu tinha normalmente. Dessa vez preferi acreditar que se arrastar é a melhor forma de se dar valor ao chão onde a gente pisa. E assim fui, me arrastando lentamente, sem reclamar de estar sujando as mãos ou a calça... sem reclamar da chance que ainda tenho.

Chego em casa e depois de uma boa e merecida sessão de descanso e sorvete, resolvo checar o resultado da parte objetiva da prova. Entre chutes certos e erros por falta de atenção maior (não preciso nem dizer o possível culpado), somo o equivalente a 69% de acertos. Muito abaixo da minha média dos simulados, mas ainda uma nota suficiente pra se conseguir algo. Ainda falta a nota da redação, que eu sei que não fui tão mal assim. Tirando 9.9 ou 6.9, o que foi e vai ser determinante pra mim está baseado na boa vontade dos pontífices da PUC para com minha nota e minha condição. Rezemos. Posted by Picasa
 

Postado por Antonio Bordallo às 7:04 AM

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sexta-feira, agosto 25, 2006


Mais desafios, mais compensações, mais liberdade


Mais um dia movido pela audácia. Quis sair hoje, e cheguei a ponto de inventar desculpas pra isso. Me sinto como uma criança mais crescida que, descobrindo que já pode ir pra rua e fazer quase tudo que quiser, cria qualquer motivo pra poder estar em contato, interagindo com o mundo exterior. Uma das coisas que me motivaram a sair de casa e encarar o mundo tal qual ele se encontra foi quando eu parei pra pensar e senti que o mundo girava, mas eu não saía do lugar. Estou um tanto pra trás agora, mas pegando o embalo eu acabo alcançando vocês...

Resolvi voltar ao centro hoje. Lá sempre tem algo pra ver e por estar muito tempo sem passar por todas aquelas sub-regiões do centro eu preciso ir lá algumas vezes, já que longos trechos ainda são impossíveis e cada esforço extra se reflete em mais calos e dores na minhas mãos. Dessa vez fui pra área que vende artigos de informática, no Largo da Carioca.Fui de metrô com minha mãe, só que ela ficou comigo até a estação de Botafogo e de lá seguiu seu rumo.

Chego a estação Carioca. Noto que não há elevador ou facilidade alguma para cadeirante. Meu senso prático e criativo, que só é ativado em casos de extrema necessidade, resolve então pôr em prática algo nunca antes tentado, mas que se executado de forma errada podia ter conseqüências desastrosas: subir sozinho de escada rolante.

Eu sempre ouvia os seguranças do metrô dizerem que os cadeirantes sobem tal escada sozinhos, mas eu nunca entendia como que eles tinham braço pra segurar firme aquela lateral de borracha lisa. Tive que entender na marra, já que ninguém ouvia meus apelos lá de baixo...
Minha incerteza aumentou quando, do nada, a escada parou, e algum tempo depois retomou o funcionamento. Parecia alguma rotina automática, como se ela somente funcionasse quando os vagões do metrô desembarcavam passageiros e parassem enquanto não havia trem na estação. Medo... e agora? E se eu estiver no meio do caminho e a escada parar? E se eu não agüentar segurar meu peso lá do alto e despencar? E se ninguém conseguir ouvir meus gritos de socorro? Eu tava sozinho, e só ia descobrir o que o que ia acontecer se eu me desse a chance de encarar tal desafio. Respirei fundo, me agarrei firme e FUI!

Digo a vocês que a situação é tensa. Minha segurança e integridade física dependendo tão somente da força de meus braços e da incerta aderência do trilho de borracha. Cheguei a olhar pra trás pra sentir o tamanho da encrenca que tinha aceitado encarar...mas consegui. Com um certo tropeço no final, mas já me deu a manha pra ficar esperto da próxima vez. Não dá pra marcar bobeira com uma escada rolante.

Cheguei ao nível superior, agora era seguir o caminho...mas como? À minha frente tinha apenas algumas catracas de saída e uma grade, mas nenhum segurança...fiquei assobiando discretamente pra alguém prestar atenção e tomar alguma providência, mas nada. As pessoas olhavam, mas me ignoravam com um egoísmo metropolitano. Solidariedade? Nada... a agenda deles não permite isso. Minhas preces só foram ouvidas quando outro simpático cadeirante passou e então eu o pedi encarecidamente pra, se encontrar algum segurança, fazer o favor de “compartilhá-lo” comigo. Mais um tempinho e lá aparecia o requisitado cavalheiro.
Ele chegou a perguntar se eu queria alguma ajuda na segunda escada rolante, mas eu preferi praticar mais uma vez, sob minha conta e risco.
As pessoas à minha frente observavam meio abismadas com minha força. Seja a força física, seja a força de vontade, ambas estavam sendo requisitadas em caráter especial naquela hora. E lá chegava eu ao nível da rua. Desafio proposto, desafio superado. Que venha o próximo!

Sobre o passeio no centro eu não tenho muito o que dizer, por ser um trajeto como o de uma pessoa normal, com a diferença apenas de que pra me locomover usava , e muito, os meus braços... a volta sim é que reservava muitas coisas.

