aproveitando a segunda chance

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quarta-feira, agosto 30, 2006


A prova do ENEM e outras reflexões


Havia chegado o dia. Esse ano eu não pude tentar uma bolsa de estudos através do Pro-Uni (programa do governo que libera bolsas de estudo para a população carente em geral) porque só era possível se eu tivesse feito o exame do Enem. Como “na minha época” tal exame não tinha tanta importância e pra ter feito o teste do ano passado eu teria que ter me inscrito em abril (ou seja, antes do meu acidente), só me restou me programar pra fazê-lo esse ano mesmo...

O prova então foi marcada pra esse último domingo no campus da Universidade Santa Ursula, entre Botafogo e Laranjeiras.As complicações já se instalavam desde o início, pois meu psicólogo, que conhece o local, havia me dito que tal prédio que eles haviam determinado pra eu fazer a prova não tinha acesso tão fácil, talvez num lado não aparente. Liguei pra lá dias antes e avisaram que a universidade não podia fazer nada, que eu reclamasse com o Enem. Enfim, na altura do campeonato era mais fácil eles me deixarem fazer a prova ao ar livre do que mudar o local da mesma...

Acordei cedo. Umas 7 horas já estava de pé. Não sei se era tensão ou vontade de me livrar logo desse problema de provas. Nunca gostei de provas, pois o nervosismo de ter que provar todo meu conteúdo acerca de um assunto tem que ser determinado com hora marcada sempre alterava o resultado final, e sem considerar as “condições de temperatura e pressão”... resultado : em todas provas acabo mostrando menos o que sei. Mesmo assim deixei de lado a angústia e concluí mais um simulado do Enem doas que andei fazendo por conta própria e conseguia uma media de acertos entre 75 e 86%... bom ,mas podia ser melhor.

Segui pra prova de táxi e logo na entrada dois grandes desafios: abrir caminho de carro entre a multidão de outros estudantes e fazer isso numa ladeira íngreme contando que o carro é de motor 1.0 e à gás... A multidão olhava pra dentro do carro e achava que eu era VIP por estar indo de carro. Antes fosse...

Subimos até o final do prédio e não vimos lugar plano suficiente pra embarcar. Tempos depois vimos que a única forma era uma entradinha que tinha no meio da rampa íngreme. Como sair do carro sem parar lá embaixo é que era o problema.

Chamamos um moço que trabalha na instituição pra ajudar, pois o lugar era muito ruim de manobrar e só daria pra chegar dando a volta no carro, numa rampa que nem freio nem braço seriam suficientes pra anular a força da gravidade sobre a cadeira de rodas. Pela primeira vez nesses tempos de cadeirante eu sentia o medo real de um possível desastre. Era só um não agüentar a força ou a cadeira escorregar, que só daria pra me catar lá embaixo, uns 100 metros a frente.

Com muita cautela o dois moços seguraram minha cadeira e foram empurrando até o lugar plano. Que medo! Pretendo não voltar mais lá nessa condição.

Uma vez no prédio, me restou chegar ao 6º andar. Considerem que em dia de prova outras centenas de pessoas pretendem o mesmo, e disponibilizando apenas quatro elevadores... Essas horas que eu tenho direito a privilégios é a que me sinto mais constrangido. Por eu ainda me enxergar como um deles me sinto com o dever de esperar a vez no elevador como outro qualquer, mas sempre vem alguém e me coloca logo no elevador!

Chegando na sala da prova, uma sensação nova. Pela primeira vez depois do acidente eu me vejo numa sala de aula. Um ambiente como o de um trabalho, de convivência quase que diária, sem necessariamente gostar das pessoas ao redor. Um simulacro da vida cotidiana que há muito eu não vivia. Claro que era apenas pra aquele dia de prova, mas pra mim já era um bom “trailer” do que pode acontecer num futuro breve. E eu tinha que ver como que eu reagiria, a ficar até 5 horas no mesmo lugar...

Logo no início houve um problema de ergonomia. Como sabemos, a cadeira pra se fazer prova tem um suporte lateral pra gente colocar a prova ou livro e escrever, mas minha cadeira não. Como então eu escreveria? A única solução disponível foi colocar uma dessas cadeiras virada de frente pra mim, mais pro lado direito. Pronto, já tinha um suporte. O único problema era que tal suporte em vez de ficar angulado de frente pra mim, ficava justo o contrario. Na prática era como se eu estivesse lendo a prova na mesma perspectiva dos textos do Star Wars, que diminuíam o quanto mais alto ficavam. Tentem ler um texto dessa forma por mais de 3 horas...

