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terça-feira, maio 16, 2006


Um dia das mães diferente


Esse dia das mães me puz numa certa complicação. Tudo isso porque o comércio nos obriga a, tradicionalmente , comprar um presente pra minha mãe. Quem me conhece sabe que eu sou bastante contra isso de ter uma data especifica pra dar presente a alguém. No meu ponto de vista isso serve pra quem é esquecido, ou quem não tem naturalmente o costume de dar presentes, mas não é o meu caso.

Eu acho muito mais gostoso quando, andando na rua, do nada vejo alguma coisa que me remete diretamente a uma pessoa que gosto. Se tô com dinheiro na hora nem hesito em comprar. Lhes garanto que é muito mais gostoso ver a reação de surpresa de quem acabou de receber um presente assim, sem uma data definida... Nas outras datas todos sabem que vão receber presentes...não tem tanta graça além do próprio fato de ganhar algo...

Mas enfim, voltando ao dia das mães, pra não fazer a linha “muleque-revoltado-que-é-contra-as-regras-impostas-pela-sociedade”, resolvi descolar algum presentinho pra minha mãe...mas como?

Pra começar não estou trabalhando, portanto, sem grana pra comprar presente(mãe entende isso, mas filho não)... e pra piorar o negocio, como ir na rua comprar um presente se é tão difícil assim eu sair pra rua? Definitivamente eu não ia avisar a minha mãe “ae , me leva lá embaixo que eu vou comprar um presente pra vc...”, me poupem, né? Cara-de-pau eu tenho, mas não é pra tudo. Daí então comecei a pensar...

Aí então me lembrei de uma madrugada, no final do mês passado, quando eu, finalmente, passei a dar o real valor que minha mãe merece. Não que eu fosse um ingrato desnaturado, mas eu tinha ciência que minha mãe merecia mais carinho de mim... Naquela mesma madrugada (eram umas 3 da manha) comecei a escrever aqui no Word um tipo de biografia dela, contando, do meu ponto de vista, toda a sua luta, desde o semi-árido nordestino, à vida cosmopolita de Copacabana... Aí então enxerguei que sua vida foi uma grande luta...

Nessa mesma semana (agora semana passada), uma outra amiga que fez aniversário há meses atrás me contou de quanto ela gostou do meu presente à ela, que no caso também foi uma cartinha... Aquilo me deu tanta moral que eu pensei: não é o que eu idealizei como presente pra minha mãe, mas já que a única coisa que eu posso oferecer no momento está assim tão valorizada, que eu presenteie minha mãe com palavras!

A partir disso agreguei o que já tinha escrito de minha mãe e passei o dia todinho de sábado sentado aqui na frente do computador e me lembrando parte por parte a vida que eu passei com minha mãe, agregando também as histórias que ela me contou que eu não tinha nascido ainda pra presenciar. Foi um difícil, longo e trabalhoso projeto, mas acho que valeu a pena. Não só pelo presente em si, mas também pelo exercício de escrita que eu fiz. Já que estou pretendendo escrever um livro, preciso praticar mais essa escrita. E essa tarefa também foi legal pelo desafio de saber se eu seria capaz mesmo ou não de finalizar uma historia de forma romanceada. Graças a Deus consegui.

Além da biografia, escrevi também uma carta anexa. Como um cartão que vem junto do presente. E o legal é que acabei desenvolvendo dois textos distintos, mas tão interessantes que não podia deixar um dos dois de fora. Pra resolver o impasse, escrevi uma carta normal com um P.S. tão grande quanto a própria carta...

Pra vocês, que já devem estar curiosos, coloco abaixo a carta e a parte introdutória da biografia da minha mãe(porque colar 7 paginas da vida dela aqui já seria demais) ...