O caminho de volta pra casa me reservava, como conseqüência natural, o desafio de agora descer as tais escadas rolantes que eu subi, mas achei que fosse desafio demais prum dia só. Deixa eu pegar a manha de subir que então apronto a loucura de descer também...

Chego em Copacabana e resolvo fazer um caminho diferente. Não estava com o tempo contado e sentia saudade de passear pelas ruas da minha área, ver gente circulando...o mundo girando, propriamente dito.
Logo na esquina, esperando o sinal abrir, um amigo dos tempos de colégio, o Cristiano, me reconhece e vai falar comigo. Mais coincidente foi que ele ia justo pra casa de outro grande amigo que mora lá perto, o Bernardo. Ele chegou a me dar idéia de ir acompanhá-lo na tal visita, mas a incerteza da acessibilidade do prédio me fez recusar... muito chato isso: agora eu não posso visitar meus amigos sem saber se o prédio deles permite ou não meu acesso...bateu uma indignaçãozinha no fundo...
=/

Segui meu rumo, pois ainda havia muita coisa a se explorar... desci a rua Siqueira Campos e metros mais a frente vejo a loja de Hortifruti. Quanto tempo que eu não voltava lá! Era o local que eu mais gostava de fazer compras porque eu sentia que aquele era um dos meus hábitos mais saudáveis, o que atestava a mim mesmo que não é porque eu sou um ser urbano que eu só como junk food. Aquele cheiro de fruta fresca que impregna o ar... chegou minha vez de voltar a viver como mais um ser normal da vizinhança. Peguei dois gomos de tangerina que eles deixam lá separado justo pra pessoa provar, e aqueles dois gomos tiveram mais sabor do que todas as tangerinas que eu provei desde maio de 2005 juntas. Ela tinha gosto de liberdade, liberdade de escolha. Eu não mandei ninguém buscar algumas tangerinas pra mim. Fui eu mesmo lá, olhei e escolhi os dois gomos que mais me apeteceram. Gomos de tangerina tão simples e marcantes...e olha que essa não é minha fruta predileta. A LIBERDADE sim, que é minha fruta predileta.

Mais ao fundo no tal estabelecimento cheguei ao setor de sucos, onde você paga lá mesmo e eles te dão um copo de suco que tá sendo feito lá na hora. Mais uma vez eu exaltava aquela liberdade de poder ver o que havia disponível e, pelo seu instinto do momento, escolher um sabor ou outro. É realmente muito chato você ficar em casa e ter que determinar o que você vai querer comprar sem ver a cara de nada, sem poder sentir o que está mais bonito num dia, qual fruta está exalando o melhor cheiro... essas coisas só entende que faz pedidos de compras por telefone. Ao vivo pude pedir uma provinha de cada suco pra poder decidir qual eu estaria mais afim de tomar naquela hora...até dessa provinha, com ares de “quero provar todos os sabores” eu sentia falta...

Continuei meu rumo depois pela rua Hilário de Gouveia... e eis que finalmente chego à avenida Atlântica (a rua da praia). Ahhhh.... parei imediatamente minha cadeira, dei uma respirada bem funda e me espreguicei diante daquela vista que meio que representava minha liberdade. Eu me sentia do tamanho daquela praia, uma pessoa forte que, com a força de seus braços e calos de suas mãos chegou sozinho à aquele lugar onde ainda se pode ver uma paisagem pouco modificada pelo homem. A praia, a fuga de todo homem desse modo de vida urbano que nos consome... Foi um momento de contemplação e autoreconhecimento do esforço. Eu sabia que um dia eu mereceria ser capaz de voltar a ir à praia sem precisar de ninguém.

Minha presença no calçadão despertou olhares impressionados... pareciam admirar minha força de vontade de estar ali sem ninguém me empurrando ou auxiliando. Alguns olhares desses chegam a compensar algumas dezenas de olhares de espanto ou pena que venho recebendo até então...
Cheguei a um quiosque, escolhi a mesa onde eu pudesse ficar mais contemplativo à natureza e assim o fiz... Fiquei sem pressa lá...esticando minha perna, observando o movimento das pessoas, a leve deselegância ingênua das gringas que tanto gosto de observar, os comentários bem humorados que os trabalhadores do quiosque fazem entre si... a vida me sorria um pouquinho.

Voltei pra casa de alma lavada. Os calos das mãos ainda me doíam um pouco, mas aquela dor valia a pena. Já tinha sofrido muita dor até então. E nenhuma delas havia me dado a paz e deleite que essa dor me proporcionara.

Ao chegar na portaria, nenhuma coincidência mais fantástica do que minha mãe aparecer chegando na portaria naquele mesmo momento. Pra quem via, saímos juntos e voltamos juntos. No fundo no fundo, ela estava do meu lado, o tempo todo.

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Postado por Antonio Bordallo às 8:04 PM

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terça-feira, agosto 22, 2006


Antonio vai às compras...sozinho!


Devo admitir que a cada dia que passa estou me sentindo cada vez ousado a fazer mais e mais coisas que antes não fazia. Minha filosofia de conduta agora é “se não dar pra fazer algo, vamos ver como que fica se a gente adaptar algumas coisas...” e estou tendo êxito nisso.

