aproveitando a segunda chance

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segunda-feira, maio 22, 2006


A Cruz misteriosa


Quem me conhece bem sabe que, apesar de respeitar bastante, nunca fui uma pessoa religiosa propriamente dita. Apesar de, claro, minha “religiosidade” ter aumentado depois do acidente (como eu aprendi, “não existe ateu na trincheira”...), ainda não chega aos pés de muita gente boa que conheço, mas uma empatia maior passei a ter sim, sem dúvida.

Comento sobre o assunto pois veio à tona uma fato um tanto intrigante:

Quando a moça que primeiro me ajudou depois do acidente veio me visitar com seu marido (ambos foram minhas testemunhas do acidente na época), eles depois de conversar um tanto comigo, haviam comentado da minha suposta “religiosidade”, devido à uma cruz que estava pendurada na minha bicicleta na hora do acidente. Confesso que na hora não esmiucei isso em detalhes, até porque no momento estava pendurada na bicicleta a minha camisa da seleção de Portugal, cujo símbolo é justo uma cruz mesmo...e então deixei o papo morrer por ali mesmo, apesar de até hoje não ter mais encontrado minha camisa, o que eu sinto MUUUUITA falta, pois era uma das minhas preferidas...
=(

Hoje de tarde minha mãe aparece com um cordãozinho simples, com uma cruz de madeira simples, escrito nele um símbolo eucarístico que parece um monograma das letras P e X juntas... Ela havia dito que o vizinho mandou entregar, que viu essa cruz guardada embaixo do forro do banco da bicicleta (que tá guardada no corredor do prédio)...

Aí vem a pergunta: como que foi parar essa cruz lá? Seria um aviso divino? Será que minha camisa de Portugal se transformou nessa cruz? Ou um espertinho com dor na consciência levou minha camisa e deixou aquela cruz lá pra “compensar” a subtração? Não importa agora, não vou perder meu tempo especulando, vou apenas relatar esse fato que achei interessante e que vale a pena compartilhar com vocês para , cada um a seu modo, achar o que lhes couber melhor acreditar..
=)
 

Postado por Antonio Bordallo às 4:11 PM

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quarta-feira, maio 17, 2006


Dois quebrados


Essa segunda passada eu resolvi fazer um sessão de psicólogo diferente. Normalmente ela é feita aqui em casa, mas dessa vez queria otimizar esse tempo, ou ao menos utilizá-lo de uma forma mais útil do que ela já é , e também mais dinâmica. Foi assim então que resolvi, excepcionalmente, aproveitar essa 1 hora e meia de psicólogo pra fazer algo que eu normalmente fazia toda semana: ir pro centro da cidade, mais especificamente na área do camelódromo.

Há exatos 10 anos eu fui pela primeira vez pro centro, e aquilo mudou bastante minha concepção de cidade. Aquele vai-e-vem de gente comprando, vendendo ou indo apressadamente pra outro lugar era algo que só tinha visto na TV. Ao mesmo tempo que aquela magnitude da cidade grande (onde ela é realmente cidade grande) me amedrontava, mas me instigava a conhecê-la. Meti na minha mente que "um carioca de verdade sabe, pelo menos, andar no centro do Rio". E assim então comecei a , mesmo sem uma forte razão, desbravar aquelas ruas do centro, quase que como por esporte.

Descobri, entre outras coisas, que as coisas no centro era muito mais baratas que na minha abastada Zona Sul. Muito mais variedade e informalidade também. Aquela informalidade gostosa de uma típica família do subúrbio carioca. O happy hour no final do expediente, com as pessoas reunidas numa roda de samba, movida a muito churrasquinho de origem ignorada e cerveja. Talvez essas foram as raras oportunidades que eu tive de sentir a real essência carioca, bem longe desse cosmopolitismo emplastificado de cidade turística que temos aqui na Zona Sul. Sentia falta dessa "improvisação pra tentar ser feliz"... E , se não posso ainda curtir um samba na Lapa ou um samba happy hour à la Uruguaiana (pra quem não é do Rio, é o nome da rua onde comça o camelódromo), ao menos passar nesse lugar que por muitos anos foi o meu shopping center eu merecia passar.

