aproveitando a segunda chance

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quinta-feira, maio 03, 2007


Há dois anos


Há dois anos eu me lembro bem... tinha acordado num dia de sol forte, bonito... e aquela atmosfera calma, de esperança em dias melhores que rodeava deixava meus dias com um jeito realmente único. Em poucos dias eu ia decidir qual data eu ia embarcar pra Europa e realizar o sonho de uma vida inteira, que era tentar a sorte fora do Brasil. Me preocupava não somente com os trâmites necessários e o intelecto, mas também com o físico: queria chegar bem no Velho Continente. Vaidoso como sou, freqüentava há uns bons meses a academia e podia dizer que estava quase no ápice da minha forma física.
Como quase todos os dias, fui pra academia um pouco depois do meio-dia e então fiz minha série. Na hora de queimar calorias após o treino, em vez da monotonia abafada de uma bicicleta ergométrica dentro da academia, optei pela natureza de uma brisa ao ar livre. Destino? Lagoa Rodrigo de Freitas, pra uma ou duas voltinhas, dessa vez cruzando o Túnel Velho, que é bem pertinho da academia. Desci a rua e entrei no túnel com a cautela de sempre. Aqui a história acaba.

Daquele momento em diante, outra história começa. Terror, desespero e sofrimento, mas o personagem era o mesmo da trama anterior. E tudo isso com uns 2 minutos de diferença...

O que era a preparação para um sonho virou uma luta desesperada pela sobrevivência. Naquele asfalto escaldante, que era onde minhas costas já arranhadas se apoiavam, eu pedia ajuda. Implorava pra não ficar sozinho. Mesmo que eu morresse, não queria morrer sozinho, desamparado, sendo observado de longe por pessoas que me olhavam assustadas, ainda sem entender como aquele cara, que tava moído lá embaixo , ainda tinha forças e demorava pra morrer... Do meu ponto de vista eu não via dessa forma. Eu não enxergava minha perna quebrada como uma perna quebrada: eu via aquilo como a concretização da aniquilação dos meu sonhos... foi doído demais ver tanto empenho, tempo e dinheiro investido num sonho jazendo ali comigo.

O Antonio vaidoso que vocês conhecem, podia dar um “Stop” naquela hora e voltar a fita, tentando a sorte de novo em outra vida... mas talvez a curiosidade de ver como ia acabar esse filme me estimulou a continuar. Apesar disso ainda acredito na tese de que eu só não acabei minha história ali porque Deus viu que minha mãe ia encher muito o saco d’Ele se isso acontecesse: deixar a mim triste é uma coisa, entristecer minha mãe é algo bem diferente...

E assim segui, só pra ver aonde que esse filme acaba. O caminho pode ser árduo, mas o gostinho da vitória, se houver vitória, deve ser algo de único. Glória sem sofrimento não tem mesmo valor do que uma vitória sofrida, e já que eu tenho essa chance...vamos ver.

Eu sabia que o caminho não ia ser fácil, mas confesso que não sabia que era tão difícil... e apesar disso , ainda não me vejo nem na metade do caminho. A vida pra mim é como um corredor inclinado: ou eu faço força e vou pra frente, ou fico parado e cada vez mais vou sendo empurrado pra baixo...

A parte ruim do texto acabou aí em cima. O que de bom eu tenho pra contar é que nesse ano eu decidi comemorar... UMA CELEBRAÇÃO À VIDA! Não vou pensar na perna que perdi, mas na vida que eu reconquistei, no compromisso que eu reassumi com a vida de que eu quero SIM viver, e não apenas vivo porque Deus me desperta todas as manhãs pra “mais um diazinho chato”... é realmente um saco constatar toda vez ao acordar que não tenho uma perna, mas... o que eu posso fazer pra mudar o mundo e a minha vida até a hora de voltar pra cama? É pra isso que todo dia me levanto e pulo pra minha cadeira de rodas.

Nos últimos meses não postei nada aqui. Falta de vontade ou inspiração? Nada... falta de TEMPO mesmo... levei tão a serio o fato de querer me ocupar pra não sentir tanto o tempo passar que acabei praticamente sem tempo pra quase nada. A parte boa é que eu me senti tão produtivo e hiperativo como antes do acidente, ou seja, senti que ainda to vivão mesmo.
Se eu fazia o curso de guia turístico de manhã e fisioterapia à tarde, a partir do dia 1º de fevereiro minhas noites passaram a ser ocupadas também: consegui pelo Pro-Uni uma bolsa integral pra estudar Moda na Universidade Cândido Mendes! Um sonho realizado que estou me saindo muito bem. Adoro cada vez mais o que estou estudando, as colegas de turma me deram um novo ânimo no que se refere a convivência social... me sinto outro agora. Elas me fizeram ver que mesmo estando numa cadeira de rodas, eu posso sim ser uma companhia divertida, agradável, e isso é uma motivação a mais que em outros tempos eu não tinha. Nesses dois cursos, pelo fato das pessoas já terem me conhecido assim como estou, sinto mais sinceridade deles ao se aproximarem de mim, pois a maioria esmagadora dos que andava comigo antes do acidente sumiram. Se aproximaram muitos outros que eu nem esperava, e se houve uma fato positivo nisso tudo que vivi, foi o de ter visto claramente quem são meus amigos mesmo e quem apenas dizia da boca pra fora... um privilégio, nesse mundo superficial que vivemos...
O curso de guia também me proporcionou uma nova perspectiva: me mostrou que minha força de vontade era maior do que eu imaginava ter. Acreditava que ia fazer os tours de laboratório apenas quando estivesse andando, mas não tive medo e quase que sem querer, encarei TODAS as viagens... com muito planejamento, vontade e ajuda dos amigos, “conquistei cidades” como Petrópolis, Angra dos Reis, Parati (a mais difícil), Niterói e suas praias oceânicas, Cabo Frio, Búzios, São Paulo, Campos do Jordão e Aparecida do Norte... tá bom pra vocês? Depois de toda essa luta, faço o último city tour esse sábado, e depois posso me considerar o primeiro guia cadeirante formado no estado do Rio...

=D

As conquistas foram muitas, mas deixei uma luta de lado. Pra cumprir com todas as exigências dos cursos, acabei esquecendo um pouco minha recuperação, que a propósito, era a parte que menos esperança andou me dando: o osso não consolida, a prótese incomoda, fico sem energia pra fazer fisioterapia... enfim. Com o fim do curso de guia, vou concentrar todas minhas energias pra voltar a andar. Os cursos que faço e a nova convivência social que passei a ter , me mostraram de forma ainda mais explícita tudo que estou perdendo de curtir por não estar já andando, e isso foi estímulo suficiente...e quero é mais!

Muito conquistei de um ano pra cá, agora pretendo conquistar mais coisas ainda na metade do tempo...veremos!
Esse texto já ta meio longo... eu só queria dizer isso mesmo.

¡GRACIAS A LA VIDA!
=D





 

Postado por Antonio Bordallo às 9:03 PM

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