“Mãe,

Mais um dia das mães na luta. Uma luta que realmente prova quem é mãe de verdade ou não é. E você, sem duvida, "passou no teste " com louvor.
Você pode até não ser uma pessoa diplomada, cheia de cultura, Mas saiba que se a arte de dar carinho e atenção aos filhos fosse uma atividade reconhecida com diplomas, na parede do seu quarto estariam vários diplomas...mas esses diplomas não precisam ficar pendurados na parede para os outros verem . Eles ficam dentro da senhora , no coração. Um lugar muito mais gostoso de guardar esse reconhecimento, pois em vez dele aparecer para os outros, a senhora SENTE ele, sempre. E não há universidade no mundo que possa dar tamanha sensação.

Espero que nesse dia das mães a senhora consiga todo o carinho que a senhora merece como mãe.

Não vou dizer que te amo e que você é a pessoa de maior importância na minha vida porque muitas coisas não é necessário dizer, mas sim SENTIR...

Muito obrigado por você existir e principalmente estar do meu lado sempre.

beijos

Antonio Bordallo


PS: Sim, mãe, eu mudei. Resolvi dar valor à minha mãe agora do que fazer como pessoas que pensam tardiamente: " só agora que perdi eu dou valor a minha mãe"...
Passei a acreditar que essa é uma boa oportunidade de , em vez de eu ter algum tipo de arrependimento no futuro ( por não ter gostado da minha mãe antes como devia) pôr meu carinho e admiração em prática enquanto você está aqui do meu lado.
Espero que um dia eu ganhe dinheiro com esses textos que eu escrevo e em vez de te dar apenas uma cartinha bonita eu venha a te dar um presente de verdade, algo mais legal."

E agora, o primeiro trecho da biografia:

Madrugada. Já é sexta-feira,dia 28 de abril de 2006. Fiquei muito pensativo na cama agora, pensei tanto em algumas coisas que vi que se deixasse pra amanhã, não me lembraria de tudo de importante que pensei. Parece que consegui sentir a real dimensão da importância da minha mãe na minha vida até hoje.
Soa meio estranho um filho acordar do nada aos 26 anos e “descobrir “ essa constatação que sempre nos ensinam. Mas é real, essencialmente real.
Comecei a discorrer o passado da minha mãe, sua trajetória do interior semi-àrido de Pernambuco até o cosmopolitismo de Copacabana. E vi que foi um salto enorme. Um “salto quântico”, como a mesma diz. Discorri todas as dificuldades que ela sofreu, e baseado nisso rendo-lhe todo meu respeito e admiração.

Imagino ela em meados dos anos 40, numa seca nordestina sem futuro, cheia de irmãos. Uns pra brincar, outros pra educar, e ainda uns outros pra vigiar... Deve ter sido muito difícil brincar com sabugos de milho e fingir que são bonecas. Deve ter sido mais difícil ainda ter que interromper a brincadeira de boneca para ir trabalhar na lavoura...
Pensando nisso talvez ela constatou que aquilo não era vida, que aquele lugar não daria o futuro que ela queria, e o único caminho então seria seguir os passos do já difundido êxodo rural. Sua família saiu da roça, foi pro centro de São Caetano. Nem lá dava tamanho futuro, rumou com alguns parentes para o Recife. Uma cidade realmente grande pra suas vistas. Não adiantou. Quanto mais temos noção do mundo afora, mais queremos ver como aquilo é. Não agüentou mais esperar e foi procurar abrigo na casa de seus irmãos no Rio de Janeiro, na “base carioca da família”, em Quintino. Chegou na “cidade maravilhosa” no dia 19 de maio de 57, a 20 dias de completar 18 anos. Já não era mais uma menina, mão não se casara ainda. Mesmo bonita, considerava uma verdadeira sina não ter nascido de cabelo bom. E por isso poucos sabiam que o que ela tinha de bom mesmo, muito melhor até, estava por dentro.(...)”


À todas mamães, mesmo que atrasado, feliz MÊS das mães...
=)
 

Postado por Antonio Bordallo às 3:10 PM

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