aproveitando a segunda chance

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sexta-feira, agosto 25, 2006


Mais desafios, mais compensações, mais liberdade


Mais um dia movido pela audácia. Quis sair hoje, e cheguei a ponto de inventar desculpas pra isso. Me sinto como uma criança mais crescida que, descobrindo que já pode ir pra rua e fazer quase tudo que quiser, cria qualquer motivo pra poder estar em contato, interagindo com o mundo exterior. Uma das coisas que me motivaram a sair de casa e encarar o mundo tal qual ele se encontra foi quando eu parei pra pensar e senti que o mundo girava, mas eu não saía do lugar. Estou um tanto pra trás agora, mas pegando o embalo eu acabo alcançando vocês...

Resolvi voltar ao centro hoje. Lá sempre tem algo pra ver e por estar muito tempo sem passar por todas aquelas sub-regiões do centro eu preciso ir lá algumas vezes, já que longos trechos ainda são impossíveis e cada esforço extra se reflete em mais calos e dores na minhas mãos. Dessa vez fui pra área que vende artigos de informática, no Largo da Carioca.Fui de metrô com minha mãe, só que ela ficou comigo até a estação de Botafogo e de lá seguiu seu rumo.

Chego a estação Carioca. Noto que não há elevador ou facilidade alguma para cadeirante. Meu senso prático e criativo, que só é ativado em casos de extrema necessidade, resolve então pôr em prática algo nunca antes tentado, mas que se executado de forma errada podia ter conseqüências desastrosas: subir sozinho de escada rolante.

Eu sempre ouvia os seguranças do metrô dizerem que os cadeirantes sobem tal escada sozinhos, mas eu nunca entendia como que eles tinham braço pra segurar firme aquela lateral de borracha lisa. Tive que entender na marra, já que ninguém ouvia meus apelos lá de baixo...
Minha incerteza aumentou quando, do nada, a escada parou, e algum tempo depois retomou o funcionamento. Parecia alguma rotina automática, como se ela somente funcionasse quando os vagões do metrô desembarcavam passageiros e parassem enquanto não havia trem na estação. Medo... e agora? E se eu estiver no meio do caminho e a escada parar? E se eu não agüentar segurar meu peso lá do alto e despencar? E se ninguém conseguir ouvir meus gritos de socorro? Eu tava sozinho, e só ia descobrir o que o que ia acontecer se eu me desse a chance de encarar tal desafio. Respirei fundo, me agarrei firme e FUI!

Digo a vocês que a situação é tensa. Minha segurança e integridade física dependendo tão somente da força de meus braços e da incerta aderência do trilho de borracha. Cheguei a olhar pra trás pra sentir o tamanho da encrenca que tinha aceitado encarar...mas consegui. Com um certo tropeço no final, mas já me deu a manha pra ficar esperto da próxima vez. Não dá pra marcar bobeira com uma escada rolante.

Cheguei ao nível superior, agora era seguir o caminho...mas como? À minha frente tinha apenas algumas catracas de saída e uma grade, mas nenhum segurança...fiquei assobiando discretamente pra alguém prestar atenção e tomar alguma providência, mas nada. As pessoas olhavam, mas me ignoravam com um egoísmo metropolitano. Solidariedade? Nada... a agenda deles não permite isso. Minhas preces só foram ouvidas quando outro simpático cadeirante passou e então eu o pedi encarecidamente pra, se encontrar algum segurança, fazer o favor de “compartilhá-lo” comigo. Mais um tempinho e lá aparecia o requisitado cavalheiro.
Ele chegou a perguntar se eu queria alguma ajuda na segunda escada rolante, mas eu preferi praticar mais uma vez, sob minha conta e risco.
As pessoas à minha frente observavam meio abismadas com minha força. Seja a força física, seja a força de vontade, ambas estavam sendo requisitadas em caráter especial naquela hora. E lá chegava eu ao nível da rua. Desafio proposto, desafio superado. Que venha o próximo!

Sobre o passeio no centro eu não tenho muito o que dizer, por ser um trajeto como o de uma pessoa normal, com a diferença apenas de que pra me locomover usava , e muito, os meus braços... a volta sim é que reservava muitas coisas.

O caminho de volta pra casa me reservava, como conseqüência natural, o desafio de agora descer as tais escadas rolantes que eu subi, mas achei que fosse desafio demais prum dia só. Deixa eu pegar a manha de subir que então apronto a loucura de descer também...

