aproveitando a segunda chance

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quarta-feira, setembro 13, 2006


Caí


Tinha confessado a mim mesmo ontem, que nessa saída q eu ia dar eu não escreveria nada sobre, até por que já estava sentindo que tava sendo um deslumbramento atrás do outro,e quando isso também vira rotina, perde a bastante a graça, mas parece que só pra me sacanear, o destino resolveu aprontar uma comigo e eu não tive como deixar de compartilhar isso com vocês.

Ontem parecia o dia mais normal da minha vida desde minha fase de dias anormais: acordei cedo, fui pro dermatologista (pra ver direito como pegar sol e não ficar com manchas escuras nas cicatrizes pro resto da vida), depois pro dentista e de lá, passei em 3 farmácias de manipulação a pesquisar preços, luxo que eu resolvi me dar por sentir que agora eu posso sim me locomover e escolher o melhor preço e não comprar na primeira opção mais perto.

Me avisaram, e de certa forma eu já sentia, que meu pneu estava arriado. Fazia um esforço bem maior e me cansava mais fácil. Talvez tenha arriado porque ultimamente eu ando realmente “gastando” pneu por aí, e então depois de fazer meus afazeres, rumei em direção à praia para calibrar os pneus, já que em Copacabana só tem posto de gasolina por lá mesmo.

Eu já sentia um certo cansaço fora do comum, pois sentia muito desgaste físico em tão razoável distância percorrida, além de sentir que algumas partes da minha mão, de tantos calos, estavam bastante vermelhas e quase rompendo a pele. Apesar de cansativo, não reclamava tanto do esforço físico, pois, mal ou bem, era a minha “malhação diária”. Acontece que quase na esquina da rua Hilário de Gouveia com a Avenida Copacabana, acontece algo súbito que eu sempre temia que um dia viesse a acontecer. Estava andando numa velocidade razoável quando de repente...BLUPT!
Minha cadeira trava no chão, mas meu corpo não. Fui jogado pra frente sem nada e caí sentado, bem em frente a minha cadeira! Na pratica eu não sofri nenhum arranhão sério, mas com o susto, e talvez como alguma forma de reação, os músculos do meu coto se contraíram de uma forma que senti uma cãibra daquelas que você não deseja nem pro seu inimigo. Já tinha sofrido cãibras piores com o mesmo músculo, mas não num contexto tão ruim como esse. Imaginem a cena: um cara que anda de cadeira de rodas estatelado na calçada sentido dores que ninguém entendia, já que não aparentava ter nenhum arranhão e nem osso quebrado. Minha dor no coto foi muito grande, mas ela num espaço de 1 minuto até que passou, o que doía mais e tá difícil de passar até agora foi a dor da indignação, da vergonha de ter outras pessoas presenciando aquilo, a sensação que eu não era um ser bem vindo naquelas calçadas, mesmo essas sendo a da minha própria vizinhança: essa foi a dor que doeu mais. Não queria que presenciassem mais uma cena de derrota além dessa, e por isso, encolhi minha cabeça em direção ao peito, coloquei as mãos sobre a face e chorei um pouco. Era um choro honesto, de quem não queria aceitar tudo o que estava acontecendo lá. Foi um choro infantil , breve, mas honesto. Eu precisava ter um segundinho comigo somente, mesmo com uma multidão de gente querendo ajudar já me rodeando... O que me espantou também foi o quanto súbito essa coisa aconteceu: eu estava tranqüiliinho num momento e em frações de segundo já estava num estado completamente diferente. Isso me fez lembrar muito o meu acidente de bicicleta, pois a mudança de estado foi na mesma velocidade. Eu pude compreender melhor que nossa vida pode sim mudar numa velocidade impressionante. Com a dor já ausente, e sem nenhum arranhão, me restou voltar à cadeira e, pra mostrar aos outros que eu estava bem, voltei pra ela sozinho, sem precisar de ajuda alguma. Agradeci ao “público” não somente por presenciarem o espetáculo de um homem em seus piores momentos, mas principalmente por serem todos bastante solícitos, querendo me ajudar, ligar pra minha mãe, oferecer copo d’água gelada e et cetera... carioca quando resolve ajudar é simplesmente um amor de pessoa...brasileiros em geral, justiça seja feita. De volta ao “cockpit”, segui lento, cabisbaixo até o outro lado da esquina. Lá eu parei sob a sombra de um outdoor, numa área sem movimento e comecei a pensar sobre aquele episódio, digerir melhor o que tinha acontecido comigo... não era tão fácil aceitar aquilo tudo.

Depois de já recuperado, consegui finalmente entender como e porque o acidente ocorreu: nas calçadas projetadas pelo projeto Rio Cidade, apesar de sempre bem lisas, existe um sulco, um pequeno canal que é da largura da rodinha da frente da cadeira de rodas. Normalmente esse sulco não é muito profundo e então nem se fazia muito perceber, só que nesse segmento que eu estava seguindo esse era profundo sim e pior, no final dele não existia uma transição para o nível do resto da calçada, era um “paredão” mesmo, e por isso que a rodinha entrou nesse sulco repentinamente e depois foi travada bruscamente, e pra uma rodinha pequena dessas conseguir não somente ser travada por esse sulco como também frear a cadeira toda, imaginem o tamanho do tal sulco...

Algo que eu devo relatar pra vocês também é uma incoerência total que observei por esses estabelecimentos de Copacabana. Como sabemos, Copacabana tem uma enorme população da terceira idade e, por isso mesmo, dispomos de uma infinidade de drogarias e farmácias de manipulação, tanto que em um quarteirão conseguimos encontrar até três ou quatro delas. E às vezes a distância entre filiais da mesma rede de drogarias chega a ser de apenas uma quadra. A incoerência então ocorre no fato de que a maioria desses estabelecimentos não dispõem de rampas pra acessá-los e por isso é sempre um grande transtorno pra entrar neles. Ontem eu fui em três farmácias de manipulação e em três drogarias. Dos seis estabelecimentos apenas UMA drogaria tinha rampa, ou seja , de todas a farmácias de manipulação, nenhuma tinha acesso facilitado e mais da metade das drogarias idem. Só sei que na última drogaria que eu tentei entrar, chegou uma a hora que eu até desisti e dei meia-volta. Já tava indignado demais naquele dia pra ainda ter que sofrer mais aquilo. Acabou então que uns três ou quatro funcionários da farmácia acabaram vindo rapidamente, me pegando na rua e me pondo dentro do estabelecimento. Quando viram que iam perder o cliente foram correndo tentar resolver...isso que é chato. Acabou que nem comprei nada lá não e segui meu caminho. Na volta, uma das moças ainda chegou a falar pra mim e pros outros ouvirem: “ Não tem que desistir das coisas não...”. Tá, eu concordo com ela, mas ficar insistindo quando tudo parece te dizer que você não é bem vindo, simplesmente CANSA.

=/
 

Postado por Antonio Bordallo às 6:53 AM

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