O desafio do dia foi ir ao banco e comprar alguma roupa pra mim sem a ajuda de ninguém, consegui superá-lo, não sem alguns acontecimentos bem interessantes que vou lhes contar.

A ida ao banco foi tranqüila. Passei por uma porta lateral àquela giratória que todo mundo odeia (e ninguém verificou se eu estava “armado com um celular” o não... viu que vantagem?) , depois tomei um elevador ao 2º. piso e resolvi tudo sem muito problema. Até digo que fiz uma certa questão de não pegar a fila especial para idosos ,gestantes e deficientes... ainda não consegui deixar de me constranger com isso, fora que também vocês não sabem o quanto aumenta a minha auto-estima saber que não preciso que os outros facilitem as coisas pra mim... a perna direita não está mais comigo, mas o resto do Antonio continua igualzinho...

Saindo do banco, segui pra uma loja de roupas (a C&A de Copa... depois eu cobro o merchandising...) comprar alguma calça pra mim, já que a única que eu tenho usado, por caber sem problemas a minha perna com o fixador, tem sido uma calça clara que apesar de bonita não agüento mais usar, lavar e reusar em seqüência...

No caminho pra lá sofri um susto: estava em uma velocidade regular, apesar de meio rápido, quando subitamente perco o controle da cadeira e rodo! O responsável por tal surpresa foi um mero encaixe de tampa de bueiro (aquele que se encaixa um arame ou pé-de-cabra para abri-lo...). A rodinha da frente da cadeira caiu lá fazendo-a perder totalmente o controle e rodar sob o eixo dessa roda que caiu. A sensação foi a mesma de se puxar o freio de mão em alta velocidade. QUE SUSTO...

Passado o susto e chegando na loja, grande foi minha surpresa ao constatar que toda a seção masculina tinha sido transferida para o... 2º andar! A Lei de Murphy tem andado pau-a-pau com a Lei da Gravidade hoje em dia... e lá fui eu. Só tinha aparente uma escada rolante e, já que o segurança do metrô tinha me dito que os cadeirantes as usam sem nenhum auxilio (insinuando então que eu era um medroso) resolvi tentar a sorte...se a dita cuja não fosse tão estreita (...olha a Lei de Murphy aí, geeeente!). Me restou então uma atendente me indicar o caminho do elevador de carga que, invariavelmente, é o lugar mais feio de uma loja bonita, podem estar certos disso.

Chegando no segundo piso, retorno ao setor com cara de loja, não sem antes manobrar por entre enormes araras de roupa, um trabalho de extrema perícia. Procuro as calças e dessa vez a compra de roupas não é mais como antigamente, é tudo na base da comparação com o que estou usando, então pra ver se não vai apertar minha cintura, retiro a calça e a estico em minha cintura, pra ver se a abertura da perna vai permitir passar meu fixador impunemente eu tenho que pegar a tal abertura e comparar com a da calça q eu vou usando, e assim vai... pior do que isso tudo é, depois de escolhidas as roupas, ter que dar um jeito pra carregá-las sem ocupar os braços, que servem agora pra mover a cadeira. Invariavelmente você acaba parecendo uma arvore de natal, com inúmeros itens pendurados e se equilibrando no seu colo... e qualquer movimento brusco você já sabe que vai tudo pro chão!

Já que ,apesar de bastante vacinado, ainda tenho alguma veia consumista dentro de mim, acabei então resolvendo comprar uma camisa que eu acabei simpatizando. Só que, como sempre, fiquei em dúvida entra o tamanho G e o GG, e essa dúvida cruel acabou me levando ao setor que eu evitara até então: o provador.

Não só parece, como é realmente impraticável você vestir uma calça no provador estando de cadeira de rodas como realmente o é. E por isso mesmo que já fui dizendo de cara: “olha só,vim aqui só provar a camisa mesmo, e as calas eu já vou levar...”. Não bastasse essa limitação, veio à tona outra: será que minha cadeira cabe inteira numa cabine de provador? Acabou que coube,mas no limite: não dava nem pra ficar de frente pro espelho, mas já dava pro gasto. Tirei roupa, provei, reprovei e segui...

Depois de me equilibrar até o caixa, chegou a hora de pagar...nesses lugares não existem filas especiais, talvez por que pessoas com problemas de acessibilidade nem ousem mesmo chegar em lugares assim (ao menos foi o que eu senti até então pelos olhares e insuficiências estruturais do local), e mesmo que houvesse fila, eu ia, como no banco, acabar querendo usar a fila regular mesmo...minha objeção foi apenas pensando nos outros...

Outra parte que me chamou atenção no momento do caixa foi que, depois de um tempo reparei que o rapaz que me atendeu tinha algum tipo de má formação óssea na mão, mas isso não comprometia em nada seu desempenho: estava lá me atendendo tranquilamente como os outros caixas do setor. Pode ter sido uma coincidência de nada,mas aquilo me provou mais uma vez que a limitação maior pode vir de nós mesmos. Se não olharmos algumas coisas como grandes obstáculos, elas realmente não serão. Mais difíceis que para uns outros? Talvez, mas nunca será impossível...

