aproveitando a segunda chance

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quinta-feira, maio 17, 2007


Acho que estou perdendo essa guerra


“Acabei de acordar de um sonho. Meio que sem querer, ele me mostrou algumas coisas na dimensão que elas realmente são, o que me deixou alarmado.
Sonhei que estava no metrô, e tinha uma garota que me pareceu interessante, só que ela nem me dava bola. Minutos depois chega um cara e começa a dar um papo em outra garota que está a minha frente... e conquista. Tempos depois chega mais gente ao metrô e nisso aparecia uma amiga minha da época de colégio, que eu supunha que estivesse nos Estados Unidos. Ela se surpreende mais comigo do que eu com a presença dela: “Nossa, como você ta gordo, Antonio...” ela disse. Como resposta, declarei: “ É, acho que estou perdendo essa guerra...”.
Essa declaração, na verdade, condensou tudo que está realmente acontecendo. Não com a lente otimista do Antônio, mas visto do jeito que elas realmente são, em 3ª pessoa.
Isso tudo começa no despertar do dia. Acordar e constatar de primeira que não tenho uma perna é uma dificuldade que, apesar de acostumado depois desses 2 anos, soa como uma má noticia já pela manhã. Depois disso, abrir o olho e a primeira coisa que vejo é a cadeira de rodas encostada na minha cama é outra coisa bastante desestimulante, feia.
Monto então nesta que eu acabo de maldizer, me encaro no espelho que tem em meu quarto e vejo que não sou mais como era: mesmo tendo a certeza de que meu interior foi a parte que mais mudou, o meu exterior mudou e muito...pra pior. Normalmente as pessoas tem saudade de suas formas físicas da juventude quando chegam na meia-idade, na velhice. Já eu tenho o dissabor de sentir saudade da forma que tinha há dois anos somente... sempre tento quebrar esse ciclo vicioso de “ não me cuido porque ninguém repara em mim e ninguém me repara porque não me cuido”, mas mesmo me cuidando, as mulheres não reparam mesmo: vocês não sabem o quanto uma cadeira de rodas tira de atração de uma pessoa... parado, andando, correndo, em nenhuma posição você parece uma pessoa atraente. Parece um grande preconceito meu, mas é o que andei reparando, nesse tempo todo andando com ela e ainda mantendo o costume narciso de outrora de olhar minha figura num mínimo reflexo de vidro, e o que vejo não é tão legal quanto antes. Bem, eu conheço algumas cadeirantes que são mesmo muito bonitas e elegantes, mas tenho certeza de que elas sem a cadeira, andado, seriam ainda melhores... entendem o que eu digo? (é bom eu me explicar direito antes que me acusem de preconceito e etc...).
Continuo meio vaidoso, mas essa vaidade não é tão suficiente pra eu ser um cara que as pessoas olham com homem. Podem até olhar e pensar: ‘Nossa um homem tão bonito e forte... numa cadeira de rodas...” . Broxante isso,né? Pois é assim que eu sinto alguma mulheres olhando pra mim... me sinto um “zero-à-esquerda-sexual”. Posso meio que estar reclamado de atenção, mas tem sim pessoas que em tese se fazem interessadas sim, mas sei q fazem isso porque estão distantes, agüentar a situação de perto não é coisa que qualquer uma tá preparada, e nisso, é muito mais fácil optar por um um cara menos interessante que ande do que um Antônio que desfila em cadeira de rodas... O stress por estar do lado de um cara chato, nesse caso, é bem menor... por isso então eu criei uma metáfora pra essa situação que eu já estou cansado de passar. Me sinto como se estivesse numa corrida de carros e, mesmo sendo o piloto mais competente, mais apto a vencer, eu sempre sou passado pra trás por outros menos preparados pelo simples fatos deles conduzirem carros normais e eu pilotar um fusca... Não importa o quanto competente eu seja, já vi pelos resultados que sempre saio em desvantagem e fatalmente perco.
Voltando a “um dia na vida de Antônio”, depois de passar por tudo o que passo, eu ainda tenho a pachorra de ir à rua. Vocês todos lêem aqui que estou saindo na rua, indo a vários lugares, mas faço isso de abusado que sou. Vejo claramente que esses não são preparados pra mim, assim como nem as pessoas estão preparadas. Me sinto inconveniente, um ponto destoante que ninguém esperava que estivesse lá. Bonito isso pode parecer de primeira, mas passando por isso em primeira pessoa, soa meio como se eu fosse ridicularizado. Um estabelecimento não coloca rampas ou escadarias não é porque é “distraído”... na real ele faz isso porque ele não quer alguém com cadeira de rodas entrando lá e pronto. Não existe medida discriminatória mais discreta do que colocar degraus. Dessa forma, elegantemente, você está ponto um cartaz bem grande que diz “nesse estabelecimento (principalmente bares e boites) só são bem-vindas pessoas (supostamente) bonitas”. Em lugares normalmente destinados a idosos ou cadeirantes, esse vai sim ter uma rampa. Um estabelecimento ou outro pode se tocar e então fazer, mas nesses dois anos eu v lugar que prometeu colocar rampa e até hoje to esperando... não tenho mais nada mais a declarar sobre isso. Só me resta esperar que na entrada do Céu, São Pedro também barre esses caras pra antes terem um papo com a “Chefia”...
Sobre amigos, eu nem queria comentar, mas acho digno deixar algo registrado. É fato que muitos amigos, nem na época que estava andando, eu os via freqüentemente, e desses eu eximo toda a culpa, mas aqueles que, se não todo fim de semana a gente combinava de sair, pelo menos uma vez por mês nos víamos, posso dizer que fui abandonado mesmo. Dizer que não tem tempo e tal... beleza... nem eu tinha tempo naquela época, mas sempre dava pra se ver, mesmo que prum chopp. Poderia, claro, livrar a cara de um e de outro, se fosse coincidência demais que 95% das minhas amizades tivessem desaparecido. Depois nego aparece dizendo que ta com saudade, que não dava mais tempo de me ver.... enfim. Sei que foi de uma forma dolorida, mas tive o privilégio que poucos têm, de ver se aproximar os amigos de verdade e se afastar os que eram apenas de fachada. Triste isso? Principalemnte quando você tem um real sentimento de amizade pela pessoa, saber que não vai poder mais dar e pedir conselhos, se divertir, sair junto, contar com ela... é algo muito triste e que custa a se acostumar. Simplesmente acho todos eles ridículos quando penso em cada um, e desejo que sejam bem felizes todos sem exceção, mas LONGE de mim. A ´nica metáfora que eu tenho pra dizer pra eles é que “ a flor está murchando...e se ela morre, a culpa é do jardineiro”.