Começa a prova. Pra minha infelicidade tal prova pareceu bem mais difícil do que todos os 6 simulados que havia feito até então. Se fosse isso apenas até dava pra improvisar, mas o quadro se agravou com uma gripe ou resfriado que resolveu chegar com tudo na hora que começou a prova. Espirros, coriza, nariz entupindo... tudo o que eu não precisava naquele momento dividia agora a atenção entre cálculos e interpretações de textos e gráficos...
Outra coisa que mal ou bem contribuiu pro meu mal estar foi o fato de ter que ficar por varias horas parado, tenso no mesmo local. Resolver dar um passeio ou uma esticada maior nos músculos poderia ser penalizado com a perda da prova. Mas era sim uma situação que muito me incomodava. Por um momento eu senti que ainda não era hora pra me prestar a tamanho “esforço físico” de ficar parado, mas depois considerei que uma aula de faculdade normalmente tem uma hora e meia, além de eu poder interagir com o professor durante a aula.

Acabo a prova sentindo que esta não provou nada do meu conhecimento. Mas saio de lá ciente de que fiz o que pude, na condição que era possível no momento, e que me preocupar ou ficar triste não vai me dar mais pontos na prova. Meu desafio naquela hora era sair de lá, então tive que pedir a um encarregado que trabalha lá na universidade pra me conseguir um táxi láaaaa embaixo... quase 15 minutos depois eis que surge o veículo.
Aproveitei o ócio e tirei umas fotos como essas abaixo:




A foto do local é a parte de onde eu tinha que entrar no táxi, no meio da rampa...

Segui pra casa, mas minha vontade real era de relaxar depois de 3 semanas tensas de estudos. Resolvi então parar na sorveteria e comprar um tijolinho de sorvete, meio pistache, meio chocomenta. Se quiserem ver o Antonio feliz, me dêem sorvete!
=)

Enquanto esperava a moça da sorveteria colocar as duas maravilhas no isopor, um casal de velhinhos se dirigiu a palavra a mim perguntando se eu falava inglês. Uma vez afirmado, eles me perguntaram como foi que eu fiquei assim e então contei-lhes que foi de acidente de trânsito. Eles então me contaram que observaram muitas pessoas nesse estado assim como eu na cidade e por isso eu disse que é tudo porque algumas pessoas no Brasil dirigem muito mal. Eles então me contaram que na cidade onde moram (New York/ New Jersey) as pessoas também dirigem como loucas, mas não se vê muitas gente assim como eu na rua. Diante de tal dado, só nos restou então concluir que a diferença de uma metrópole pra outra seria justamente o fato de aqui haver impunidade e lá não. Pensemos bem: o motorista que sem mais nem menos pegou o ônibus e jogou em cima de mim, no mesmo dia voltou pra casa na boa. Nem chegou a se preocupar se ia ser preso ou não, e de fato nem vai ser. Já eu não. Nessa mesma noite fiquei entre a vida e a morte, e estou até hoje sem poder andar. Talvez esse contraste de situações ilustre melhor o que chamamos de impunidade no transito.

Depois desse enriquecedor papo, fui pra casa carregando meu “pote de ouro verde gelado”. Já eram quase 7 horas e o porteiro não estava mais lá. O boteco ao lado cheio de gente já no grau me desestimulou de pedir ajuda. Resolvi encarar as escadas me arrastando, dessa vez sem o mesmo sentimento de indignação que eu tinha normalmente. Dessa vez preferi acreditar que se arrastar é a melhor forma de se dar valor ao chão onde a gente pisa. E assim fui, me arrastando lentamente, sem reclamar de estar sujando as mãos ou a calça... sem reclamar da chance que ainda tenho.

Chego em casa e depois de uma boa e merecida sessão de descanso e sorvete, resolvo checar o resultado da parte objetiva da prova. Entre chutes certos e erros por falta de atenção maior (não preciso nem dizer o possível culpado), somo o equivalente a 69% de acertos. Muito abaixo da minha média dos simulados, mas ainda uma nota suficiente pra se conseguir algo. Ainda falta a nota da redação, que eu sei que não fui tão mal assim. Tirando 9.9 ou 6.9, o que foi e vai ser determinante pra mim está baseado na boa vontade dos pontífices da PUC para com minha nota e minha condição. Rezemos. Posted by Picasa
 

Postado por Antonio Bordallo às 7:04 AM

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