Passado o instante de reflexão, volto à dureza da realidade. Agora com um saco grande de roupas, como é que eu vou fazer pra carregar isso até chegar em casa? Já que a necessidade nos leva a sermos mais e mais criativos, eis que me ocorre então de encaixar a sacola entre minhas costas e o encosto da cadeira, fazendo a minha própria postura segurar tal volume, e assim fui...com mãos livres novamente para fazer ainda mais compras...

Rumei agora pra alguma drogaria, só que dessa vez não foi a de sempre. Eu sempre ia numa Drogaria Pacheco que tinha por aqui porque era mais perto, mas tinha um degrauzinho bem chato e também notava apesar de ver minha mão me ajudando, ninguém ia lá pra tentar poupar-lhe esforço. Resolvi por em prática o esquema da livre concorrência e optei por uma drogaria menor (chamada Pop) que fica há só mais 20 metros de distancia e tem rampa. As Drogarias Pacheco perderam mais um cliente, até porque aquela não é a única filial deles com sérios problemas de acesso...

A parte hilária desse episódio foi que , na entrada, provavelmente fazendo propaganda de algum produto anti-tabagismo, havia um homem-cigarro ambulante, que de fato dava um certo medo, misturado com uma vontade quase que imediata de rir... e o hilário foi que esse mesmo cigarrão se ofereceu pra me ajudar a subir melhor a rampa da entrada. Confesso que nunca vi um cigarro tão solícito em toda minha vida. Um exemplo pra todos o outros da classe, mas elegantemente recusei, até porque como que eu ia explicar que um cigarro me ajudou a subir uma rampa? Pra não virar lenda urbana, tirei discretamente uma foto do solidário enrolado de fumo...

Na seqüência segui para as Lojas Americanas (que a essa hora já deve estar me devendo uma boa grana de publicidade) pra comprar mais alguns produtos. Logo na entrada, perguntei a um atendente onde encontraria alguns produtos de limpeza. Ao avisar que era só no 2º piso, detectou imediatamente a necessidade de me levar ao elevador de carga pra eu chegar até lá. O que eu não esperava era que, num lugar tão bonito e organizado, o elevador de carga fosse tão amedrontador. Até pelo fato de que seu fechamento é manual, a descer, mover e girar vários dispositivos, ficar enclausurado naquele cenário estranho foi a experiência mais horripilante que tive nos últimos anos. Aconselharia o estabelecimento a oferecer passeios no mesmo como título de Trem Fantasma ou A Cabine do Terror... vão por mim, sala de tortura perde.
Mais cômico do que minha ida foi constatar que eles não tinham nada do que eu estava procurando e, por isso, eu ainda ia fazer uma viagem extra no “elevador fantasma” a troco de nada... mas não sem, no 1º piso, comprar algumas besteirinhas pra compensar.

Saí de lá com dificuldades reais pra me locomover, mas por causa do grande volume já somado àquela hora. A dificuldade era tanto que, a poucos metros da minha casa, alguém subitamente toma o controle da minha cadeira sem me perguntar nada e foi me empurrando... À essa hora eu já estava todo sem jeito, agradecendo a boa vontade, mas que não precisava tanta ajuda, que eu morava logo ali e tal...
E então a pessoa pára e quando vejo é a Renata, uma grande amiga que apesar de nos gostarmos muito , raramente nos vemos e sempre en passant. Foi uma ótima surpresa, até porque , ali mesmo na rua resolvemos colocar os papos em dia, saber das novidades de cada um... foi ótimo. Uma grande premiação final depois de uma corrida dessas.
=D

Restou ainda relatar o acontecido na portaria, já que dessa vez o porteiro estava,mas tive que declarar “excesso de bagagem” e por isso o que não era Antonio ou cadeira de rodas, teve que subir em separado,hehehe...

A chegada em casa teve um certo empecilho, pois o peso ou a falta de jeito de se locomover estava tão grande que restou a mim gritar pela minha mãe pra ela abrir a porta e me ajudar a “desatolar” daquele buraco entre o elevador e o andar...

O momento que me refiro é este aqui da foto:


Como um extra tem essa foto aqui também:


Mais um dia , mais um desafio , mais uma superação... e assim vou: melhor que ontem, pior que amanhã...
=) Posted by Picasa
 

Postado por Antonio Bordallo às 2:20 PM

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Dor não tem preço, nem pra seguradora


Um dia esperado, mas com uma decepção inesperada. Isso foi o que senti há poucos dias, quando recebi em casa um telegrama avisando que o dinheiro do seguro DPVAT (que todos temos direito, se formos vitimas de qualquer acidente automobilístico) tinha sido finalmente liberado pra mim, depois de longos 15 meses...

O que eu não esperava era que eu fosse receber apenas 70% do preço máximo que eles se propõem a pagar. Não estou aqui me queixando da quantia, até porque é uma certa ajuda sim, mesmo que a perda da minha perna não tenha dinheiro que pague, mas eu me senti um tanto ultrajado com esse critério que eles adotaram pra determinar o valor do seguro que tenho direito.