Assim então meu psicólogo, vulgo Eduardo, me buscou aqui e então fomos pra estação do metrô que , pra minha sorte tem dois elevadores exclusivos pra levar o cadeirante até a area de embarque, isso sem falar na gratuidade da minha passagem e a do acompanhante.

Chegamos no Centro e então discorri por aquelas vielas apertadas do camelódromo, procurando sempre um preço ainda menor do que eu tinha visto na última barraca...

Assim fiz minhas compras, arejei as idéias, e na volta ainda deu pra passar no supermercado, lugar que pra mim é a própria terapia...não pelo consumismo em sim, mas pela liberdade de escolha e a descoberta das novidades da indústria de alimentos.

Uma história que eu não podia deixar sem contar foi uma que ocorreu lá no camelódromo.
Esqueci de dizer que no momento o meu psicólogo (vulgo Eduardo) está com o braço engessado* devido a uma queda e então, imaginem a cena: um de braço quebrado ajudando o outro mais quebrado ainda....

Pois bem, a espirituosidade carioca, que consegue encontrar humor até no que não se espera muito isso, agiu implacável, quando um dos donos de barraquinha perguntou se a gente estava no mesmo carro...
=)

Não, na verdade não estávamos nem em carro quando nos acidentamos, cada um em sua hora, mas ao contrario de tudo isso, estamos sim, juntos no mesmo BARCO.
=D


*= o braço dele está "engessado", apesar do gesso ser de plástico. Se eu dissesse que ele estava com o braço emplastificado vocês iam achar que o braço dele tinha virado um documento...
 

Postado por Antonio Bordallo às 7:44 PM

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terça-feira, maio 16, 2006


Um dia das mães diferente


Esse dia das mães me puz numa certa complicação. Tudo isso porque o comércio nos obriga a, tradicionalmente , comprar um presente pra minha mãe. Quem me conhece sabe que eu sou bastante contra isso de ter uma data especifica pra dar presente a alguém. No meu ponto de vista isso serve pra quem é esquecido, ou quem não tem naturalmente o costume de dar presentes, mas não é o meu caso.

Eu acho muito mais gostoso quando, andando na rua, do nada vejo alguma coisa que me remete diretamente a uma pessoa que gosto. Se tô com dinheiro na hora nem hesito em comprar. Lhes garanto que é muito mais gostoso ver a reação de surpresa de quem acabou de receber um presente assim, sem uma data definida... Nas outras datas todos sabem que vão receber presentes...não tem tanta graça além do próprio fato de ganhar algo...

Mas enfim, voltando ao dia das mães, pra não fazer a linha “muleque-revoltado-que-é-contra-as-regras-impostas-pela-sociedade”, resolvi descolar algum presentinho pra minha mãe...mas como?

Pra começar não estou trabalhando, portanto, sem grana pra comprar presente(mãe entende isso, mas filho não)... e pra piorar o negocio, como ir na rua comprar um presente se é tão difícil assim eu sair pra rua? Definitivamente eu não ia avisar a minha mãe “ae , me leva lá embaixo que eu vou comprar um presente pra vc...”, me poupem, né? Cara-de-pau eu tenho, mas não é pra tudo. Daí então comecei a pensar...

Aí então me lembrei de uma madrugada, no final do mês passado, quando eu, finalmente, passei a dar o real valor que minha mãe merece. Não que eu fosse um ingrato desnaturado, mas eu tinha ciência que minha mãe merecia mais carinho de mim... Naquela mesma madrugada (eram umas 3 da manha) comecei a escrever aqui no Word um tipo de biografia dela, contando, do meu ponto de vista, toda a sua luta, desde o semi-árido nordestino, à vida cosmopolita de Copacabana... Aí então enxerguei que sua vida foi uma grande luta...

