aproveitando a segunda chance

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terça-feira, agosto 22, 2006


Antonio vai às compras...sozinho!


Devo admitir que a cada dia que passa estou me sentindo cada vez ousado a fazer mais e mais coisas que antes não fazia. Minha filosofia de conduta agora é “se não dar pra fazer algo, vamos ver como que fica se a gente adaptar algumas coisas...” e estou tendo êxito nisso.

O desafio do dia foi ir ao banco e comprar alguma roupa pra mim sem a ajuda de ninguém, consegui superá-lo, não sem alguns acontecimentos bem interessantes que vou lhes contar.

A ida ao banco foi tranqüila. Passei por uma porta lateral àquela giratória que todo mundo odeia (e ninguém verificou se eu estava “armado com um celular” o não... viu que vantagem?) , depois tomei um elevador ao 2º. piso e resolvi tudo sem muito problema. Até digo que fiz uma certa questão de não pegar a fila especial para idosos ,gestantes e deficientes... ainda não consegui deixar de me constranger com isso, fora que também vocês não sabem o quanto aumenta a minha auto-estima saber que não preciso que os outros facilitem as coisas pra mim... a perna direita não está mais comigo, mas o resto do Antonio continua igualzinho...

Saindo do banco, segui pra uma loja de roupas (a C&A de Copa... depois eu cobro o merchandising...) comprar alguma calça pra mim, já que a única que eu tenho usado, por caber sem problemas a minha perna com o fixador, tem sido uma calça clara que apesar de bonita não agüento mais usar, lavar e reusar em seqüência...

No caminho pra lá sofri um susto: estava em uma velocidade regular, apesar de meio rápido, quando subitamente perco o controle da cadeira e rodo! O responsável por tal surpresa foi um mero encaixe de tampa de bueiro (aquele que se encaixa um arame ou pé-de-cabra para abri-lo...). A rodinha da frente da cadeira caiu lá fazendo-a perder totalmente o controle e rodar sob o eixo dessa roda que caiu. A sensação foi a mesma de se puxar o freio de mão em alta velocidade. QUE SUSTO...

Passado o susto e chegando na loja, grande foi minha surpresa ao constatar que toda a seção masculina tinha sido transferida para o... 2º andar! A Lei de Murphy tem andado pau-a-pau com a Lei da Gravidade hoje em dia... e lá fui eu. Só tinha aparente uma escada rolante e, já que o segurança do metrô tinha me dito que os cadeirantes as usam sem nenhum auxilio (insinuando então que eu era um medroso) resolvi tentar a sorte...se a dita cuja não fosse tão estreita (...olha a Lei de Murphy aí, geeeente!). Me restou então uma atendente me indicar o caminho do elevador de carga que, invariavelmente, é o lugar mais feio de uma loja bonita, podem estar certos disso.

Chegando no segundo piso, retorno ao setor com cara de loja, não sem antes manobrar por entre enormes araras de roupa, um trabalho de extrema perícia. Procuro as calças e dessa vez a compra de roupas não é mais como antigamente, é tudo na base da comparação com o que estou usando, então pra ver se não vai apertar minha cintura, retiro a calça e a estico em minha cintura, pra ver se a abertura da perna vai permitir passar meu fixador impunemente eu tenho que pegar a tal abertura e comparar com a da calça q eu vou usando, e assim vai... pior do que isso tudo é, depois de escolhidas as roupas, ter que dar um jeito pra carregá-las sem ocupar os braços, que servem agora pra mover a cadeira. Invariavelmente você acaba parecendo uma arvore de natal, com inúmeros itens pendurados e se equilibrando no seu colo... e qualquer movimento brusco você já sabe que vai tudo pro chão!

Já que ,apesar de bastante vacinado, ainda tenho alguma veia consumista dentro de mim, acabei então resolvendo comprar uma camisa que eu acabei simpatizando. Só que, como sempre, fiquei em dúvida entra o tamanho G e o GG, e essa dúvida cruel acabou me levando ao setor que eu evitara até então: o provador.

Não só parece, como é realmente impraticável você vestir uma calça no provador estando de cadeira de rodas como realmente o é. E por isso mesmo que já fui dizendo de cara: “olha só,vim aqui só provar a camisa mesmo, e as calas eu já vou levar...”. Não bastasse essa limitação, veio à tona outra: será que minha cadeira cabe inteira numa cabine de provador? Acabou que coube,mas no limite: não dava nem pra ficar de frente pro espelho, mas já dava pro gasto. Tirei roupa, provei, reprovei e segui...

Depois de me equilibrar até o caixa, chegou a hora de pagar...nesses lugares não existem filas especiais, talvez por que pessoas com problemas de acessibilidade nem ousem mesmo chegar em lugares assim (ao menos foi o que eu senti até então pelos olhares e insuficiências estruturais do local), e mesmo que houvesse fila, eu ia, como no banco, acabar querendo usar a fila regular mesmo...minha objeção foi apenas pensando nos outros...

