aproveitando a segunda chance

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sábado, novembro 11, 2006


As Ruas do Centro X Antonio


Cada vez que tenho um avanço em minha recuperação, sinto que as ruas se põem mais hostis a mim, seja pela minha audácia de andar por lugares que não me esperavam passar, seja pela minha própria situação física, dado que a energia que uma pessoa gasta ao caminhar por uma quadra é de fato menor do que a eu gasto pra empurrar minha cadeira de rodas nesse mesmo trecho.
Depois daquela terça-feira infeliz que relatei na última crônica, chegou a quarta-feira, que conseguiu ser pior...

Minha aventura começa no centro da cidade, no prédio da Faculdade Candido Mendes (r.da assembléia 10), que pra chegar ao 22º. andar teve que ser armado todo um esquema complexo (parece que eles nunca esperavam alguém de cadeira de rodas naquele prédio...). Tive que dar a volta no prédio e entrar pelos fundos, depois tive que esperar um elevador de carga me pegar, mas isso tudo foi agilizado por um segurança que dava comandos através de um walkie-talkie para algum operador de dentro do elevador. Pensei: “Não seria mais prático apertar o botão do elevador apenas?”... enfim... com essa brincadeira perdi quase 10 minutos esperando... Na saída do prédio a coisa foi um pouco pior... esperei pelo mesmo elevador no local dele, mas depois de mais quase 10 minutos sem nenhum sinal resolvi pegar um elevador de gente, que era o que sempre aparecia e que todos pegavam...pra quê? Entrei num andar e fui delicadamente convidado a sair no andar logo abaixo, sob alegação que tal veículo não parava no térreo, somente no subsolo, e por isso não serviria pra mim... aconselhando então eu voltar a esperar aquele velho elevador de carga , segui de volta a meu posto...passados mais 10 minutos, me cansei de novo e insisti em ao menos chegar no tal subsolo pra então ser lembrado pelos ascensoristas... Ao entrar, o ascensorista quis deter minha entrada, mas aí que ficou puto foi um outro moço que estava vendo minha dificuldade e então me empurrou ele mesmo pra dentro do elevador mesmo contra a vontade do ascensorista... só sei que esse cara ficou revoltado com o descaso a mim dispensado e então decidiu ele mesmo resolver isso. Já no subsolo tive que esperar o tal elevador de carga então chegar e finalmente cheguei ao pavimento desejado... Resultado: 3 elevadores apenas pra descer um prédio. Bom começo, não? Pois a coisa ainda ia piorar...

Finalmente na rua, segui em direção ao Camelodromo. O que eu não contava era que todas as ruas transversais daquela região que levavam a tal lugar eram de paralelepípedos, e andar de cadeira de rodas em paralelepípedos é uma tarefa um tanto arriscada... depois de ver minha mínima velocidade sobre os artefatos de pavimentação, uma moço solícito resolveu então assumir o comando da minha cadeira, me levando até a esquina daquela rua, mas minha cautela em passar por aquela rua não era à toa: apesar de ter chegado rápido, a rodinha da frente da minha cadeira não agüentou e empenou. Tive que, com muito dificuldade chegar a uma lanchonete, sair da cadeira e tentar desempená-la, ou seja, encaixar de novo a parte correspondente ao pneu, no encaixe da roda. Com a ajuda do gerente consegui então fazer tal reparo e seguir meu caminho ainda mais ressabiado...