Nessa mesma semana (agora semana passada), uma outra amiga que fez aniversário há meses atrás me contou de quanto ela gostou do meu presente à ela, que no caso também foi uma cartinha... Aquilo me deu tanta moral que eu pensei: não é o que eu idealizei como presente pra minha mãe, mas já que a única coisa que eu posso oferecer no momento está assim tão valorizada, que eu presenteie minha mãe com palavras!

A partir disso agreguei o que já tinha escrito de minha mãe e passei o dia todinho de sábado sentado aqui na frente do computador e me lembrando parte por parte a vida que eu passei com minha mãe, agregando também as histórias que ela me contou que eu não tinha nascido ainda pra presenciar. Foi um difícil, longo e trabalhoso projeto, mas acho que valeu a pena. Não só pelo presente em si, mas também pelo exercício de escrita que eu fiz. Já que estou pretendendo escrever um livro, preciso praticar mais essa escrita. E essa tarefa também foi legal pelo desafio de saber se eu seria capaz mesmo ou não de finalizar uma historia de forma romanceada. Graças a Deus consegui.

Além da biografia, escrevi também uma carta anexa. Como um cartão que vem junto do presente. E o legal é que acabei desenvolvendo dois textos distintos, mas tão interessantes que não podia deixar um dos dois de fora. Pra resolver o impasse, escrevi uma carta normal com um P.S. tão grande quanto a própria carta...

Pra vocês, que já devem estar curiosos, coloco abaixo a carta e a parte introdutória da biografia da minha mãe(porque colar 7 paginas da vida dela aqui já seria demais) ...


“Mãe,

Mais um dia das mães na luta. Uma luta que realmente prova quem é mãe de verdade ou não é. E você, sem duvida, "passou no teste " com louvor.
Você pode até não ser uma pessoa diplomada, cheia de cultura, Mas saiba que se a arte de dar carinho e atenção aos filhos fosse uma atividade reconhecida com diplomas, na parede do seu quarto estariam vários diplomas...mas esses diplomas não precisam ficar pendurados na parede para os outros verem . Eles ficam dentro da senhora , no coração. Um lugar muito mais gostoso de guardar esse reconhecimento, pois em vez dele aparecer para os outros, a senhora SENTE ele, sempre. E não há universidade no mundo que possa dar tamanha sensação.

Espero que nesse dia das mães a senhora consiga todo o carinho que a senhora merece como mãe.

Não vou dizer que te amo e que você é a pessoa de maior importância na minha vida porque muitas coisas não é necessário dizer, mas sim SENTIR...

Muito obrigado por você existir e principalmente estar do meu lado sempre.

beijos

Antonio Bordallo


PS: Sim, mãe, eu mudei. Resolvi dar valor à minha mãe agora do que fazer como pessoas que pensam tardiamente: " só agora que perdi eu dou valor a minha mãe"...
Passei a acreditar que essa é uma boa oportunidade de , em vez de eu ter algum tipo de arrependimento no futuro ( por não ter gostado da minha mãe antes como devia) pôr meu carinho e admiração em prática enquanto você está aqui do meu lado.
Espero que um dia eu ganhe dinheiro com esses textos que eu escrevo e em vez de te dar apenas uma cartinha bonita eu venha a te dar um presente de verdade, algo mais legal."

E agora, o primeiro trecho da biografia:

Madrugada. Já é sexta-feira,dia 28 de abril de 2006. Fiquei muito pensativo na cama agora, pensei tanto em algumas coisas que vi que se deixasse pra amanhã, não me lembraria de tudo de importante que pensei. Parece que consegui sentir a real dimensão da importância da minha mãe na minha vida até hoje.
Soa meio estranho um filho acordar do nada aos 26 anos e “descobrir “ essa constatação que sempre nos ensinam. Mas é real, essencialmente real.
Comecei a discorrer o passado da minha mãe, sua trajetória do interior semi-àrido de Pernambuco até o cosmopolitismo de Copacabana. E vi que foi um salto enorme. Um “salto quântico”, como a mesma diz. Discorri todas as dificuldades que ela sofreu, e baseado nisso rendo-lhe todo meu respeito e admiração.