Outra parte que me chamou atenção no momento do caixa foi que, depois de um tempo reparei que o rapaz que me atendeu tinha algum tipo de má formação óssea na mão, mas isso não comprometia em nada seu desempenho: estava lá me atendendo tranquilamente como os outros caixas do setor. Pode ter sido uma coincidência de nada,mas aquilo me provou mais uma vez que a limitação maior pode vir de nós mesmos. Se não olharmos algumas coisas como grandes obstáculos, elas realmente não serão. Mais difíceis que para uns outros? Talvez, mas nunca será impossível...

Passado o instante de reflexão, volto à dureza da realidade. Agora com um saco grande de roupas, como é que eu vou fazer pra carregar isso até chegar em casa? Já que a necessidade nos leva a sermos mais e mais criativos, eis que me ocorre então de encaixar a sacola entre minhas costas e o encosto da cadeira, fazendo a minha própria postura segurar tal volume, e assim fui...com mãos livres novamente para fazer ainda mais compras...

Rumei agora pra alguma drogaria, só que dessa vez não foi a de sempre. Eu sempre ia numa Drogaria Pacheco que tinha por aqui porque era mais perto, mas tinha um degrauzinho bem chato e também notava apesar de ver minha mão me ajudando, ninguém ia lá pra tentar poupar-lhe esforço. Resolvi por em prática o esquema da livre concorrência e optei por uma drogaria menor (chamada Pop) que fica há só mais 20 metros de distancia e tem rampa. As Drogarias Pacheco perderam mais um cliente, até porque aquela não é a única filial deles com sérios problemas de acesso...

A parte hilária desse episódio foi que , na entrada, provavelmente fazendo propaganda de algum produto anti-tabagismo, havia um homem-cigarro ambulante, que de fato dava um certo medo, misturado com uma vontade quase que imediata de rir... e o hilário foi que esse mesmo cigarrão se ofereceu pra me ajudar a subir melhor a rampa da entrada. Confesso que nunca vi um cigarro tão solícito em toda minha vida. Um exemplo pra todos o outros da classe, mas elegantemente recusei, até porque como que eu ia explicar que um cigarro me ajudou a subir uma rampa? Pra não virar lenda urbana, tirei discretamente uma foto do solidário enrolado de fumo...

Na seqüência segui para as Lojas Americanas (que a essa hora já deve estar me devendo uma boa grana de publicidade) pra comprar mais alguns produtos. Logo na entrada, perguntei a um atendente onde encontraria alguns produtos de limpeza. Ao avisar que era só no 2º piso, detectou imediatamente a necessidade de me levar ao elevador de carga pra eu chegar até lá. O que eu não esperava era que, num lugar tão bonito e organizado, o elevador de carga fosse tão amedrontador. Até pelo fato de que seu fechamento é manual, a descer, mover e girar vários dispositivos, ficar enclausurado naquele cenário estranho foi a experiência mais horripilante que tive nos últimos anos. Aconselharia o estabelecimento a oferecer passeios no mesmo como título de Trem Fantasma ou A Cabine do Terror... vão por mim, sala de tortura perde.
Mais cômico do que minha ida foi constatar que eles não tinham nada do que eu estava procurando e, por isso, eu ainda ia fazer uma viagem extra no “elevador fantasma” a troco de nada... mas não sem, no 1º piso, comprar algumas besteirinhas pra compensar.

Saí de lá com dificuldades reais pra me locomover, mas por causa do grande volume já somado àquela hora. A dificuldade era tanto que, a poucos metros da minha casa, alguém subitamente toma o controle da minha cadeira sem me perguntar nada e foi me empurrando... À essa hora eu já estava todo sem jeito, agradecendo a boa vontade, mas que não precisava tanta ajuda, que eu morava logo ali e tal...
E então a pessoa pára e quando vejo é a Renata, uma grande amiga que apesar de nos gostarmos muito , raramente nos vemos e sempre en passant. Foi uma ótima surpresa, até porque , ali mesmo na rua resolvemos colocar os papos em dia, saber das novidades de cada um... foi ótimo. Uma grande premiação final depois de uma corrida dessas.
=D

Restou ainda relatar o acontecido na portaria, já que dessa vez o porteiro estava,mas tive que declarar “excesso de bagagem” e por isso o que não era Antonio ou cadeira de rodas, teve que subir em separado,hehehe...

A chegada em casa teve um certo empecilho, pois o peso ou a falta de jeito de se locomover estava tão grande que restou a mim gritar pela minha mãe pra ela abrir a porta e me ajudar a “desatolar” daquele buraco entre o elevador e o andar...

O momento que me refiro é este aqui da foto:


Como um extra tem essa foto aqui também:


Mais um dia , mais um desafio , mais uma superação... e assim vou: melhor que ontem, pior que amanhã...
=) Posted by Picasa
 

Postado por Antonio Bordallo às 2:20 PM

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