Não durou nem 30 metros e outro obstáculo me apareceu: a calçada nessas transversais do centro da cidade são muito estreitas, não chegam nem a ter um metro e meio de largura, e justo nessa calçada alguns restaurantes entulharam uns sacos de lixo...passar por aquilo foi algo que só foi possível pois um moço que estava passando se revoltou também com a cena e resolveu agir. Pediu pra esperar e então ele foi retirando alguns sacos do meu caminho pra eu ir passando um por um, mesmo assim foi impossível não sujar minhas mão com aquele chorume ( pra quem não sabe , é esse o nome que se dá pra o líquido que escorre do lixo..), imagine que nojo! Você ter nojo de suas próprias mãos e não ter nenhum lugar pra lavá-las... talvez um minimizador da pindaíba ocorreu pelo fato desse mesmo cara que me ajudou era revendedor de perfumes e então borrifou uma de suas amostras no meu pulso... mesmo assim...
=/

Cruzando a avenida Rio Branco, passei a procurar alguma rua que estivesse ao menos asfaltada, porque mais perrengue que aquele já era demais... por sorte aquele trecho da rua da Alfândega já dispunha de calçamento adequado e então segui, mas com um porém: já que as calçadas conseguem ser ainda mais estreitas que as já mencionadas, o jeito era mesmo seguir na pista, e concorrendo com outros carros. Entre um carro e outro, eu ... e respirando o gás carbônico que nenhum outro condutor respirava... depois de corridos alguns metros, o telefone toca e improvisei um acostamento entre um carro e outro estacionado. Era da gráfica onde havia mandado fazer um fotolito avisando que daqui a pouco iam fechar a loja... Não deu nem pra pensar muito: peguei o táxi que estava logo atrás de mim e meio que no improviso, tivemos que voar pra uma área depois do Campo de Santana e então voltei pro Camelódromo... e lá que a coisa começou a ficar ainda mais séria.

Andei a procurar por um tipo de caneta nanquim recarregável, mas diziam que lá não vendia mais , que eu deveria procurar numa loja a algumas quadras de lá... já que distância não é mais empecilho pra mim (o caminho que sim), resolvi seguir pra lá...
Já na descida da rampa pra pista, uma parte dessa tinha uma poça que então contribuiu mais ainda pra sujeira que a minha mão já estava... segui então meio que ignorando o fato (porque não me restava muito a fazer naquela hora) e então eis que constato que a rua que leva à tal papelaria é um caminho todo de paralelepípedos... Tá bem que rua de paralelepípedos é bonitinha, que dá um ar de Rio antigo e tal, mas que ao menos fizessem um corredor acessível em alguma parte perto, pô! A calçada conseguia ser pior, porque além do meio fio ser mais de um palmo de altura, nem rampa pra descer tinha... Em algumas dessas subidas e descidas quem acabou me ajudando foi uma moça, já que os homens que estavam por perto simplesmente fingiram não me ver, só pra não me ajudar...cenas assim nesse dia vi mais que uma vez , muito triste isso.

Chegando na loja, qual foi minha surpresa ao saber que eles NÃO tinham o tal produto que fui lá só pra comprá-lo? Fiquei tão puto que deu vontade de pedir prum vendedor ou ao menos o infeliz que me indicou aquele lugar me empurrar todo o caminho de volta, pqp...se eu tinha dúvidas, lá eu confirmava que aquele não era meu dia...

Depois dessa então não me restou mais nada além de voltar pra casa. Eu que não queria inventar de fazer mais algo pra então rolar outra zebra. Porém no caminho em direção ao metrô, desço por uma rampa na r. Buenos Aires que , de tão mal projetada, acaba me jogando pra frente de uma forma que eu só não caí de cara no chão porque ousei em jogar minha perna cheia de parafusos pra frente e me apoiar nela. Creio que há meses atrás isso me causaria um problema bem mais sério do que o que rolou, mas pra minha sorte, meu osso está finalmente consolidado, e essa foi uma prova disso, apesar de num momento bem inapropriado.

Chegando ao vagão do metrô ,finalmente um momento de relaxamento, enquanto ouço uma musica (de uma banda argentina chamada Intoxicados) que me conta uma grande verdade depois de um dia duro desses :

“Cuando las cosas salen como no las espero, la vida me hace más guerrero”
(quando as coisas não saem como eu espero, a vida me faz mais guerreiro)...

É isso aí, nada mais a adicionar
=S
 

Postado por Antonio Bordallo às 11:10 AM

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