Imagino ela em meados dos anos 40, numa seca nordestina sem futuro, cheia de irmãos. Uns pra brincar, outros pra educar, e ainda uns outros pra vigiar... Deve ter sido muito difícil brincar com sabugos de milho e fingir que são bonecas. Deve ter sido mais difícil ainda ter que interromper a brincadeira de boneca para ir trabalhar na lavoura...
Pensando nisso talvez ela constatou que aquilo não era vida, que aquele lugar não daria o futuro que ela queria, e o único caminho então seria seguir os passos do já difundido êxodo rural. Sua família saiu da roça, foi pro centro de São Caetano. Nem lá dava tamanho futuro, rumou com alguns parentes para o Recife. Uma cidade realmente grande pra suas vistas. Não adiantou. Quanto mais temos noção do mundo afora, mais queremos ver como aquilo é. Não agüentou mais esperar e foi procurar abrigo na casa de seus irmãos no Rio de Janeiro, na “base carioca da família”, em Quintino. Chegou na “cidade maravilhosa” no dia 19 de maio de 57, a 20 dias de completar 18 anos. Já não era mais uma menina, mão não se casara ainda. Mesmo bonita, considerava uma verdadeira sina não ter nascido de cabelo bom. E por isso poucos sabiam que o que ela tinha de bom mesmo, muito melhor até, estava por dentro.(...)”


À todas mamães, mesmo que atrasado, feliz MÊS das mães...
=)
 

Postado por Antonio Bordallo às 3:10 PM

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quarta-feira, maio 10, 2006


Burocracia pouca é bobagem


Neste momento me encontro no limbo. Um limbo burocrático. Não tenho praticamente nada a fazer senão esperar e ficar ligando de repartição em repartição pra resolver meus problemas, que não são poucos.

Começo pela parte hospitalar. No inicio do ano, eu fiz uma estimativa de que, se tudo fosse feito direitinho, no prazo estipulado e com todos os setores agindo em sincronia, eu já estaria andando agora em junho. O que eu não contava era com filas de espera pra agendamento de exames e operações, burocracias, trâmites operacionais e et cetera, que fizeram essa estimativa ir pro espaço já no primeiro mês: eu tinha esquecido que, apesar de estar num hospital referência nacional em Ortopedia, ele era público.
Essas idas e vindas, filas de espera e os cambau, acabaram de colocar uma operação que estava programada pra início de abril, ser adiada pra alguma data depois do dia 6 de junho, ainda sem data definida...
Não alego incompetência dos médicos ou outros profissionais do meio, mas se fosse feito um real planejamento focado no grau de evolução clínica estimado de cada paciente, muito já poderiam ter até um alta antecipada, inclusive eu...

É uma coisa um tanto frustrante você lidar com esses trâmites e depender deles, se fosse apenas um, até entenderia, mas até o dinheiro do DPVAT (seguro por acidentes de trânsito) que eu tenho direito, já se passaram mais de um ano e até agora nada. As seguradoras parecem que colocam tantos obstáculos na hora de pagar o dinheiro que os segurados tem por direito pra esses se cansarem e não pegarem nada do dinheiro, coisa que pra eles é um ótimo negocio, pois eles aumentam seu patrimônio sem muito esforço...

Outra lentidão de trâmites que ronda minha vida no momento é sobre o processo contra a empresa de ônibus. Não digo que as coisas estão ruins, mas simplesmente estagnadas, tudo dependendo das pastas desse caso chegarem novamente às mãos da sra. Juíza, e nisso já completam-se 2 meses desde a ultima real ação em função do processo...