Segundo eles, eu teria direito a 100% do seguro se eu tivesse tido um invalidez permanente. Graças a Deus não foi esse o caso, mas esse cálculo deles não conta com uma coisa que, infelizmente, não me permite deixar de considerar: a dor que sinto.

Entendo que o cadeirante por lesão cervical não teve a sorte que tive e não tem a chance de um dia, depois de muito esforço, volta a andar. Mas em compensação a dor que eu tive que passar até hoje pra sentir um mínimo de evolução é tão grande que eu simplesmente não posso ignorar. Está bem que até hoje não conseguiram criar um medidor de dores, mas daí ignorar sumariamente esse “pormenor” na hora de determinar o prêmio de um seguro, eu acho de uma insensibilidade tremenda. Um cadeirante, ou mesmo um bi-amputado, sofre um problema grave, em conseqüência algumas dores, mas que com o tempo isso passa. No meu caso isso não acontece, já que nesses 475 dias desde meu acidente, não houve um sequer, que eu não tenha sentido algum tipo de dor, comigo a dor ainda não passou. Isso não conta?

Se eu fosse um carinha bem vingativo, rogaria uma praga pro infeliz que determinou esse desconto de 30% do valor total do meu seguro, pra ele passar essa noite com uma baita dor de barriga, pra ele ver como que “sentir dor não é algo pra ser levado em consideração”...

Nessas horas é que eu fico bastante chateado em saber que um dos tipos mais perturbadores de dor, que deve ser a que o moço da seguradora pode estar sentindo, não causa dor alguma: a DOR DE CONSCIÊNCIA.
 

Postado por Antonio Bordallo às 1:50 PM

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segunda-feira, agosto 21, 2006


Mais um pequeno passo, e à frente


Hoje, segunda-feira, mais uma comprovação da evolução que sinto, a cada dia, dar maiores e maiores avanços. Dessa vez eu fui e voltei sozinho do centro da cidade.
=)

Saí da casa de uma amiga minha , no Humaitá, umas 11hs de táxi. De lá segui para uma das transversais da rua da Alfândega, para comprar o material pro curso de Silk Screen que se inicia essa quinta. Só não contava que eu teria que carregar artigos tão grandes quanto uma moldura de uns 60 x 50 e meio quilo de estopa (que é algo bem volumoso...), mas já que já estava no meio da missão, não pude dar pra trás....encaixei a moldura embaixo do braço e lá fui eu empurrando minha cadeirinha sozinho...

De fato a parte mais difícil foi um trecho de paralelepípedos... é praticamente um off-road das cadeiras de rodas...mas já q é isso que tenho que passar sozinho, vamos nessa... comprei o que tinha que comprar, depois passei na barraquinha que minha tia tem lá no Camelódrmo e ela, bastante empolgada de me ver lá andando sozinho pelas bandas do Centro, 1 ano depois de ter me visto no pior estado até hoje, chegou até a me ajudar a entrar na estação de metrô , pra voltar pra casa , com ajuda do segurança...

E assim fui...peguei meu metrozim, saltei na estação Siqueira Campos...e rumei pra casa...

Após subir os já famosos 8 degraus da minha portaria, com ajuda do porteiro, aproveitei e registrei o momento(notem o tamanho do pacote que eu carreguei):
Mais um desafio superado, que venham os próximos....
(o que mais falta eu inventar de fazer agora,hein?
=D


PS: só pra constar, uma fotinho que tirei ontem...
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Postado por Antonio Bordallo às 1:45 PM

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sábado, agosto 19, 2006


Osso de mais, parafuso de menos...


Cheguei há pouco do HTO e, apesar de alguns contratempos que já estou até acostumado, trago noticias boas...
A primeira foi logo na chegada, ao tirar o Raio-X: pela primeira vez eu consegui visualizar como um verdadeiro osso a área recalcificada!=)Vejam na imagem abaixo a diferença de imagem de janeiro pra hoje:

-Janeiro:


-Hoje:



A outra boa noticia me ocorreu quando, durante a consulta, me queixei do parafuso que fica mais acima, que ao esticar a perna doía e quando eu colocava peso na perna era em sua região que mais doía. Diante dos meus alertas, o Dr.Ortopedista prontamente decidiu: “vamos tirar o parafuso então!”.
Me bateu um misto de alegria e medo. Realmente seria um alivio não ter mais esse parafuso enroscado no meu osso, mas já estava prevendo a dor...e não foi diferente, foi pior!
Uma dor que eu até já tinha sentido antes, mas que não sentia a menor saudade...uma dor que talvez só quem já teve um parafuso enfiado na perna (e o retirou sem anestesia) pode saber como é. Uma dor que além de me deixar sem voz, se prolongada, leva a um estado semi-convulsivo pela dor... sorte que uma vez saído o parafuso, a dor passa imediatamente. ...e lá fui eu feliz “com um parafuso a menos”...
=D


Sobre reabilitação que as coisas andam um tanto embargadas...já era hora de eu ter começado alguma fisioterapia, mas nada... já era hora de eu preparar meu coto para a prótese, mas também nada... Há 15 dias procurei pelo HTO a Dona Fisatra, mas não a encontrei. Procurei hoje de novo e nada...só me restou então marcar uma consulta com ela para o dia 6 de setembro... resultado disso? 33 dias de atraso na minha recuperação. Pode parecer pouco perto dos 15 meses que me venho tratando, mas é por causa desses pequenos dias de atraso que minha recuperação se estende até hoje...
=S

Pra não passar o resto do dia me queixando, é melhor eu olhar o placar...