Pode parecer inveja, mas sei que não é.... meio que parte um pouco o coração ver que seus amigos vão pras boites, bares, raves... viajam, curtem uma praia, vivem nos “rolos” com uma paquera ou outra... e eu não. Me sinto com se estivesse vendo uma festa pela vitrine. Só não entrei ainda nesse tal de Second Life (pra quem ainda não conhece, é uma rede social besta que simula a vida real pelo computador) porque eu acho a idéia de viver baseado no mouse , teclado e monitor muito ridícula. Não quero brincar que estou curtindo a vida. Quero sim sentir a brisa do mar, o sol queimando minhas costas, a água revolta e salgada do mar, a movimentação das pessoas curtindo uma praia ou uma balada... sentir de novo aquilo que só quando a gente está apaixonado... quando eu escolhi por viver (naquele momento trágico), eu escolhi por viver ISSO que eu acabei de escrever e não o que estou vivendo.
Não bastasse todos esse problemas e ontem um dos médicos do HTo me diz que da forma que está, meu osso não vai crescer reto... que como alternativa a consolidar a tíbia meio envergada como está, só tem duas saídas: ou tento operar mais uma vez ( isso se o ortopedista QUISER me operar), ou então AMPUTAR ESSA PERNA ESQUERDA TAMBÉM... Não foi a primeira vez que me disseram que eu ia sofrer bem menos do que sofro hoje, que a recuperação seria mais rápida e prática... bom, por esse lado eu concordo, mas... seria esse um bom preço? Não sentir nunca mais cócegas no pé, não ter mais nenhum apoio, nem que este seja um tanto frágil... depender sempre de ajuda extra... sei lá, não estou pronto pra isso, se eu ao menos tivesse uma perna ainda sobrando, mas ficar sem as duas vai doer na alma, na dignidade. Estaria jogando aí esses dois anos de luta no lixo, pois 95% do que sofri até hoje foi por causa dessa perna, que pensam em serrar e jogar fora. Talvez agora vocês entendam o porquê de todo esse desabafo e o titulo do texto.

Sei lá, só quis anunciar ao mundo que eu, por mais esforços que ando fazendo, vejo claramente que estou perdendo essa guerra.
Sempre fui um sonhador, mas quando chega o momento que mais nenhum destes sonhos conseguem se realizar, é sinal que algo está no fim.
Às vezes eu mesmo me pergunto porque não deixei pra virar lembrança mesmo...à dois anos. Tirando minha a minha mãe, sei que seria mais fácil pra todo mundo, inclusive pra mim.”


O que foi tudo isso?
Uma mera reflexão ao despertar do dia...

PS: ao final de um dia de completo desabafo e incertezas, uma boa noticia...
Veja nesse link q tem até vídeo...
http://g1.globo.com/Noticias/Tecnologia/0,,MUL38367-6174,00.html
 

Postado por Antonio Bordallo às 9:40 PM

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