...e assim vou vivendo...um dia após o outro, com a certeza de que a única conquista que ando vendo na minha frente é simplesmente ver que os dias estão passando ,mesmo que lentamente...e um de cada vez..
=S

 

Postado por Antonio Bordallo às 5:51 PM

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sexta-feira, maio 05, 2006


Um dia melhor do que eu esperava


Se por um lado eu estava com medo da chegada desse dia, a chegada do mesmo me deu uma auto-confiança até então inesperada. Primeiro porque passei a encarar esse dia como de renascimento, e não de tragédia. Segundo, porque o dia realmente pareceu um dia de aniversário pra mim, um aniversário mais doce. Tão involuntário como o outro, esse dia pareceu ainda mais legal que o do aniversario normal. Nascer todo mundo nasce. Renascer é algo pra poucos, o que não vejo como privilegio algum, melhor seria se eu não precisasse disso, mas já que é o que temos... aproveitemos!

Comecei o dia postando uns textos no blog e postando um scrap coletivo de agradecimento à todos. Prontamente, antes de enviar a mensagem aos últimos amigos, já estava recebendo um sem número de demonstrações carinhosas dos amigos. E essas demonstrações de carinho se estenderam e se intensificaram ao longo do dia de uma forma inesperadamente boa.

Comentários no blog, carinho dos amigos de sempre, de amigos dos amigos que também leram o scrap, até o próprio Jesus de Nazaré fez questão de escrever pessoalmente me elogiando! Realmente, se eu tivesse esperado o máximo desse dia, ainda não seria à altura do que de fato aconteceu.

Por ser dia de semana, acabou ninguémpodendo vir me visitar, além do meu psicólogo,claro. Mas àessa altura, somente a demonstração da vontade de alguns de me ver já achei suficiente, jáera muito carinho pra um só dia...
Aproveitei o bom astral do dia e finalmente comecei a escrever meu livro pra valer. Estava inspirado e com a cabeça no lugar, então acredito ter feito a primeira parte do primeiro capítulo com uma maestria que eu não esperava ter. Espero que essa buena onda continue os próximos dias, pra eu dar continuidade às coisas...

Um fenômeno estranho que aconteceu nesse dia também foi o fato de eu meio que acompanhar as horas como se fossem há exatamente um ano atrás. Dava tal horário e eu lembrava, no dia do acidente, o que estava acontecendo comigo naquele instante. Foi uma forma de reviver, de observar o fato de longe. Talvez isso, que minha mãe desaprovou por achar que eu estava me auto- torturando com essas lembranças, foi o que finalmente me deu a dimensão suficiente pra eu começar a relatar tudo em texto. Nem tudo que parece ruim de fato é...

A única parte negativa do dia foi o meu Corinthians mesmo...estava todo esperançoso por uma vitória, mas caiu diante do River Plate em casa e ficou fora da Copa Libertadores da América, fora a porradaria no estádio...vergonhosos ambos os fatos...

Fui dormir com a cabeça inchada dessa derrota do timão... mas que bom que a parte ruim do dia foi apenas isso, né? Nada que uma goleada no próximo clássico não supere, né?

Não vou mais agradecer a todos vocês porque eu já senti que ninguém quer receber meus agradecimentos pelo carinho dispensado até então. Em compensarão portanto demonstro aqui minha grande admiração por todos vocês que vêm me ajudando, mesmo que indiretamente, até hoje...
=D
 

Postado por Antonio Bordallo às 8:26 AM

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quinta-feira, maio 04, 2006


O dia 4


Desperto no dia 4. Uma sensação estranha ronda, mas tento encará-la como normal. Mais uma vez sou lembrado ao despertar de que tenho uma perna a menos e que a outra é “algo que lembra uma perna”. É muito estranho isso, mas toda vez que acordo eu tenho que “lembrar” dessa minha condição, pois talvez nos sonhos ou quando estou em repouso absoluto não sinto existir essa falta, sou um corpo como o de vocês, mas toda vez que acordo, os movimentos me lembram que a vida “pós-sonho” não é igual à do plano espiritual...