Noticias boas 2 x 1 Noticias ruins

To no lucro ,né?
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Postado por Antonio Bordallo às 8:09 AM

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Ruas, calos e grande satisfação


Quinta feira. Acordo cedo mais uma vez, é a ansiedade de um novo desafio que está a caminho. Já sabendo que o caminho é longo e incerto, separo minhas luvas que usava pra malhar, só que a academia agora é a rua. Pego o metrô com minha mãe em direção à Central, e o metrô de fato é o local onde me sinto mais à vontade, me sinto menos deferente do outros, de alguma forma: acesso por elevadores, isenção de tarifa pra mim e quem estiver me acompanhando e, principalmente, um chão liso e brilhante donde eu posso correr livre, leve, sem pensarem nenhum súbito buraco ou desnível no caminho e ainda menos pessoas à minha frente. Corro, corro...o máximo que eu puder, deixo a todos pra trás... é essa hora que eu mato um pouquinho a saudade de correr livre e veloz, como nos meus abençoados dias de ciclista... às vezes corro tanto que chego a fazer a estrutura da cadeira tremer. Pena que cadeira de rodas não tem marcha... ou “sorte” daqueles que possam cruzar meu caminho,hehe... o que importa é que, naquele ambiente de condições controladas, eu sou um corredor. Na plataforma de embarque o metrô para sempre há pouco menos de 1 palmo de distancia da plataforma em si. Pra quem anda é muito pouco (1/5 de um passo), mas pra que roda que nem eu, é simplesmente o tamanho da rodinha da frente, e uma passada descuidada pode me fazer não somente cair, mas ser arrastado até não sei onde pela grande locomotiva subterrânea. Pesadelo ou medo, o que importa é que nunca posso vacilar. Dentro do vagão, lotação típica das 8 em meia em qualquer metrópole, que se escoa quase que totalmente na estação Carioca. Nem me importo com olhares. Na verdade, ultimamente , eu sempre utilizo de algum subterfúgio pra não reparar nessas coisas: seja observar a rua, (que é o que importa); ou ler algo, estudar algo... tudo é melhor do que me sentir como objeto de curiosidade alheia. A saída do metrô me faz voltar à dificuldade da vida normal. Vou até a saída pelo Campo de Santana, o que adiantaria e muito o meu caminho, mas ao chegar vejo que o a escada rolante está em obras...pior do que isso: uma obra EMBARGADA. Somente me restou voltar e sair pelo outro lado da rua, no lado da Central e cruzar todo aquele caminho de novo, só que por cima... Ajudado por um encarregado do metrô, contato que nada realmente foi pensado para cadeirantes e afins naquele local. Só pra descer no metrô, há que se subir 2 degraus antes, mas se fosse apenas esse problema, nem reclamaria, mas não é. Meu caminho pra atravessar a avenida Presidente Vargas foi o mais tortuoso e fora de lógica que eu já fiz: de um lado da faixa de pista tinha rampa, mas do outro não...e eram pelo menos quatro faixas a atravessar. Queria entender o que tinha na mente do cara que projetou isso...



Cruzei a rua. Nunca imaginei que fosse ser algo tão difícil assim. Já estava cansado, mas a real é que eu tinha acabado de chegar no meu antigo ponto de partida, se a tal escada rolante não estivesse com a obra embargada... Passava pelas ruas com um misto de tristeza, indignação e cansaço ao sentir que as ruas não foram feitas pra mim. Me sentia como uma visita indesejada que , por tal razão, o dono da casa criava todo e qualquer obstáculo pra me dificultar a vida... eu era um penetra na vida da minha própria cidade. Essas coisas foram durante muito tempo a grande razão de eu ficar isolado sem sair de casa, mas o efeito colateral do remédio dói tanto quanto a própria doença: passar semanas sem sair de casa havia me causado problemas de ordem psicológica. A sensação de se viver encarcerado agora era substituída pela dor física, de ter que fazer tanto esforço pra avançar uns poucos metros... Se locomover de cadeira de rodas sem ninguém te empurrar é uma atividade de esforço físico constante. É como se você fizesse um exercício de braço, mas que você não interrompe a cada dez repetições. Se você não continuar executando o movimento a sua cadeira para. Levantar um peso de 5 quilos com os braços é relativamente fácil, agora tente pegar o mesmo peso e repetir tal movimento cem vezes... mil vezes... e não pode parar não, hein? É assim que me sinto toda vez que tenho que me deslocar a grandes distancia...isso sem falar que, mesmo com minha luva de malhação, a mão se enche de dolorosos calos... =(


