aproveitando a segunda chance

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sábado, agosto 19, 2006


Ruas, calos e grande satisfação


Quinta feira. Acordo cedo mais uma vez, é a ansiedade de um novo desafio que está a caminho. Já sabendo que o caminho é longo e incerto, separo minhas luvas que usava pra malhar, só que a academia agora é a rua. Pego o metrô com minha mãe em direção à Central, e o metrô de fato é o local onde me sinto mais à vontade, me sinto menos deferente do outros, de alguma forma: acesso por elevadores, isenção de tarifa pra mim e quem estiver me acompanhando e, principalmente, um chão liso e brilhante donde eu posso correr livre, leve, sem pensarem nenhum súbito buraco ou desnível no caminho e ainda menos pessoas à minha frente. Corro, corro...o máximo que eu puder, deixo a todos pra trás... é essa hora que eu mato um pouquinho a saudade de correr livre e veloz, como nos meus abençoados dias de ciclista... às vezes corro tanto que chego a fazer a estrutura da cadeira tremer. Pena que cadeira de rodas não tem marcha... ou “sorte” daqueles que possam cruzar meu caminho,hehe... o que importa é que, naquele ambiente de condições controladas, eu sou um corredor. Na plataforma de embarque o metrô para sempre há pouco menos de 1 palmo de distancia da plataforma em si. Pra quem anda é muito pouco (1/5 de um passo), mas pra que roda que nem eu, é simplesmente o tamanho da rodinha da frente, e uma passada descuidada pode me fazer não somente cair, mas ser arrastado até não sei onde pela grande locomotiva subterrânea. Pesadelo ou medo, o que importa é que nunca posso vacilar. Dentro do vagão, lotação típica das 8 em meia em qualquer metrópole, que se escoa quase que totalmente na estação Carioca. Nem me importo com olhares. Na verdade, ultimamente , eu sempre utilizo de algum subterfúgio pra não reparar nessas coisas: seja observar a rua, (que é o que importa); ou ler algo, estudar algo... tudo é melhor do que me sentir como objeto de curiosidade alheia. A saída do metrô me faz voltar à dificuldade da vida normal. Vou até a saída pelo Campo de Santana, o que adiantaria e muito o meu caminho, mas ao chegar vejo que o a escada rolante está em obras...pior do que isso: uma obra EMBARGADA. Somente me restou voltar e sair pelo outro lado da rua, no lado da Central e cruzar todo aquele caminho de novo, só que por cima... Ajudado por um encarregado do metrô, contato que nada realmente foi pensado para cadeirantes e afins naquele local. Só pra descer no metrô, há que se subir 2 degraus antes, mas se fosse apenas esse problema, nem reclamaria, mas não é. Meu caminho pra atravessar a avenida Presidente Vargas foi o mais tortuoso e fora de lógica que eu já fiz: de um lado da faixa de pista tinha rampa, mas do outro não...e eram pelo menos quatro faixas a atravessar. Queria entender o que tinha na mente do cara que projetou isso...



Cruzei a rua. Nunca imaginei que fosse ser algo tão difícil assim. Já estava cansado, mas a real é que eu tinha acabado de chegar no meu antigo ponto de partida, se a tal escada rolante não estivesse com a obra embargada... Passava pelas ruas com um misto de tristeza, indignação e cansaço ao sentir que as ruas não foram feitas pra mim. Me sentia como uma visita indesejada que , por tal razão, o dono da casa criava todo e qualquer obstáculo pra me dificultar a vida... eu era um penetra na vida da minha própria cidade. Essas coisas foram durante muito tempo a grande razão de eu ficar isolado sem sair de casa, mas o efeito colateral do remédio dói tanto quanto a própria doença: passar semanas sem sair de casa havia me causado problemas de ordem psicológica. A sensação de se viver encarcerado agora era substituída pela dor física, de ter que fazer tanto esforço pra avançar uns poucos metros... Se locomover de cadeira de rodas sem ninguém te empurrar é uma atividade de esforço físico constante. É como se você fizesse um exercício de braço, mas que você não interrompe a cada dez repetições. Se você não continuar executando o movimento a sua cadeira para. Levantar um peso de 5 quilos com os braços é relativamente fácil, agora tente pegar o mesmo peso e repetir tal movimento cem vezes... mil vezes... e não pode parar não, hein? É assim que me sinto toda vez que tenho que me deslocar a grandes distancia...isso sem falar que, mesmo com minha luva de malhação, a mão se enche de dolorosos calos... =(


Nessas horas em que sinto doer tudo o que no meu corpo faltava doer que eu me questiono por que essas coisas acontecem comigo: o que eu fiz de tão grave pra ter que passar por isso... por que eu que não faço mal a ninguém tenho que passar por isso enquanto corruptos e outros criminosos aproveitam suas vidas impunemente? A falta de resposta convincente a essas perguntas fazem doer ainda mais o fardo que carrego. Com 45 minutos de atraso, chego ao local do curso de silk screen que pretendo fazer. O carinho das pessoas de lá, e mesmo o reconhecimento da minha força de vontade de querer estar lá me faz sentir bastante aliviado, apesar da palma da mão já preta de sujeira da rua e queimando de tanto calo... Consegui me sentir a vontade e respeitado, num ambiente onde ninguém tinha me visto antes...se o resto da sociedade fosse assim... Depois do curso, segui caminho com minha mãe e fui para uma loja de próteses, de uma moça que recentemente conheci pela internet. Essa vida virtual pode nos trazer ótimas surpresas de vez em quando. Era a primeira vez que via Silvia ao vivo, mas nossa proximidade virtual nos deixou tão próximos ao vivo que parecíamos nos conhecer de longa data. Isso fora também toda a prestatividade e carinho dos que trabalham com ela. Para mim foi um momento único. Um momento de começar a entender como serão tratados meus próximos passar (literalmente) em relações a próteses. Conheci diferentes modelos, entendi mecanismos, componentes... pela primeira vez eu conversava com alguém sobre próteses e minha vida daqui pra frente e não era eu que explicava. Apesar de ser ainda algo distante, consegui mensurar minhas possibilidades com essa prótese, e me enxerguei um dia fazendo o uso de uma. Mas como nem tudo na vida são rosas, o caminho de volta me esperava. O caminho doloroso se intensificava devido a fadiga e os calos, mas não tinha outra opção senão refazer o caminho de volta... Desafio aceito, desafio comprido. Apesar da via crucis que foi, não achei motivo pra não repetir o mesmo trajeto na semana que vem, quando começa tal curso, só que dessa vez sozinho mesmo. Preparação psicológica e física, essa é a saída. Agora eu já conheço meu inimigo, a rua. Disposição pra encarar não falta. Acordei hoje com uma forte dor nos músculos das costas. Dor típica de quem ta começando a malhar. Dor de quem, com o tempo, vai fazer o mesmo, ou maior esforço e não vai sentir mais nada. Sinal de que isso é só o COMEÇO, e de que o futuro tem mais medo do mim do que eu dele. Posted by Picasa
 

Postado por Antonio Bordallo às 7:56 AM

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