É estranho, mas há uma sensação de aniversário no ar. Não sinto o dia pesado como eu esperava. Vejo o dia como um segundo aniversário, até porque se eu, sempre que chegar dia 4 de maio, ver esse dia como o dia da “Grande Derrota” e não apenas como o do “Grande Susto”, eu simplesmente vou estabelecer um sistema de dia triste com data marcada.

Ainda não falei com ninguém além da minha mãe brevemente e o psicólogo, que prontamente ligou e diz que virá logo. Sinto como num dia de aniversario: eu quero receber visitas carinhosas de amigos, eu quero receber presentes! Na real eu procurei nos últimos dias por um presente pra me dar. Procurei por praticamente 10 lojas de esportes uma camisa específica da Seleção Brasileira (branca) e não encontrei ate agora. Eu quero presente, nasci de novo, pô!

Encarar o dia dessa forma creio que seja a melhor alternativa para enxergar que depois da porrada do ônibus,ainda há vida, e BOA, e portanto não devo me apegar à uma perna que, mesmo querida, pode ser sucedida, não substituída, por uma forma alternativa.
Assim vou vivendo o dia em que tentei viver, e CONSEGUI.

Acabo de receber um forte e longo abraço da minha mãe seguido de um “que bom que você está aqui...”.Essa frase já disse TUDO.
 

Postado por Antonio Bordallo às 7:06 AM

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UM ANO


Dia 4 de maio de 2005, o dia que mudou minha vida. Um ano depois, muita coisa aconteceu, muito mudou na minha vida desde aquele dia,mas o mais importante, estar vivo, segue firme e forte. Minha perna que sobrou ainda dói, e é muito estranho você sentir dor por causa de um machucado que você sofreu há um ano. Poucos de vocês devem ter tido uma dor tão longa quanto a minha, e o que tenho a dizer é que é muito duro ter que agüentá-la por tanto tempo, passar a encarar a dor como uma coisa quase que inerente à sua existência, mas é isso: uma simples reação do corpo avisando de que algo esta errado, e está bastante errado.

Para esse dia eu estava pretendendo escrever um texto meio triste, baseado no último capítulo do livro “Feliz Ano Velho”, de Marcelo Rubens Paiva, um livro que me inspirou muito nas últimas semana. Seria de cunho um tanto triste, mas depois de um bom e sensato papo com minha amiga Kiki Gurjão comecei a encarar esse dia de uma forma completamente oposta. Eu não tenho que me lembrar dessa data como o dia que perdi a minha perna, o inicio de todos meus problemas atuais. Eu tenho que encará-lo como o dia em que eu consegui sobreviver à maior provação de minha vida. O dia em que realmente eu provei a mim mesmo que sou forte, não somente em físico,como também em vontade. Lembrem ,amigos, se a história fosse diferente, em vez de eu lembrar hoje como “o Dia do Grande Susto” (como passei a chamar esse dia), vocês é que hoje teriam que ir na minha missa de um ano de morte...
BRINDEMOS A VIDA!