Nessas horas em que sinto doer tudo o que no meu corpo faltava doer que eu me questiono por que essas coisas acontecem comigo: o que eu fiz de tão grave pra ter que passar por isso... por que eu que não faço mal a ninguém tenho que passar por isso enquanto corruptos e outros criminosos aproveitam suas vidas impunemente? A falta de resposta convincente a essas perguntas fazem doer ainda mais o fardo que carrego. Com 45 minutos de atraso, chego ao local do curso de silk screen que pretendo fazer. O carinho das pessoas de lá, e mesmo o reconhecimento da minha força de vontade de querer estar lá me faz sentir bastante aliviado, apesar da palma da mão já preta de sujeira da rua e queimando de tanto calo... Consegui me sentir a vontade e respeitado, num ambiente onde ninguém tinha me visto antes...se o resto da sociedade fosse assim... Depois do curso, segui caminho com minha mãe e fui para uma loja de próteses, de uma moça que recentemente conheci pela internet. Essa vida virtual pode nos trazer ótimas surpresas de vez em quando. Era a primeira vez que via Silvia ao vivo, mas nossa proximidade virtual nos deixou tão próximos ao vivo que parecíamos nos conhecer de longa data. Isso fora também toda a prestatividade e carinho dos que trabalham com ela. Para mim foi um momento único. Um momento de começar a entender como serão tratados meus próximos passar (literalmente) em relações a próteses. Conheci diferentes modelos, entendi mecanismos, componentes... pela primeira vez eu conversava com alguém sobre próteses e minha vida daqui pra frente e não era eu que explicava. Apesar de ser ainda algo distante, consegui mensurar minhas possibilidades com essa prótese, e me enxerguei um dia fazendo o uso de uma. Mas como nem tudo na vida são rosas, o caminho de volta me esperava. O caminho doloroso se intensificava devido a fadiga e os calos, mas não tinha outra opção senão refazer o caminho de volta... Desafio aceito, desafio comprido. Apesar da via crucis que foi, não achei motivo pra não repetir o mesmo trajeto na semana que vem, quando começa tal curso, só que dessa vez sozinho mesmo. Preparação psicológica e física, essa é a saída. Agora eu já conheço meu inimigo, a rua. Disposição pra encarar não falta. Acordei hoje com uma forte dor nos músculos das costas. Dor típica de quem ta começando a malhar. Dor de quem, com o tempo, vai fazer o mesmo, ou maior esforço e não vai sentir mais nada. Sinal de que isso é só o COMEÇO, e de que o futuro tem mais medo do mim do que eu dele. Posted by Picasa
 

Postado por Antonio Bordallo às 7:56 AM

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quarta-feira, agosto 16, 2006


Oito degraus e um desafio pessoal


Hoje ,dando seqüência à onda de avanços que decidi ter essa semana, resolvi ir ao dentista sozinho. Não é um longo e tortuoso caminho, mas é um caminho que eu ao havia percorrido antes sozinho, e por isso só já é um bom motivo pra eu me sentir desafiado a fazer sem nenhuma “companhia moral”...
Acordei hoje bem cedo, muito antes do despertador, e fiquei ansioso esperando a hora chegar.
Chegou e fui...cruzando a Galeria Menescal como um raio de tão rápido...uma pressa misturada com a perícia de quem andava de bike pelos cantos mais tortuosos dessa cidade. Cumpri o trajeto: VITÓRIA! Mais uma em menos de 24 horas... to gostando disso..
=)

A volta não foi tão diferente...me dei ao luxo de dar uma voltinha por meio quarteirão sozinho, e depois ainda fui nas Lojas Americana comprar algumas bobagens e ver alguns lançamentos de DVD... mas não contava com que estava à minha espera no resto do trajeto.

Segui o caminho normal até minha portaria, e lá notei que não havia porteiro nenhum pra me ajudar a subir os 8 degraus que vêm separando minha vida enclausurada dentro de casa e a liberdade da rua. Apertei os botões do interfone, esperei e nada. O sol estava quente e aquele calor de quase meio-dia já me incomodava mais do que a presença daqueles 8 degraus que pra mim representam mais que as grades de uma prisão. Diante da ausência de todos e minha vontade de transpor essa barreira de uma vez por todas resolvi dar um basta nisso: freei minha cadeira em frente ao primeiro degrau de mármore, me apoiei e me joguei em cima dele. Abri a porta de vidro com a chave e subi mais um nível. Agora puxei com muita dificuldade a minha cadeira pra dentro do prédio. Nesse momento apareceu uma moça que mora no quinto andar e resolveu me ajudar. Segurou a porta e pos minha cadeira pra dentro, no nível do elevador... Feito isso disse à ela que podia deixar o resto comigo. Subi me arrastando pelos 5 degraus que faltavam e entrei no elevador. Meu desafio não parava aí: pra complicar ainda mais minha situação eu moro no 10º andar e portanto é o botão mais alto a se apertar dentro do elevador... pra conseguir chegar ao meu apartamento tive que criar coragem e me apoiar um pouquinho na minha perna, que já tem me dado bons sinais de confiança...
Cheguei ao 10º . Sair sozinho e não deixar a porta fechar , pra depois pegar a cadeira, não foi um negócio fácil, mas mesmo assim, decidi até mesmo abrir a porta sozinho, sem tocar a campanhinha. Queria concluir esse ciclo de dificuldade sozinho , e assim provar que mal ou bem eu não PRECISO dos outros, mas é claro que uma AJUDA às vezes facilita e tanto minha vida.

