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quarta-feira, novembro 23, 2005


Memórias da Enfermaria - nº.1 - Limite da Dor


Limite da dor

Antes do meu acidente, sempre acreditei que havia um limite da dor, que uma vez ultrapassado, resultaria em morte. Até por uma lógica mesmo, porque poderia ser melhor morrer logo do que sofrer de uma vez só uma dor além de tal limite. Hoje em dia temos medidas para tudo: distância, capacidade, peso... mas não temos pra dor...
(tudo bem que também não existe medida para alegria e nem para amor, mas aí já é outra historia...). Não havendo um medidor para dor, tudo fica muito subjetivo, e por isso eu ficava sempre imaginando qual seria o limite da dor...

Depois do meu acidente, minha concepção foi outra. Por mim não há um limite específico da dor, porque nossos limites vão se acostumando e então nossa tolerância à dor também aumenta, da mesma forma quando um medicamento que usamos não faz mais o mesmo efeito de antes, sendo assim necessário aumentar a dose.

Vocês devem se perguntar como deve ter sido a dor de ter uma perna arrancada. Surpreendentemente, não dá pra dizer com exatidão q é uma dor monstruosa, simplesmente pelo fato de que, além do sangue quente na hora ao permitir (graças a Deus) que sintamos uma dor do jeito q ela é, o nosso cérebro também tem um certo dispositivo que elimina a dor quando ele vê que essa vai ser muito grande a ponto da gente não suportar. Da mesma forma que a dor age de alerta pra gente que algo não está correndo bem com nosso corpo, ele simpolesmente deixa de agisr quando está mais que evidente que nós sabemos que algo não anda bem mesmo... Partindo desse princípio,eu não senti os pneus esmagando minha perna. Quando abri meus olhos depois de um instante eu já estava naquele estado... isso mostra que o cérebro também sabre driblar esse limite da dor.

Posso dizer também que maior que a dor que eu sofri na hora q perdi a perna foram as que eu fui sentindo durante os dias internados. Isso porque elas vinham acontecendo pouco a pouco e de forma intensa... lembro nos primeiros dias internado da dor que era tomar banho, pois tinham que descolar o lençol das minhas feridas das costas e depois esfregá-las... eu chorava feito uma criança desesperada. Até creio que depois de tais demonstrações de fragilidade, eu conquistei a simpatia de algumas enfermeiras.
Outra grande dor que sofri em tais dias foram das injeções...era algo que eu sempre torcia pra acabar, porém levou muito tempo pra essa agonia cessar, mas vou abordar esse tema em outro texto.

Olhando pra trás agora, depois de tudo que passei até então, posso ao menos concluir qual foi a maior dor que eu senti até então. Vou separar um parágrafo pra explicá-la e aviso de antemão que não aconselho tal leitura àtodos.

Foi numa segunda feira, dia 20 de junho. Minha perna esquerda ainda estava bastante avariada, com 70% da área sem pele e outras abaixo do nível da pele, com perda séria de músculos e tecidos. Um cirurgião plástico foi atémeu leito para avaliar a condição da minha perna para fazer o enxerto necessário. Até então, toda e qualquer coisa que fosse feita na minha perna era feita no centro cirúrgico, sempre àbase de forte anestesia, devido a descomunal dor. Tal cirurgião chegou com um jeito bem desinteressado-esnobe e acompanhado de uma assistente idem. Pedi pra eles usarem algum tipo de anestesia, retirarem o curativo no centro cirúrgico, mas não adiantou... iam tirar aquilo tudo na hora e SEM NADA de anestesia... somente jogando um soro pra amolecer um pouco as feridas... Bom, só sei que mesmo com uma pequena parte já umedecida e mais fácil de tirar, o doutor foi arrancando as ataduras de uma forma que até hoje não lembro de ter chorado e gritado tanto... e em vez dele amenizar, parece que ficou puto com minha reação e deixou pra lá o soro e foi arrancando tudo a seco mesmo! Depois de um tempo, cheguei a ficar tonto de tanta dor, além de suado, ofegante, cheio de lagrimas. Isso tudo com minha mãe do lado me abraçando com força e chorando na mesma proporção. Nunca tinha visto minha mãe chorar daquela forma...
=(
Aliem à toda essa cena o fato de que era a primeira vez que eu olhava pra minha perna depois do acidente. E eu estava lá, a vendo de uma forma como nunca havia imaginado antes... não parecia minha perna....não pela aparência do momento,mas pela forma. Era bem mais magra que a minha... foi um choque complicado, chorei bastante, mas isso é papo pra outro texto talvez...

Depois de ter avaliado por uns 2 ou 3 minutos, ele começou a fechar o curativo com atadura numa frieza, como se não tivesse feito nada a mim. Fiquei com tanto trauma daquela cena que ficou marcada como a maior dor que senti até hoje. Não foi a do acidente, não foram os cuidados no centro cirúrgico. Foi a inconseqüência de um açougueiro com diploma de cirurgião plástico que me fez sentir um dos grandes desprazeres dessa vida.

Durante esses dias internado, eu acabei passando a crer em algo para, se não minimizar a dor, ao menos fazer eu parecer mais forte que ela. Passei a acreditar que se Deus me colocou essa dor pra sentir é que Ele sabe que eu agüento. Pelo menos posso dizer que isso fez me sentir melhor nesses dias.

Hoje encaro a dor como algo que esteja inerente à minha existência nesse momento. Apesar de não ser algo natural, no meu caso creio ser necessário sentir tais incômodos para num futuro eu poder não sentir mais dores... e posso dizer que, depois de um tempo, e também de experimentar proporções tão cruéis de dor, que essas dores mínimas parecem nem existir às vezes. Agora posso dizer com propriedade que nem tudo que dói em você vaidoer na mesma proporção pra mim.
Orgulho?
Não... sobrevivência!
 

Postado por Antonio Bordallo às 2:22 PM

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