Apenas como registro de sentimento temporário, escrevo abaixo a versão que tinha escrito para esse dia. Apesar


“Dia 4 faz 1 ano do acidente. Até agora são 12 meses de uma perna em frangalhos, tão inútil quando a perna amputada. Um ano em que tive uma certeza:minha vida mudou pacas. Sou um outro Antonio, não mais Bordallo, e sim Rodas, cadeira de rodas. Não mais o guia malhador que sonhava começar o seu sonho na Europa, e sim um deficiente físico. Ganhei algumas cicatrizes pelo corpo, fiquei mais gordo e tento variar o meu visual pra me sentir aquele Antonio camaleão que sempre fui. Não fumo mais o meu narguile e nem mais passo as noites com meu whisky com muito gelo. Meu futuro é uma quantidade de infinitas incertezas. Não sei como vou estar fisicamente, não sei como irei ganhar a vida e não estou afim de passar nenhuma lição, eu só quero é viver. Não quero que as pessoas me encarem como um rapaz que APESAR de tudo transmite muita força. Não sou modelo pra nada. Não sou herói, sou apenas vítima do destino, dentre milhões de destinos que nós não escolhemos. Aconteceu comigo. Injustamente, mas aconteceu. É foda,mas que jeito...
Semanas depois, soube que essa perna que “sobrou’ também seria amputada se fosse em um outro hospital, e que eu tinha mais chance de morrer do que sobreviver, dada a proporção desse acidente.
Hoje em dia, me pergunto se preferia estar morto. Às vezes parece uma solução muito fácil, mas creio que os problemas seriam ainda maiores que os alívios.
Às vezes penso naquele rapaz que estava apenas cumprindo mais um dia de sua rotina, à espera do grande dia do embarque pra Europa, e que,subitamente, cruzando um túnel em que sempre cruzava, um ônibus inteiro pegou, passou por cima e o arrastou até fora do túnel...
Abriu os olhos, achou que fosse mais uma queda normal, ia se levantar, até que olhou mais pra baixo da cintura...”
 

Postado por Antonio Bordallo às 7:04 AM

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terça-feira, maio 02, 2006


Já não bastasse o dia de hoje...


Hoje,dia 2 de maio,é um daqueles dias que eu tento fazer parecer normal mas acaba não dando...Isso porque num dia desses há 3 anos atrás perdi meu pai. No geral eu tento encarar como um dia normal, mas acaba sempre acontecendo algo. Lembro até hoje esse dia no ano passado. Eu na academia, malhando, lembrando o meu pai... sem suspeitar que 2 dias depois aconteceria o acidente que mudou minha vida...

Esse ano até tentei encarar de uma forma normal: fui pro HTO, na volta dei um giro com o psicólogo pelas ruas de Copacabana (rodei tanto com a cadeira que até deu bolha na mão...) e então voltei pra casa. O que eu não contava era que o elevador da entrada social (a que eu uso) estaria quebrado. Isso numa situação normal não teria problema algum, mas considerando que agora a minha bicicleta ,que foi destruida no acidente, está estacionada bem no corredor do elevador dos fundos, e por isso mesmo eu estava evitando passar lá até então...

Subi o elevador contrariado (por não haver outra alternativa) e angustiado, por saber que em poucos instantes chegaria um dos momentos que eu evitara até então...

Abri a porta do elevador e ao ver mlnha bike foi como se estivesse revendo um grande amigo, daqueles inseparáveis e de longa data, só que todo destruido...
=(
Minha reação não passou do esperado: chorei convulsivamente, como se estivesse vendo um outro amigo amputado.
O quadro da bicicleta todo arranhado e sujo do asfalto, minha garrafinha de metal ainda estava presa firme no quadro, arranhada e suja como o próprio. O que mais chocou foi a roda de trás, contorcido como se fosse feito de borracha, mas não era. Foi contorcido com a força de um ônibus, a mesma força que arrancou minha perna direita sem mais nem menos...
Vi os pedais. Mesmo com a corrente enferrujada e fora do lugar toquei aquele pedal direito, lembrando que um dia eu pisava nele com meu pé direito usando todo o peso do meu corpo para dar o primeiro impulso e começar a andar...
MUITA SAUDADE...

Na sequência minha mãe abre a porta e me vê daquele jeito...não custou muito traduzir as lagrimas dos meus olhos...

Espero que por hoje tudo isso já tenha sido suficiente.
 

Postado por Antonio Bordallo às 3:27 PM

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