Minha calça clara q eu estava a usar nesse momento já está lavando , minhas mãos usadas como pés já estão limpas. Mas nos fundo houveram duas manchas difíceis de sair: minha indignação com a dificuldade dessa nova vida, que podia sim ser mais simples e menos humilhante, e também o orgulho a alegria de ter visto que, apesar de difícil, nem tudo é impossível.




Foto mal feita das escadas no momento do desafio, da até pra ver meu reflexo no vidro...




Eu e minha cadeira, depois de transposto os 8 degraus...suado,esbaforido.
 

Postado por Antonio Bordallo às 8:35 AM

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terça-feira, agosto 15, 2006


Eu nunca estarei sozinho


Estranhamente uma música que ficou na minha cabeça hoje se chama "you'll never walk alone" (voce nunca andará sozinho), cantada por Gerry & The Pacemakers e hino não-oficial do Liverpool. Lendo a letra, notei que ela tinha muito a ver com esse grande momento que eu passei hoje...

Abaixo uma traduçao livre e mais abaixo a versão original em inglês...

(se quiser ouvir a música, pode baixá-la aqui : http://www.yousendit.com/transfer.php?action=download&ufid=784E892D4D731848 )



"Quando voce caminha numa tempestade
Mantenha-se de cabeça em pe
E não tenha medo do escuro

No fim da tempestade
há um céu dourado
e o doce canto dos passaros

Caminhe
através do vento
Caminhe
atravessando a chuva!
Ainda que seus sonhos sejam abalados e destruidos

Caminhe, caminhe
com esperança no seu coração
E voce nunca andará sozinho
Você nunca andará sozinho..."

-------------------------------
You'll Never Walk Alone
(R. Rodgers - O. Hammerstein II)

When you walk through the storm
Hold your head up high
And don't be afraid of the dark

At the end of the storm
There's a golden sky
And the sweet silver song of the lark

Walk on,
through the wind
Walk on,
through the rain
Though your dreams be tossed and blown

Walk on, walk on,
with hope in your heart
And you'll never walk alone
You'll never walk alone
 

Postado por Antonio Bordallo às 9:22 PM

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16 de agosto de 2006, meia noite e onze.

Depois de 470 dias eu sinto novamente como é poder estar de volta à minha altura normal, sem precisar estar com minhas mãos agarradas num andador. Me apoiei com o coto no andador e O PÉ NO CHÃO!!!

Isso mesmo... gritei muito pra alguem testemunhar esse momento, mas ja que todos estavam a dormir, peguei a camera do meu celular, pendurei no narguile e bati.
Pelo que voces podem ver na foto, meus braços não couberam na foto.
Assim como meu sorriso
Assim como minha FELICIDADE....
=D



PS: Isso me faz lembrar que daqui a dois dias, no dia 18, vai completar 1 ano do meu glorioso dia da alta do Hospital Miguel Couto...
=)
 

Postado por Antonio Bordallo às 8:55 PM

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Postagem de menos, avanços de mais...


Bom, gente. Muito tempo sem postar, e não por simples enjôo de internet e outros dispositivos digitais. Passei a ver que apesar de estar numa “eterna fase de recuperação” (tá bem que não é pra sempre, mas ainda não da pra enxergar o ponto final desse caminho não...), dá pra fazer outras coisas e que na verdade eu TENHO que fazer alguma coisa pra não morrer de tédio e também pra me sentir produtivo. E é isso que eu estou a fazer agora.
Comecei a estudar no inicio desse mês para, no final do mesmo, fazer uma prova do ENEM, que “na minha época” não era obrigatório, mas que agora pode me abrir as portas para um bolsa de estudo integral em alguma Universidade, pra eu continuar meus estudos... Além disso estou a planejar uns 3 empreendimentos de uma só vez, coisa que me consome tempo, dedicação e estudo... no momento certo eu divulgo por aqui.
Sobre minha parte clínica, posso dizer que estou bem melhor. Com a carta branca do médico, me senti com mais segurança de colocar todo meu peso sobre minha perna com os fixadores. Depois de muitos meses voltei a me ver de pé! Com isso constatei que estou verdadeiramente gordo, mas o fato de ter me visto no espelho de novo de pé me deixou tão feliz que ... gordura depois a gente queima,né?
=)

No inicio foi bastante difícil. mas com o tempo a perna e o joelho, principalmente, foram se acostumando e já consegui, encostando o coto na estrutura do andador, até ficar alguns segundos sem segurar o andador!

Isso sim que me deixa feliz: não quero que todos os resultados apareçam de uma só vez, mas que pelo menos os próximos estejam ao alcance de minha vista, acontecendo de pouco a pouco, enxergando sempre o próximo passo que poderei dar...
 

Postado por Antonio Bordallo às 6:39 PM

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