Chego em Copacabana e resolvo fazer um caminho diferente. Não estava com o tempo contado e sentia saudade de passear pelas ruas da minha área, ver gente circulando...o mundo girando, propriamente dito.
Logo na esquina, esperando o sinal abrir, um amigo dos tempos de colégio, o Cristiano, me reconhece e vai falar comigo. Mais coincidente foi que ele ia justo pra casa de outro grande amigo que mora lá perto, o Bernardo. Ele chegou a me dar idéia de ir acompanhá-lo na tal visita, mas a incerteza da acessibilidade do prédio me fez recusar... muito chato isso: agora eu não posso visitar meus amigos sem saber se o prédio deles permite ou não meu acesso...bateu uma indignaçãozinha no fundo...
=/

Segui meu rumo, pois ainda havia muita coisa a se explorar... desci a rua Siqueira Campos e metros mais a frente vejo a loja de Hortifruti. Quanto tempo que eu não voltava lá! Era o local que eu mais gostava de fazer compras porque eu sentia que aquele era um dos meus hábitos mais saudáveis, o que atestava a mim mesmo que não é porque eu sou um ser urbano que eu só como junk food. Aquele cheiro de fruta fresca que impregna o ar... chegou minha vez de voltar a viver como mais um ser normal da vizinhança. Peguei dois gomos de tangerina que eles deixam lá separado justo pra pessoa provar, e aqueles dois gomos tiveram mais sabor do que todas as tangerinas que eu provei desde maio de 2005 juntas. Ela tinha gosto de liberdade, liberdade de escolha. Eu não mandei ninguém buscar algumas tangerinas pra mim. Fui eu mesmo lá, olhei e escolhi os dois gomos que mais me apeteceram. Gomos de tangerina tão simples e marcantes...e olha que essa não é minha fruta predileta. A LIBERDADE sim, que é minha fruta predileta.

Mais ao fundo no tal estabelecimento cheguei ao setor de sucos, onde você paga lá mesmo e eles te dão um copo de suco que tá sendo feito lá na hora. Mais uma vez eu exaltava aquela liberdade de poder ver o que havia disponível e, pelo seu instinto do momento, escolher um sabor ou outro. É realmente muito chato você ficar em casa e ter que determinar o que você vai querer comprar sem ver a cara de nada, sem poder sentir o que está mais bonito num dia, qual fruta está exalando o melhor cheiro... essas coisas só entende que faz pedidos de compras por telefone. Ao vivo pude pedir uma provinha de cada suco pra poder decidir qual eu estaria mais afim de tomar naquela hora...até dessa provinha, com ares de “quero provar todos os sabores” eu sentia falta...

Continuei meu rumo depois pela rua Hilário de Gouveia... e eis que finalmente chego à avenida Atlântica (a rua da praia). Ahhhh.... parei imediatamente minha cadeira, dei uma respirada bem funda e me espreguicei diante daquela vista que meio que representava minha liberdade. Eu me sentia do tamanho daquela praia, uma pessoa forte que, com a força de seus braços e calos de suas mãos chegou sozinho à aquele lugar onde ainda se pode ver uma paisagem pouco modificada pelo homem. A praia, a fuga de todo homem desse modo de vida urbano que nos consome... Foi um momento de contemplação e autoreconhecimento do esforço. Eu sabia que um dia eu mereceria ser capaz de voltar a ir à praia sem precisar de ninguém.

Minha presença no calçadão despertou olhares impressionados... pareciam admirar minha força de vontade de estar ali sem ninguém me empurrando ou auxiliando. Alguns olhares desses chegam a compensar algumas dezenas de olhares de espanto ou pena que venho recebendo até então...
Cheguei a um quiosque, escolhi a mesa onde eu pudesse ficar mais contemplativo à natureza e assim o fiz... Fiquei sem pressa lá...esticando minha perna, observando o movimento das pessoas, a leve deselegância ingênua das gringas que tanto gosto de observar, os comentários bem humorados que os trabalhadores do quiosque fazem entre si... a vida me sorria um pouquinho.

Voltei pra casa de alma lavada. Os calos das mãos ainda me doíam um pouco, mas aquela dor valia a pena. Já tinha sofrido muita dor até então. E nenhuma delas havia me dado a paz e deleite que essa dor me proporcionara.

Ao chegar na portaria, nenhuma coincidência mais fantástica do que minha mãe aparecer chegando na portaria naquele mesmo momento. Pra quem via, saímos juntos e voltamos juntos. No fundo no fundo, ela estava do meu lado, o tempo todo.

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Postado por Antonio Bordallo às 8:04 PM

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